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Dez motivos para ser pessimista em relação ao futuro

Ser pessimista é fácil na atual conjuntura, marcada por concentração econômica e política, desemprego e radicalismos.

Carlos Teixeira
Jornalista

Coloque uma música suave, acenda um incenso e acomode-se. Inicie o exercício. Mentalize lentamente. Pense agora em dez motivos para ser otimista em relação ao futuro. Foi no meio de um exercício assim, ou algo parecido, que eu descobri uma quase incapacidade para extrair justificativas otimistas em relação ao futuro da espécie humana. Na hora de mapear o contrário, sinais negativos, a fartura se apresenta, como uma grande colheita em tempos de chuva.

(Tudo bem, talvez a minha natureza seja pessimista. Mas faça a sua parte antes de me criticar e mande a sua lista para o e-mail ali, no final do texto.)

Aumento da concentração de renda, das desigualdades e do desemprego, excesso de poder do setor financeiro, influência crescente de movimentos religiosos e de grupos radicais conservadores e tecnologias desempregadoras são algumas das razões centrais para o pessimismo em relação ao que vem pela frente, nos próximos anos. Mire nas notícias políticas e sociais e diga sinceramente se há chances para o otimismo. O cenário político em que radicalismos de direita ganham poder no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa, é apenas parte do problema.

Primeira razão para ser um pessimista em relação ao futuro: A desigualdade no mundo está crescendo. E vai continuar no mesmo ritmo. Segundo documentos divulgados pela ONG britânica Oxfam, nas edições do conservador Fórum Econômico Mundial, realizadas em Davos, na Suíça, as 37 milhões de pessoas que compõem o 1% mais rico da população mundial terão mais dinheiro do que os outros 99% juntos. Ou seja, os quase 7 bilhões restantes. O estudo é baseado no relatório anual sobre a riqueza mundial que o banco Credit Suisse divulga anualmente desde 2010./

Mesmo no grupo dos 99%, há uma significativa desigualdade: quase toda a riqueza está nas mãos dos 20% mais ricos, enquanto as outras pessoas dividem 5,5% do patrimônio. A Oxfam extrapolou os dados para o futuro e constatou, já em 2017, que o 1% mais rico tem mais de 50% dos bens e patrimônios existentes no mundo.

Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam e co-presidente do Fórum Econômico Mundial, acredita que “tanto nos países ricos quanto nos pobres, essa desigualdade alimenta o conflito, corroendo as democracias e prejudicando o próprio crescimento”.

A diretora da Oxfam lembra que há algum tempo os que se preocupavam com a desigualdade eram acusados de ter “inveja”. A preocupação foi compartilhada por personalidades como o papa Francisco, o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Em 2014, eles manifestaram algum tipo de inquietação com a desigualdade social. “O crescente consenso: se não controlada, a desigualdade econômica vai fazer regredir a luta contra a pobreza e ameaçará a estabilidade global”, afirma Winnie Byanyima.

A Oxfam lembra que as companhias mais ricas do mundo usam seu dinheiro, entre outras coisas, para influenciar os governos por meio de favorecimento de seus setores. No caso particular dos Estados Unidos, que concentra junto com a Europa a maior parte dos integrantes do 1% mais rico e a miséria vem crescendo assustadoramente, o uso dos governos é particularmente rentável. Representantes de interesses demonstram enorme influência para mexer no orçamento e nos impostos do país, destinando a poucos os recursos que, como ressalta a diretora da Oxfam, “deveriam ser direcionados em benefícios de toda a população”.

A confirmação de todo o poder dos mais ricos foi dada durante a crise de 2008. Provocada pelo sistema financeiro, a recessão não gerou qualquer punição para os bancos que especularam com títulos de hipotecas no mercado norte-americano. Na verdade, o sistema produtivo global deu uma demonstração inequívoca de que sua capacidade de impor interesses, dissociados dos problemas globais, não tende a ser alterada no curto prazo.

O horizonte de curto prazo mostra, genericamente, um cenário preocupante em relação à estrutura do sistema produtivo. Em processo de transição rumo a novos modelos de gestão, a indústria tradicional vai caminhar para a adoção intensa de tecnologias em produção e processos de gestão. Os outros segmentos vão acompanhar, investindo em inovações que, no final das contas, servirão para confirmar a tese do aumento da concentração de poder econômico.

Reforçando a projeção pessimista, em 2016, um dos documentos entregues às lideranças presentes em Davos também revela que a Quarta Revolução Industrial, combinada com mudanças sócio-econômicas e demográficas, vai transformar os mercados de trabalho nos próximos anos e deixará um rastro de 7,1 milhões de empregos perdidos nas principais economias desenvolvidas e emergentes. Dois milhões e cem mil serão contratados, gerando um déficit total de 5 milhões de empregos eliminados.

Foi o terceiro ano consecutivo em que o tema do emprego foi colocado como prioritário nas discussões do Fórum Econômico Mundial. No relatório de 2015, a entidade reconhecia que as transformações no mercado de trabalho, associadas ao progresso tecnológico, estão acontecendo de uma forma mais rápida e dramática do que os cenários já vistos anteriormente.

DEZ RAZÕES PARA SER PESSIMISTA QUANTO AO FUTURO

  • Aumento da concentração de renda
  • Concentração do poder econômico em poucas empresas globais
  • Enfraquecimento das economias regionais
  • Desemprego crescente, afetando especialmente os jovens
  • Conservadorismo político em alta
  • Expansão dos movimentos radicais
  • Ausência de lideranças políticas e sociais com credibilidade
  • Enfraquecimento da democracia representativa
  • Aumento da concorrência geo-política
  • Crise climática
Antes que eu me esqueça, envie sua lista para carlos.radardofuturo@gmail.com

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