Carlos Teixeira
Editor I Radar do Futuro
A economia mostra sinais de estar reagindo pelo lado do consumo das famílias. Elas aproveitam, agora, a inflação e os juros mais baixos, recuperação financeira por conta da renegociação de dívidas, um relativo aumento da renda e do emprego – ainda que informal. O cenário delimitado pelo economista Paulo Roberto Bretas, presidente do Conselho Regional de Economistas em Minas Gerais (Corecon-MG) e professor universitário, pode ser definido como otimista. Mas é necessário entender os dados com a moderação de quem analisa o momento com olhar mais crítico do que a média das fontes tradicionais da imprensa de massa.
Há, na percepção de economistas, mesmos os opositores à atual política econômica do super ministro Paulo Guedes, indicadores positivos sobre o desempenho da economia. É o que também dizem as expectativas de empresários, de gestores de carteiras de investimentos e de segmentos sociais que apoiam incondicionalmente o presidente Jair Bolsonaro. As variáveis favoráveis destacadas pelos grupos incluem a reposição de estoques pelas empresas e a ampliação da Formação Bruta de Capital, indicador de disposição dos empresários em realizar investimentos.
“Vemos que o agronegócio continua crescendo e a indústria da construção civil dá sinais claros de recuperação do setor imobiliário, atesta Paulo Bretas. Segundo ele, há, de fato, problemas na indústria de transformação, mas a indústria automobilística vem crescendo devido à reação do mercado interno. No que se refere ao setor extrativo e petróleo/gás há também sinais de crescimento no volume e na receita.
Desafios
Prudência e caldo de galinha devem ser levados em conta. O economista e professor alerta para a necessidade de manter atenção sobre possíveis tempestades, capazes de provocar o descarrilhamento do trem dirigido pela atual equipe econômica. “‘No setor externo, a crise das relações comerciais entre EUA e China pode prejudicar o comércio exterior de todos os países”, exemplifica Paulo Bretas. “O maior perigo vem de fora. O protecionismo crescente e a crise da Argentina nos afetam.”
O ambiente externo tende a gerar alguns dos principais riscos e instabilidades em 2020 nos próximos anos. Eleições nos Estados Unidos, com o atual presidente pressionado por um pedido de impeachment, tendem a ser um acontecimento com poder de geração de instabilidades. O jogo será feio, com republicanos e democratas dando chances para movimentos especulativos de âmbito global. Inclusive, porque tende ocorrer a expansão das crises de relacionamento do país com a China. Mobilizações populares em vários países formam um caldo que pode azedar todo o ambiente global.
Bretas salienta que, na coluna das variáveis desfavoráveis para a economia brasileira, o crescente déficit em contas correntes, que não pode manter a tendência continuamente sob riscos de produzir desvalorização do real e uma possível desconfiança do mercado. Contas deficitárias tendem a reforçar processos de desgaste político do Governo Bolsonaro e do próprio Paulo Guedes.
No campo das articulações políticas, a situação não é propriamente confortável para o governo. O Congresso quer impor sua agenda própria e levar a economia mais para o centro, reconhece Paulo Bretas. O economista também aponta que setores das forças armadas estão insatisfeitos. “Existe uma estratégia de defesa da soberania nacional que eles vão deixar acontecer a qualquer momento e ela conflita com as ideias neoliberais da equipe do Guedes.”
Futuro incerto
Ainda em 2020, o modelo neoliberal adotado pelo governo, baseado em propostas implantadas no Chile e na Argentina, que hoje colhem miséria crescente e protestos em massa, pode cobrar o preço no Brasil. Paulo Bretas, ressalta que o preço dos ajustes está focado nas costas dos trabalhadores, na flexibilização das relações de trabalho e na crescente perda de direitos e garantias da massa de assalariados.
“As relações de trabalho passam por uma verdadeira revolução conservadora.
Nossa mão de obra segue sem qualificação e nossas empresas, em especial na indústria de transformação e serviços, sem padrão de competitividade internacional. O fato é que o Brasil carece de planejamento de longo prazo. Paulo Bretas ataca a política econômica argumentando que a crença de que o mercado irá resolver todos os problemas é um ledo engano.
Para ocorrer uma verdadeira aceleração da retomada seria necessário que o Estado recupere sua capacidade de investimento e estabelecimento de sinergias com o capital internacional para inversões em infraestrutura. O que não tende a ocorrer, na prática. E mesmo a qualidade dos indicadores deveria ser melhorada. Como no setor de serviços. Mesmo dando sinais de melhoria, se mantém numa faixa de baixo padrão tecnológico , exceto pelos serviços financeiros, que vão muito bem obrigado.
Em resumo