Uma jovem brasileira ganha um prêmio graças a uma iniciativa que estimula o debate, uma habilidade humana que tem o uso desestimulado na atualidade
Carlos Plácido Teixeira
Jornalista I Radar do Futuro
Neste momento em que “conversas sobre política, religião e futebol” são coisas praticamente impossíveis, um projeto da brasileira Alice Machado emite um sinal pequeno, porém positivo para a sociedade sobre o papel essencial das discussões entre grupos de pessoas. A jovem conquistou a primeira colocação do prêmio “Next Generation Foresight Practitioners” — ou Nova Geração de Praticantes de Futurismo, como uma das responsáveis pelo projeto Mondo, que coloca no centro das atenções o debate como estratégia para a busca de soluções para os problemas do planeta.
O prêmio tem o objetivo de identificar projetos e premiar jovens envolvidos e preocupados com a disseminação de conhecimentos sobre estudos do futuro, sendo promovido pelo movimento Teach The Future e pela School of International Futures.
Com exemplos como os dos estudantes Alice e do filandês Ruhan, o espaço digital se apresenta como um lugar para os jovens, com idades entre 13 e 20 anos, compartilharem suas vozes, construir interações entre as diversas culturas do mundo e criar conexões enquanto buscam soluções viáveis para diversos desafios globais.
Por que é importante
Em tempos de debates interditados, os jovens terão um papel essencial na mudança de comportamentos em relação ao diálogo. Em algum momento, os filhos do século 21 vão entender a herança complexa que está sendo deixada pelas gerações antecessoras.
Angustiados diante do tamanho das incertezas, jovens tendem a ser os promotores dos debates necessários para conectar ações favoráveis à maioria. Há uma crise de dimensões planetárias, filha da sociedade que, nos últimos séculos, relegou a discussão saudável, promotora de conhecimento, para segundo plano. Temos de enfrentar a impossibilidade de refletir, um dos males do século.
O estímulo ao debate, promovido por Alice no campeonato do Mondo, precisa ser a oportunidade de resgate de hábitos perdidos na antiguidade. Os gregos valorizavam o diálogo como meio ideal para a busca de significado e da compreensão do mundo. A troca de conhecimentos e opiniões em praças públicas era visto há mais de 2 mil anos como uma forma de interação, um exercício intelectual. Um desafio capaz de gerar envolvimento, compartilhamento de ideias, reflexão, questionamento e novos conhecimentos. Além, naturalmente, de soluções para as grandes questões do mundo e das coletividades.
Preocupação
Um novo estudo mostra que mais da metade dos jovens adultos acreditam que “a humanidade está condenada” e “o futuro é assustador”.
A pesquisa faz uma forte conexão entre as preocupações ambientais com a inação do governo, resultando em um maior sentimento de medo e ansiedade entre adolescentes e jovens adultos. “Este estudo pinta um quadro horrível de ansiedade climática generalizada em nossas crianças e jovens”, disse Caroline Hickman, pesquisadora que estuda a relação dos jovens com o meio ambiente na Universidade de Bath, no Reino Unido, e coautora do estudo, em comunicado.
Para pensar: como a generalização deturpa as análises
Precisamos estudar as informações da mídia tradicional. A mesma juventude que toma iniciativas é alvo de matérias generalizantes, excessivamente superificiais. “Ansiosos, imediatistas, individualistas, depressivos. Essas são algumas das características da Geração Z, que já é considerada a mais infeliz de todos os tempos”. A descrição é da matéria “Análise: Geração Z, os merecedores sem méritos“, publicada pelo site R7. Sem fundamentação de especialistas e recorrendo a um único caso na Justiça, que poderia ocorrer com qualquer integrante de outra geração, o texto reforça a necessidade do aprendizado de leitura crítica e de compreensão do papel desempenhado pelo jornalismo na formação de opiniões que vão impactar o futuro de pessoas e da sociedade.
Insights
Zoom investe em inovações
O avanço da velocidade da inteligência artificial e o aprendizado de máquina vão jogar a favor da evolução do ensino híbrido. E as oportunidades estão nos sensores da Zoom. A empresa anunciou a aquisição da startup alemã de IA Kites, que está desenvolvendo um sistema de tradução texto para áudio em tempo real, aplicáveis a legendas em videoconferência. No exercício de futuro, a empresa vê sua plataforma oferecendo passeios de 360 graus em museus ou sites de trabalho, como sets de filmagem — e talvez se integrando com fones de ouvido de realidade virtual mais sofisticados. Óculos avançados podem ser emparelhados com trajes hápticos, que permitem ao usuário sentir sensações como toque ou vibração. (leia abaixo: profissão do futuro)
Avanço da corrida ao espaço
No dia 16 de setembro havia mais pessoas em órbita terrestre do que em qualquer outro momento da história humana. O recorde de 14 astronautas circulando a Terra, a bordo de três naves espaciais diferentes, confirma a expectativa de aumento dos investimentos na área por bilionários e governos.
