O Secretário-Geral da ONU reiterou a necessidade de dar prioridade para a população idosa do planeta
Carlos Plácido Teixeira
Jornalista i Radar do Futuro
Comemorado no dia 1º de outubro, o Dia Internacional do Idoso explicitou, nos meses de crise mais profunda da pandemia, as distorções e contradições da sociedade contemporânea. Os anos 2020 poderiam ser a marca da transição para um momento de mudança positiva para os mais velhos, diante da perspectivas de saltos evolutivos dos processos de tratamento. A perspectiva de desenvolvimento de novos recursos e tecnologias para diagnósticos, tratamentos e monitoramento das pessoas com mais de 60 anos aponta para a possibilidade da oferta de mais tempo de vida com qualidade. Porém, o vírus acabou evidenciando a vulnerabilidade do segmento, uma das principais vítimas do vírus.
Os discursos de autoridades prosseguem, tentando fazer alguma diferença. “A pessoa idosa deve ser uma prioridade nos nossos esforços para ultrapassar o Covid 19”, afirmou o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres na sua mensagem pela data. Ele destacou a necessidade de examinar como a pandemia pode mudar a forma como lidamos com a idade e o envelhecimento em nossas sociedades, enfatizando que mais oportunidades e maior acesso à saúde, pensões e proteção social para os idosos são “cruciais”.
Ao divulgar sua orientação política sobre como melhorar a vida dos idosos, em maio, o principal executivo da ONU apontou que a taxa geral de mortalidade por coronavírus é maior para esse segmento. Por causa desse impacto maior, Guterres defendeu que as intervenções políticas devem ser direcionadas para aumentar a consciência das necessidades especiais. Em comunicado da organização, “ele disse que era importante fazer esforços combinados durante a ‘Década do Envelhecimento Saudável 2020-2030’, para melhorar a vida dos idosos, suas famílias e comunidades.
Balanço negativo
Claudia Mahler, especialista independente da ONU sobre os direitos humanos das pessoas idosas, assinalou que a pandemia Covid 19 ampliou as violações existentes dos direitos dos idosos. “As desigualdades existentes que os idosos enfrentam em termos de acesso à saúde, emprego e subsistência são exacerbadas”, disse ela , e ainda, “são cronicamente invisíveis”. Segundo a executiva, as informações sobre pessoas idosas são “na melhor das hipóteses fragmentadas, na pior, inexistentes” na maioria dos países, por isso é imperativo esclarecer as formas estruturais e sistemáticas pelas quais eles estão sendo deixados para trás.
“No dia do Idoso, não precisamos de discurso bonito, precisamos de ações concretas”, reforça a presidente da Rede Ibero-Americana de Associações de Idosos do Brasil (RIAAM-Brasil), Maria Machado Cota. No Brasil, a data também celebra os 17 anos do Estatuto do Idoso. Segundo ela, houve avanços, sem dúvida, mas algumas questões praticamente não saíram do papel. Uma delas diz respeito aos meios de comunicação.
Apesar de o artigo 24 determinar que “os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais voltados aos idosos”, não há de fato esta preocupação, principalmente emissoras de rádio e TV. “A grande mídia ainda dificulta o acesso à informação dos direitos dos idosos”, questiona Maria Machado. “Com raras exceções não há programação específica nem o cuidado de falar diretamente com este público. “Não há a adoção de uma educação formal, uma modalidade de ensino dentro da realidade e da capacidade dos idosos”, aponta a presidente da RIAAM-Brasil.
Contrastes entre classes
Os idosos passam por tensões sobre o futuro diante do abandono de políticas públicas destinadas à proteção da população, em especial da baixa renda. O cenário inclui o corte de direitos sob o argumento de restrições orçamentárias, que serão agravadas diante dos recursos extras investidos por conta da pandemia. A cada quatro lares do Brasil, em um deles o idoso é o principal responsável pela renda, segundo pesquisa do Dieese pesquisa do Dieese.
De acordo com o levantamento, 24,9% dos domicílios no Brasil têm pessoas de 60 anos ou mais, que contribuem com mais de 50% da renda domiciliar, com aposentadorias, pensões, rendimento do trabalho ou de outro tipo. Para as famílias, o ganho é essencial, já que a taxa de desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos de idade brasileiros ficou em 27,1% no primeiro trimestre de 2020, bem acima da média geral de 12,2% do país no período.
O cenário de curto prazo será marcado, portanto, pelas contradições típica do país que detém uma das maiores taxas de desigualdade do planeta. Nos segmentos de alta renda, as perspectivas da terceira idade são mais favoráveis. A pandemia já deu mostras sobre como idosos mais ricos tiveram maiores chances de sobrevivência. Nos próximos anos, eles serão beneficiados por avanços da tecnologia da informação e da biotecnologia. A medicina será marcada por grandes saltos evolutivos, garantindo o aumento do tempo de vida, com qualidade para o segmento.
Em resumo