Wanderson Leite *
O ano de 2020 será lembrado para sempre como aquele em que mais ficamos em casa. Com as regras de distanciamento social impostas pela pandemia, nenhum outro lugar no mundo parecia mais seguro do que o nosso próprio lar. Assim, aquelas tão sonhadas – e tantas vezes adiadas – reformas, tiveram que, finalmente, sair do papel. O resultado é que o setor cresceu tanto que está até faltando matéria prima. Mas, nem tudo foi assim tão simples para quem atua nesse mercado.
Com a quarentena, o setor que estava acostumado a receber e atender o cliente no balcão, precisou mudar as estratégias. E foi assim que as construtechs e proptechs, empresas de tecnologia direcionadas para os setores de construção civil e imobiliária, tiveram sua vez. Segundo dados divulgados pelo Mapa das Construtechs e Proptechs 2020, da Terracotta Ventures, essas startups já cresceram 23% em relação a 2019.
Justificativas para o feito, não faltam. Passado o susto inicial e as incertezas trazidas pelo surto de Covid-19, as empresas do setor entenderam que é nas crises que nascem as oportunidades. A tecnologia foi determinante para continuar atendendo a um cliente apressado, exigente e com uma série de restrições de segurança. Foi então que as construtechs encontraram o caminho propício para apresentar suas soluções que, embora já existisse há algum tempo, ainda sofriam com a resistência de muitas empresas tradicionais do setor.
Nesse contexto, duas tecnologias ganharam ainda mais notoriedade: as de sistemas construtivos e as de análises de dados. Os sistemas construtivos garantiram mais agilidade, segurança e um viés ecológico à construção. Elas demonstram que tempo é o recurso mais precioso do cliente, por isso, buscam a otimização dos processos e a redução de desperdícios, promovendo uma obra muito mais eficiente.
Já as de análise de dados, atuam na geração de informações para a indústria, o comércio, o canteiro de obras e até para o consumidor final. De posse dessas informações, a tomada de decisões se torna muito mais assertiva, rápida e precisa. Com tecnologias como o Big Data, por exemplo, é possível antecipar as demandas, melhorar os planejamentos, a logística e até o relacionamento entre o lojista e o cliente, por exemplo, que entende melhor os padrões de compra.
O melhor de tudo é que, no fim, quem sai ganhando é o consumidor, que vê muito mais respeito ao seu tempo e ao seu dinheiro. Como consequência, todo o mercado se beneficia da utilização de tecnologias para aumentar os níveis de satisfação do cliente e melhorar a sua experiência de compra – que muitas vezes ainda deixa bastante a desejar no segmento de construção civil.
Em suma, 2020 parece mesmo ter sido um divisor de águas para esse e tantos outros setores que se mostravam resistentes à adoção de novos recursos. Diante da pandemia, as empresas precisaram mudar comportamentos, estar mais abertas à experimentação e, ao que tudo indica, todas sairão muito melhores e mais fortes desse período de turbulência.
Não é à toa que as previsões apontam para um forte crescimento do setor de construção civil – e para as construtechs, obviamente – em 2021. Os problemas de falta de matéria prima em função do fechamento temporário de muitas indústrias deve se resolver logo nos primeiros meses do ano. Depois, quem cultivou conexões e alianças estratégicas com o mercado e com a tecnologia, deve finalmente começar a colher o que plantou em 2020. O próximo ano será de quem se dedicou a construir pontes. E não estamos falando literalmente.
- Wanderson Leite é CEO da Prospecta Obras. Formado em administração de empresas pelo Mackenzie, ele também é fundador das empresas ProAtiva, app de treinamentos corporativos digitais, e ASAS VR, startup que leva realidade virtual para as empresas.