Após um ano de desastres e turbulências sem precedentes, a confiança da sociedade nas instituições e governos em todo o mundo está abalada. O Barômetro de Confiança Edelman 2021 revela uma epidemia de desinformação e desconfiança generalizada, reflexo de um cenário marcado pela pandemia de Covid-19, pela crise econômica, pelo clamor global contra o racismo sistêmico e pela instabilidade política.
O estudo sobre os índice de confiança das instituições perante as sociedades, é realizado anualmente pela Edelman, agência global líder em Relações Públicas. Tem o foco central nas áreas de negócios, mas retrata bem as dores e contradições das sociedades diante da crise sanitária. Conclui que a combinação das variáveis resulta em empresas, governos, ONGs e mídias circulando em um ambiente de falência de informações e perda de força para reconstruir a confiança e traçar um novo caminho para o desenvolvimento de suas atividades.
No início de fevereiro, mais de 2 milhões de vidas perdidas. Desemprego equivalente à Grande Depressão dos Estados Unidos, uma das maiores crises da história do capitalismo global. Os dados reforçam o crescimento da erosão da confiança em todo o mundo. Isso é evidente na queda significativa na confiança nas duas maiores economias: Estados Unidos e China. Os governos dos EUA (40%) e da China (30%) são vistos com profunda desconfiança pelos entrevistados dos outros 26 mercados pesquisados.
“E o mais notável é a queda na confiança entre seus próprios cidadãos, com os EUA, já no quartil inferior da confiança, experimentando uma queda adicional de 5 pontos desde a eleição presidencial, em novembro de 2020. E a China tendo uma queda de 18 pontos desde maio de 2020. A confiança diminui nas duas maiores economias do mundo”, ressalta o Barômetro. O estudo confirma uma impressão que se teve durante o ano, enquanto oscilavam os números de casos.
Em um primeiro momento, a maioria dos governos reagiu positivamente, com a tomada de iniciativas. Que passaram a impressão de que o papel protagonista das lideranças políticas seria resgatado. Com as exceções, como no caso do Brasil e dos Estados Unidos. Houve, diante das ações tomadas de articulação do socorro, de medidas de redução de impactos da circulação do vírus e da busca por vacinas, até mesmo uma expectativa de que o modelo de capitalismo passaria por mudanças. Haveria o resgate do papel do Estado de bem-estar social.
Como o relatório reconhece, os governos rapidamente conquistaram o terreno, emergindo como a instituição de maior confiança em maio de 2020, quando as pessoas acreditaram na capacidade de liderança na luta contra a Covid-19 e na restauração da saúde econômica. Mas as instituições falharam no teste e desperdiçaram a bolha de confiança, com o crescimento de oito pontos globais na percepção negativa das ações desenvolvidas.
Explosões de bolha de confiança
Com uma crescente lacuna e declínio de confiança em todo o mundo, as pessoas estão em busca de liderança e soluções, pois rejeitam os porta-vozes que consideram não confiáveis. A Edelman assinala que nenhum dos líderes sociais rastreados, entre governantes, CEOs, jornalistas e até religiosos – é confiável para fazer o que é certo, com queda nas pontuações de confiança para todos. A constatação do estudo confirma a tendência de expansão dos números de protestos contra o isolamento e pela proliferação de movimentos negacionistas, que se refletem inclusive nas áreas de ciências, com a rejeição a vacinas.
Em particular, a credibilidade dos empresários está em baixa em vários países, incluindo Japão (18%) e França (22%), tornando o desafio para os líderes das áreas de negócios e finanças ainda mais agudo enquanto tentam resolver os problemas de hoje. Sem fontes de liderança confiáveis para procurar, as pessoas não sabem onde ou quem obter informações confiáveis. A infodemia global impulsionou a confiança em todas as fontes de notícias para registrar baixas com mídia social (35%) e mídia própria (41%), as menos confiáveis. A mídia tradicional (53%) viu a maior queda na confiança em oito pontos globalmente.
Descrença nas fontes de informação
Essa maré crescente de desinformação e de falta de confiança que está ameaçando a recuperação da Covid-19, pois as pessoas estão profundamente desconfiadas e hesitantes sobre a vacina. Na verdade, entre aqueles que praticam a falta de higiene da informação – na medida em que não verificam suas fontes e/ou garantem que informações confiáveis e factuais sejam compartilhadas – há substancialmente menos vontade de receber a vacina no ano de sua primeira disponibilidade (59% versus 70% para pessoas com boa higiene da informação).
Esses temores de pandemia estão impedindo o retorno ao local de trabalho, com 58% dos funcionários optando por trabalhar em casa, com medo de se infectar. Enquanto o mundo parece nublado pela desconfiança e desinformação, há um vislumbre de esperança nos negócios. O estudo deste ano mostra que as empresas não são apenas a instituição mais confiável entre as quatro estudadas, mas também a única instituição confiável com um nível de confiança de 61% em todo o mundo e a única instituição vista como ética e competente.
Quando o governo está ausente, as pessoas esperam claramente que as empresas entrem e preencham o vazio, e a confiança das empresas para enfrentar e resolver os desafios de hoje nunca foi tão aparente. As expectativas elevadas de negócios trazem aos CEOs novas demandas para se concentrarem no engajamento da sociedade com o mesmo rigor, consideração e energia usados para gerar lucros.
Oportunidades para líderes empresariais
Não apenas as expectativas de liderança das empresas aumentaram, mas também estamos vendo novas áreas de foco que as empresas devem abordar; por exemplo, a principal ação de construção de confiança para as empresas agora é proteger a qualidade das informações, garantindo que informações confiáveis e confiáveis cheguem a seus funcionários e, por extensão, à comunidade. Na verdade, mais da metade dos entrevistados (53%) acredita que, quando a mídia de notícias está ausente, as empresas têm a responsabilidade de preencher o vazio de informações.
Recomendações
“A confiança continua sendo a moeda mais importante nas relações duradouras entre as quatro instituições estudadas e seus vários interessados”, reforça a agência de relações públicas. Particularmente em tempos de turbulência e volatilidade, a confiança é o que mantém a sociedade unida e onde o crescimento se reconstrói e se recupera.
O estudo recomenda que cada instituição deve desempenhar sua parte na restauração da sociedade e na saída da falência de informações:
- Os negócios devem abraçar seu mandato e expectativas ampliadas, com CEOs liderando em uma série de questões familiares e desconhecidas. É importante tomar medidas significativas primeiro e depois comunicar a respeito.
- Os líderes sociais devem liderar com fatos e agir com empatia. Eles devem ter a coragem de falar francamente, mas também ter empatia e lidar com os medos das pessoas.
- Forneça conteúdo confiável que seja verdadeiro, imparcial e confiável. As instituições devem fazer parceria umas com as outras para resolver problemas. Empresas, governo, mídia e ONGs devem encontrar um propósito comum e tomar ações coletivas para resolver os problemas sociais.
Saiba mais sobre o que pode abalar a confiança da sociedade e os impacto disso no futuro do planeta. Assine a nossa newsletter.
Em resumo