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Futuro do sexo e da sexualidade: as fantasias são digitalizadas

Nada será como antes: a tecnologia está provocando a revolução no futuro do sexo e da sexualidade

CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro

A tecnologia entra com tudo para parir a nova revolução da sexualidade. Agora, no cenário da potência tecnológica, as novidades do mercado de consumo praticamente dispensam a necessidade de contato humano. Qualquer pessoas tem infinitas alternativas de satisfação das descargas energéticas do corpo e da alma.

Combine inteligência artificial, realidade virtual ou mista, novos materiais bio e nanotecnológicos e brinquedos físicos comandados remotamente para praticar o hedonismo, a filosofia de vida que defende a busca por prazer como finalidade da vida humana. Pessoas que passaram a vida com segredos escondidos em armários mentais poderão concretizar as fantasias. Com o repertório de ferramentas disponíveis, o maior desafio será formular a pergunta ou imaginar histórias para obter a solução de todos os seus problemas. Todas as fantasias estarão na rede, com a simulação de ambientes e de situações.

Há possibilidades impensáveis para as gerações que viveram a revolução sexual iniciada nos anos 1960, com os hippies e movimentos feministas. Na era da tecnologia, a virtualização é, de fato, uma força de peso da mudança da teoria e da prática das relações.

A indústria do entretenimento sexual, normalmente antecipadora de tendências, já está em plena atividade, com os seus vídeos em terceira dimensão. A qualidade de vídeo aprimorada da IA ​​melhorou as experiências de visualização de entretenimento adulto de todos, proporcionando-nos um nível sem precedentes de imersão erótica.

Espaço virtual: o que já pode ser acessado

Entre algumas das possibilidades colocadas à disposição de todas as demandas, de onanistas até viciados e curiosos, a inteligência artificial oferece desde experiências eróticas personalizadas em realidades virtual, aumentada ou mista até “assistentes” — chatbots ou sexbots — sexualmente provocativos. As atrações são muito mais potentes e variadas. E a criatividade dos desenvolvedores nem precisa de estimulantes.

Matéria produzida pelo site Future of Sex revela a existência, já agora, de clubes virtuais e espaços de festa frequentadas por gente de todos os lugares e preferências. São ambientes digitais onde as pessoas podem conhecer, cumprimentar e interagir com pessoas que compartilham interesses semelhantes. Por isso, a sua prima assumiu recentemente a bissexualidade e rompeu com velhos fantasmas repressores.

Agora mesmo, o seu vizinho recluso e tímido pode estar vivendo uma aventura com uma mulher japonesa ou francesa, colocando em prática o conceito de realidade mista — o uso de um brinquedo físico inserido em um cenário virtual, por exemplo. Ele aproveita a disponibilidade de bonecas sexuais realistas, em tamanho real e materiais “realistas”.

“Qualquer pessoa pode visitar uma masmorra online ou um clube virtual, encontrar amigos e colegas de brincadeira e talvez ter um desejo sexual específico satisfeito”, exemplifica a publicação. Tudo isso enquanto desfruta da segurança e do relativo anonimato do ciberespaço. Até mesmo os mais tímidos poderão viver tempos de aventuras.

Sexbots: o papel da inteligência artificial

Com a ascensão da IA ​​e o desenvolvimento de companheiros artificiais cada vez mais sofisticados, é fácil especular que as experiências íntimas e sexuais poderão algum dia ser totalmente substituídas pela tecnologia.

“Precisamos nos preocupar com isso ou as interações sexuais serão melhores do que nunca?”, questiona Karley Sciortino em matéria publicada no site Future of Sex. No relatório “A ascensão dos robossexuais”, o futurista Ian Pearson sugere que o sexo em realidade virtual será muito comum em 2030, e aproximadamente 20 anos mais tarde, muitas pessoas farão sexo com companheiros totalmente autônomos. Para ele, o sexo robótico vai gerar mais benefícios do que estragos para as relações.

De acordo com Simon Dube, especialista em sexualidade humana, tecnologia sexual e e robótica, “novas possibilidades para humanos, com relacionamentos entre robôs estão surgindo. É uma terra ainda desconhecida, a ser desbravada enquanto as empresas experimentam e comercializam novos tipos de “experiências”.