Energias alternativas
Segundo a consultoria McKinsey & Company, o hidrogênio pode se tornar a solução de baixo carbono mais competitiva em mais de 20 aplicações até 2030, incluindo transporte de longo curso, transporte marítimo e aço.
Inovações
Reversão de cegueira
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, inverteram uma forma genética de cegueira em uma paciente. A terapia, que tem como objetivo o RNA mutante, foi injetada nos olhos há um ano, em um teste que trata a amaurose congênita leber.
Ubiquidade como alvo
A Amazon está lançando a Loja da Cerveja, uma nova seção dentro do site dedicada a trazer bebidas na versão tradicional e artesanal, além de dicas de harmonização. Ao todo, são mais de 500 produtos, que incluem copos, acessórios e livros.
Plataforma monitora desmatamento
Empresa de Florianópolis, a Horus criou o Monitora, um sistema que usa satélites e drones para encontrar áreas de desmatamento ilegal ou ocupações não liberadas. A própria plataforma verifica no banco de dados do município se há autorização para as intervenções detectadas e avisa as autoridades para que tomem providências.
Indicadores
- Há cerca de 40% de risco de que a temperatura média global anual seja temporariamente 1,5°C maior do que os níveis pré-industriais por pelo menos um dos próximos cinco anos, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM)
- A duração média da semana de trabalho aumentou 10% durante a pandemia, segundo a Microsoft
- Nos Estados Unidos, enquanto os policiais despejam trabalhadores por causa de alguns milhares de dólares em dívidas, o Federal Reserve silenciosamente presenteia Wall Street com US $ 3,3 bilhões por seus títulos de dívida hipotecária
- Em 2030, a participação de pessoas com mais de 65 anos no total de 234 milhões de brasileiros será de 14,34%. Crianças e adolescentes serão 18,96%
- Em 2047, as taxas brutas de natalidade e de mortes se igualam no Brasil
Futuro das profissões
Incertezas: perspectivas para os despachantes
Pontos fortes
- Oferecem conveniência
- Resolvem problemas
Risco de automação: alto
Tendências impactantes
- Digitalização de serviços governamentais
- Digitalização e integração de cartórios
- Blockchain
Conveniência. A palavra define o papel central dos despachantes. Ainda hoje, a automação dos sistemas de atendimento no setor público não foi suficiente para eliminar a atuação de quem faz a intermediação entre órgãos públicos e privados e cidadãos, por conta do conhecimento sobre os corredores da burocracia. Detrans e cartórios estão aí para justificar a atividade. Quem compra um imóvel ou um carro sabe como o “especialista” ajuda no encaminhamento, acompanhamento da tramitação de documentos. Também apoio e corrida em cartórios.
A profissão tende a ser impactada pelo avanço da digitalização de sistemas burocráticos governamentais e pelo blockchain, recurso tecnológico que pode substituir os métodos tradicionais de registros de propriedade. Em especial no Brasil, os cartórios tendem a jogar a favor dos profissionais, pelo menos enquanto não se integrarem completamente com os serviços governamentais de registro.
Profissões do futuro
Turista cibernético: terceirização
O que é
Especialistas oferecem serviço de visitas virtuais
Forças que impactam
- Câmeras 360 graus, comandadas remotamente
- Tradutores instantâneos
- Realidade virtual / holografia
- Queda da renda global
Sabe aquele livro “Mil lugares para você visitar antes de morrer”? Em 2026 estará garantida a oportunidade para colocar em prática todos os roteiros, mesmo se não tiver tempo ou dinheiro para cumprir tudo. Com os avanços de sistemas de realidade virtual, como a holografia, será possível ter a sensação de estar, por exemplo, em um safari na África. Ou três museus imperdíveis na Holanda, Van Gogh incluído.
Não precisa saber a língua desses lugares, porque quem vai fazer o trajeto imaginado por você são trabalhadores da região, nativos. Ao vivo, eles seguem os roteiros, funcionando como olhos direcionados pelo turista, no caso, voce. Os tradutores instantâneos auxiliam na interação.
Previsão: passado x futuro
“50 anos atrás sabíamos que a mudança climática iria perturbar a humanidade, décadas atrás alertamos que uma pandemia como o coronavírus era inevitável, mas o capitalismo e a democracia não conseguiram mitigar esses riscos.” – Brett King
Em resumo