Vincular educação a trabalho deve ser uma prioridade do sistema de ensino
Wanda Camargo
Educadora
Ainda permanece viva em algumas mentes uma concepção extraordinariamente elitista que desvincula a Educação das atividades laborais, entendendo que aquela deveria ser voltada exclusivamente aos valores da cidadania, à compreensão pelo educando do mundo e de si mesmo, em detrimento de formação para o trabalho.
Cidadania e autoconhecimento são indispensáveis à vida plena, mas estar preparado para exercer uma profissão com dignidade e competência não é menos importante.
Embora não se pense geralmente nisso, o ideal de uma “academia acima das preocupações burguesas e do interesse das corporações” nada mais é do que o reflexo de uma nostalgia de aristocracia, o mundo idealizado da Atenas do século 5 a.C., em que alguns milhares de cidadãos filosofavam e trezentos mil escravos labutavam. É fato que esses cidadãos produziram o pensamento que embasa a nossa própria civilização, mas ao custo de uma injustiça social absurda.
Na antiguidade as classes dirigentes dedicavam-se à política, às artes e à guerra; as outras atividades eram desprezadas, praticadas por servos e pessoas com poucos direitos e reconhecimento, ainda que toda a sociedade desmoronasse sem os frutos de seu trabalho.
Com a evolução dos processos de manufatura, as profissões eram aprendidas em família e, posteriormente nas corporações de ofícios, as guildas, as quais ordenavam a produção com rígida hierarquia, tendo os artesãos mestres no topo, seguidos pelos oficiais e, finalmente, os aprendizes, de certa forma, equivalentes a estudantes. Se fossem aceitos pelos mestres, os aprendizes trabalhariam vários anos em troca apenas de comida e abrigo e, mais importante, de conhecimento; ao final deste período prestariam exames para serem aceitos pela corporação, quando passariam a ser oficiais, profissionais formados, alguns poucos chegavam a mestres.
É ao sistema educacional que compete hoje não apenas o desenvolvimento de lideranças políticas e militares, mas também, e principalmente, a inserção dos indivíduos nos preceitos produtivos, havendo, portanto, forte inter-relacionamento entre o que denominamos educação geral e educação profissional. Embora esta última seja sentida com maior ênfase no ensino superior, este processo tem início já no ensino fundamental, pois a intensidade da globalização instituiu novas relações econômicas, culturais, políticas e sociais, exigindo trabalhadores providos de uma escolarização básica que os habilite intelectualmente para a complexidade crescente do sistema produtivo.
É o sistema educativo, principalmente após a revolução industrial, que tem tido papel fundamental na formação de cidadãos cientes aos seus deveres e direitos, assim como no desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
Segundo pesquisadores, a sociedade da informação exige do perfil profissional algumas habilidades: as cognitivas, envolvendo conhecimentos gerais, capacidade de resolução de problemas, raciocínio lógico e possibilidade de abstração, preferencialmente com criatividade e juízo crítico; domínios técnicos especializados, como familiaridade com computadores e um pouco de conhecimento de línguas estrangeiras; comportamentos adequados para o trabalho em grupo e vida comunitária, como solidariedade, cooperação, responsabilidade, disciplina, um bom senso ético e disposição para novas aprendizagens.
A competitividade do mercado, seja ele nacional ou mesmo regional, tem estado na dependência das organizações produzirem e incorporarem inovações, uma escolarização adequada e competente é o facilitador tanto do amadurecimento pessoal quanto da obtenção do perfil multiprofissional, indispensáveis para a ação nas situações de imprevisibilidade que todas as instituições hoje enfrentam.
Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br
Educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil
Fonte: site BemParaná – www.bemparana.com.br