Para o pesquisador, “companheiros artificiais não tratam apenas de sexo, mas do que os humanos desejam de seus relacionamentos, de seus parceiros e de si mesmos. Os robôs sexuais são um reflexo dos desejos, fantasias e necessidades humanas, bem como uma fonte de prazer, companheirismo e conforto.”

Alternativas ou substitutos realistas?

Produto da interseção entre IA, robótica e o desejo humano por experiências mais íntimas e satisfatórias, os sexbots produzidos por empresas como a Aitech e  Sinthetics estão continuamente desenvolvendo modelos cada vez mais realistas.

Enquanto isso, outros fabricantes estão equipando seus produtos com sensores, permitindo que eles respondam ao toque e também a instruções verbais. O projeto Realbotix, por exemplo, agora está vendendo um componente equipado com inteligência artificial que pode ser anexado ao corpo da boneca sexual RealDoll. Eles também desenvolveram o aplicativo RealDollX, que permite criar uma personalidade que pode ser integrada à cabeça Harmony.

Vantagens e desvantagens

Karley Sciortino assinala que à medida que nos aprofundamos na possibilidade de um mundo sem interações sexuais físicas, vale a pena considerar as vantagens e desvantagens dos companheiros artificiais. Em relação aos prós, a personalização pode ser uma das principais vantagens. Além disso, os sexbots, especialmente para aqueles que podem ter sofrido traumas ou ter necessidades específicas de deficiência, podem oferecer uma forma segura e sem julgamentos de satisfazer as suas necessidades sexuais.

Do outro lado da moeda, talvez tenhamos que lidar com a objetificação. A criação e utilização de robôs sexuais pode fazer com que as mulheres e outros grupos oprimidos se sintam ainda mais objetificados e desumanizados.

Aimee van Wynsberghe, codiretora da Foundation for Responsible Robotics, argumenta que os sexbots podem fazer exatamente o oposto. “Você poderia pensar em pessoas que se sentem desconfortáveis ​​em ir a uma prostituta porque estão colocando outro ser humano nessa posição desejável para eles”, pondera a pesquisadora

Da mesma forma, o Dr. David Levy, pesquisador de inteligência artificial e autor de Love and Sex with Robots, argumenta no livro que “ companheiros adultos artificiais podem promover o apego emocional em vez do desapego e podem complementar e enriquecer as relações entre humanos.”

O debate vai longe. Para Levy, “os acompanhantes adultos artificiais são projetados para fornecer companheirismo, intimidade e apoio aos seus usuários, que de outra forma poderiam se sentir solitários, isolados ou rejeitados. Acompanhantes adultos artificiais podem ajudar os usuários a lidar com o estresse, a ansiedade, a depressão ou o trauma, oferecendo um espaço seguro e sem julgamento para expressar seus sentimentos e necessidades.”

O papel da conexão humana e da intimidade emocional

Também estamos no meio de uma enorme revolução sextech, como a crescente popularidade dos jogos eróticos de realidade virtual. Poderia ser ainda melhor quando a tecnologia háptica se tornasse popular, permitindo-nos desfrutar de sexo físico remoto, de longa distância ou de experiências sexuais totalmente envolventes.

Olhando mais adiante, poderá chegar um momento em que hologramas ou interfaces cérebro-cérebro, que também poderiam estimular diretamente os centros de prazer do nosso cérebro, se tornem a norma.

Embora muitas dessas inovações ainda estejam muito distantes, o surgimento de uma nova identidade sexual baseada no digital, a digissexualidade, mostra quanta tecnologia também está acrescentando aos nossos desejos e à nossa vida sexual.

“Muitas pessoas descobrirão que seus encontros com companheiros artificiais se tornarão fundamentais para sua identidade sexual e alguns passarão a preferi-los a encontros sexuais diretos com humanos” Professora Wendy Moyle Diretora do Programa de Prática de Saúde e Programa de Sobrevivência do Menzies Health Institute, disse à NBC News,

Também há a comunidade iDollator, uma subcultura crescente de pessoas que desenvolvem conexões emocionais profundas com seus parceiros sintéticos.

A tecnologia já está mudando a forma como as pessoas têm interações sexuais físicas, por isso é apenas uma questão de tempo até que vejamos sexbots capazes de utilizar inteligência artificial e outras tecnologias para nos proporcionar experiências sexuais nunca antes vistas.

Em resumo

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