Cultivar o humor no dia a dia não é apenas um luxo ou um passatempo, para os tempos atuais, marcado por tensões, é uma necessidade
Lucas Gaetani
Psicólogo
Em meio às exigências da vida moderna como prazos apertados, preocupações financeiras, pressões sociais e responsabilidades familiares, o humor surge como uma ferramenta vital para o bem-estar psicológico e emocional. Mais do que uma simples resposta a algo engraçado, o humor é uma habilidade humana complexa. Tem raízes profundas na história e impactos diretos na saúde mental, nos relacionamentos e até na resiliência frente às adversidades.
Historicamente, o riso e o escárnio foram estudados desde a Grécia Antiga. Aristóteles via o riso como um diferencial humano, uma forma de catarse emocional. Mais tarde, o filósofo francês Georges Minois destacou em sua obra História do Riso e do Escárnio que o humor sempre teve um papel ambíguo: ao mesmo tempo em que diverte e relaxa, também pode criticar, desafiar normas e revelar verdades incômodas sobre a sociedade. Essa dupla função, lúdica e reflexiva, torna o humor uma ferramenta poderosa para lidar com as complexidades da vida.
Pesquisas contemporâneas também reconhecem seu valor terapêutico. Desde “Der Humour” de S. Freud em que se define o humor como “dom raro”, recentemente um estudo publicado no Romanian Journal of Psychological Studies mostra que o uso de humor de duas formas distintas. Um primeiro adaptativo que promove conexões sociais e permite rir de si mesmo de forma saudável e está fortemente associado a menores níveis de estresse e maior satisfação com a vida. Por outro lado, estilos de humor mal-adaptativos, como o autodepreciativo, podem indicar fragilidades emocionais e estão relacionados a sintomas de depressão e ansiedade.
Impactos nas relações
Além do alívio imediato que uma boa risada proporciona, o humor melhora a qualidade das relações interpessoais. Pessoas com senso de humor tendem a ser vistas como mais acessíveis, carismáticas e empáticas. Em ambientes profissionais, por exemplo, líderes que utilizam o humor de forma positiva criam equipes mais coesas, produtivas e satisfeitas. Nas relações familiares ou amorosas, rir junto fortalece vínculos, suaviza conflitos e aumenta o sentimento de intimidade*.
No campo da saúde, os benefícios fisiológicos também são comprovados. O riso estimula a liberação de endorfinas — os “hormônios da felicidade” — e reduz os níveis de cortisol, hormônio relacionado ao estresse. Além disso, melhora a oxigenação do sangue, relaxa os músculos e contribui para um sistema imunológico mais eficiente**.
Portanto, cultivar o humor no dia a dia não é apenas um luxo ou um passatempo — é uma necessidade. Isso não significa ignorar os problemas ou viver em negação, mas sim adotar uma perspectiva mais leve diante das dificuldades, desenvolvendo resiliência emocional. Incorporar momentos de leveza, rir de si mesmo e buscar conexões sociais autênticas por meio do riso pode ser o diferencial entre o esgotamento e o equilíbrio.
Em tempos de incerteza e mudança, o humor se revela um aliado silencioso, porém poderoso. É o lembrete de que, apesar de tudo, ainda é possível sorrir — e isso, por si só, já é um passo importante rumo a uma vida mais plena e saudável.

* (Yam, K. C., Christian, M. S., Wei, W., Liao, Z., & Nai, J. (2018). “The mixed blessing of leader sense of humor: Examining costs and benefits.” Journal of Applied Psychology, 103(4), 431–442.)
** (Hasan, H., Hasan, T. F., & Ahmed, S. (2018). Effect of laughter yoga on salivary cortisol and dehydroepiandrosterone among healthy university students: A randomized controlled trial. Complementary Therapies in Clinical Practice, 32, 74–78. https://doi.org/10.1016/j.ctcp.2018.05.002).
Em resumo
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