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Consumidor quer produto engajado

Há um mercado bilionário voltado aos “kidults”, pessoas que se mantêm sempre jovens

Há pouco mais de três anos, a empresária Carolina Franco, de 35 anos, especialista em marketing, decidiu que não comeria mais carne, em caráter irrevogável. A iniciativa marcou o protesto pessoal contra o sacrifício de animais. Para ela, em outras atividades cotidianas o critério da ética está acima dos prazeres oferecidos pelo mercado. A credibilidade dos produtos e das empresas depende do comportamento de produtores e comerciantes na sociedade e no mercado.

Exceção ainda no cenário recente de hiperconsumismo, o modo de agir de Carolina retrata várias tendências. Não há um grupo exclusivo que possa definir as crenças da consumidora, que se mistura com a cidadã. Vários perfis montam o desenho. Além da exigência de ética dos fabricantes, há cobranças por responsabilidade social, sustentabilidade e qualidade de vida.

A Trendwatching, multinacional especializada em projeções de tendências, confirma o modelo. Pesquisas revelam a disposição de consumidores nas Américas Central e do Sul, particularmente os mais jovens, de se envolver na solução de questões sociais. Em outro estudo, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), com a Market Analysis, mostrou ainda que um em cada quatro brasileiros presta atenção em mensagens no estilo “ecologicamente correto”, “sem gordura trans”, “embalagem reciclável”, entre outras tantas divulgadas pelos fabricantes nos rótulos.

Comportamento –  Carolina também faz parte do grande grupo das mulheres que assumirão a liderança do mercado e serão responsáveis pela movimentação de R$ 1,1 trilhão em consumo, de acordo com dados do Instituto Data Popular. Em 2003, o valor era de R$ 602 bilhões. Sobre a empresária paira, ainda, o fenômeno demográfico de mulheres e homens de mais de 30 anos que vivem com os pais. Muitos são integrantes do grupo denominado “kidults”.   

“Hoje, o jovem não é mais quem tem entre 18 e 24 anos. Você pode ter 45 anos e ser jovem. Mais do que um dado estatístico, ser jovem é um estilo de vida”, define a caçadora de tendências”, diz Andrea Greca Krueger, jornalista e especialista em identificação de tendências.

Existe um mercado bilionário voltado aos “kidults”, as pessoas que possuem estabilidade financeira, disponibilidade para gastar e costumam acalentar uma boa dose de nostalgia. “A indústria do retrô está aí para demonstrar isso”, ressalta Andrea. Na mesma onda que leva ao relançamento de produtos como discos de vinil e Ferrorama, entre outros, a Disney, por exemplo, anunciou recentemente que vai inaugurar atrações voltadas aos maiores de 30 anos, com personagens que marcaram quem foi jovem nos efervescentes anos 1980 e 1990.

O “novo jovem” quer se divertir, brincar e escapar da realidade estressante do dia a dia. E está disposto e pagar muito bem por isso. Acostumada a andar pelo mundo à caça de novidades, Andrea Krueger acredita as inquietações da sociedade frente ao futuro são a força motriz do reposicionamento de compradores. Entre os “velhos ricos”, segundo a definição da especialista, “cresce uma consciência sobre os riscos do consumismo, além da necessidade de viver experiências holísticas únicas em detrimento de adquirir bens”.

A inquietação faz subir a cotação da sustentabilidade na lista de tendências centrais do mercado de consumo. É certo que ainda há dúvidas sobre a dimensão real da tendências. E há grupos que começam a experimentar o poder de compra há menos tempo, como a nova classe média do Brasil. São milhões de pessoas que possuem necessidades mais urgentes de adquirir status e até bem estar através de produtos. “Estamos entrando em um segundo momento do afã consumista, com as pessoas buscando não apenas o tangível, mas também conhecimento e cultura”, diz Andrea.

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