Carlos Teixeira
Radar do Futuro
O mundo está no meio de uma crise global de aprendizado: 617 milhões de crianças e adolescentes não são proficientes em leitura ou matemática, de acordo com dados do Instituto de Estatística da Unesco”. O alerta é de Silvia Motoya, diretora da unidade da ONU, a agência voltada para questões globais da ciência, da educação e da cultura, para quem há sinais claros de que as escolas não estão cumprindo os seus papeis.
A executiva reitera, em texto publicado no site da Unesco, que o desenvolvimento de habilidades é uma parte crítica da preparação para o trabalho no futuro, mesmo para trabalhos que ainda não existem. Uma criança que não sabe ler, escrever ou realizar, pelo menos, matemática simples com proficiência, obviamente, estará mal equipada como um adulto para se destacar nos setores do futuro orientados para a tecnologia.
Os empregos do futuro exigirão que os alunos tenham fortes habilidades cognitivas em matemática e alfabetização, bem como habilidades sutis, como solução de problemas e pensamento criativo, para permitir que se adaptem a um ambiente em rápida mudança. No entanto, milhões de crianças não estão ganhando essas habilidades. Seja porque nunca começaram a escola, abandonaram a escola ou porque sua escola não oferece uma educação de qualidade.
Barreiras do cenário
“Não só a crise de aprendizagem é alarmante de uma perspectiva econômica nacional, mas também ameaça a capacidade das pessoas de sair da pobreza por meio de melhores oportunidades de renda”, atesta Silvya Montoya. Cada ano adicional de escolaridade pode melhorar as perspectivas de emprego de um indivíduo e aumentar sua renda em 10% a 20%, se obtiverem as qualificações necessárias.
Indivíduos instruídos também são mais propensos a tomar melhores decisões, como vacinar seus filhos. E mães instruídas têm maior probabilidade de enviar seus próprios filhos para a escola. A crise de aprendizagem é, simplesmente, um enorme desperdício de talento e potencial humano.
A crise de aprendizagem é global, mas concentrada em regiões de baixa renda
Silvia Montoya
A crise de aprendizagem afeta crianças e adolescentes em todos os continentes. Dos 617 milhões de crianças e adolescentes que não estão aprendendo, quase metade vive no G20, estima o UIS em um novo artigo. Os dados mostram que a Ásia Central e do Sul e a África Subsaariana estão suportando o impacto da crise de aprendizagem. Cerca de 80% dos adolescentes na escola — aproximadamente entre as idades de 12 e 14 anos — não conseguem ler em níveis mínimos de proficiência.
Sem acesso ao ensino de qualidade, os jovens acumulam uma acentuada desvantagem em relação aos colegas que são capazes de adquirir essas habilidades na escola. Seus países também sofrem uma enorme perda de talentos dos jovens, que estarão mal equipados para lidar com os desafios impostos pelas mudanças tecnológicas em áreas como robótica e inteligência artificial.
Mas a crise de aprendizagem não afeta apenas os pobres. Regiões mais ricas, como a América do Norte e a Europa, são igualmente afetadas. Uma proporção considerável (quase 20%) dos adolescentes na escola não possui as habilidades básicas para progredir.
Futuros desempregados
Os dados apresentados pela diretora da Unesco também mostram que, em quase um terço dos países do G20, entre 10% e 15% dos jovens que não frequentam a escola ou trabalham concluíram o ensino universitário ou o seu equivalente. Pode ser que os mercados de trabalho também não consigam absorver universitários, mas são necessárias mais pesquisas.
A crise de aprendizagem coloca uma séria falha nas habilidades dos países e candidatos a emprego de aproveitar os benefícios da mudança tecnológica. )s dados da UIS destacam três mensagens sobre a crise de aprendizagem:
- Falta de acesso à escola significa que há crianças que nunca terão a chance de obter habilidades fundamentais que derivam de alfabetização e de raciocínio matemático.
- As escolas não conseguem reter as crianças que se inscrevem, levando a altas taxas de abandono escolar e à aprendizagem insuficiente
- Má qualidade da educação e práticas de sala de aula estão deixando milhões de crianças e adolescentes sem habilidades para competir na economia global.
Metas educacionais
O papel da educação no desenvolvimento de habilidades é particularmente relevante hoje em dia. Governos de todo o mundo já estão analisando com atenção o assunto como parte de seus compromissos com os objetivos de desenvolvimento sustentável. O objetivo da educação (ODS 4) inclui uma série de metas educacionais, como acesso igual à formação profissional e universitária, bem como educação universal gratuita nos níveis primário e secundário.
“Para atender a essas metas e garantir que todas as crianças estejam aprendendo, precisamos de um investimento significativo em milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo. Eles merecem uma oportunidade de desenvolver seus próprios talentos para que possam se ajudar e contribuir para o bem-estar de suas famílias e comunidades”, assinala Silvia Montoyo.
Em resumo