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Cenários e tendências: enquanto as eleições não chegam

Eis que o sucessor da velha rainha da Inglaterra é um idoso com a saúde aparentemente instável. O cenário internacional aponta para conflitos. No Brasil, suspense marca as eleições de outubro

Desfile do caixão da rainha foi conduzido em procissão por membros das Forças Armadas, do Palácio de Buckingham ao Westminster Hall. Foto: HM Armed Forces
Carlos Teixeira Editor I Radar do Futuro
Carlos Teixeira Radar do Futuro

A morte da rainha Elizabeth II, aos 96 anos confirma, literalmente, que o velho resiste em morrer. O coroamento do agora rei Charles III, de 73 anos, mostra que o novo não pode nascer. No ano de 2022, do século 21, a monarquia, uma das mais antigas formas de governo do mundo, continua intocável na comunidade do Reino Unido, dono da quinta maior  economia do planeta. A saída de cena de uma idosa, depois de 70 anos de reinado, e a entrada do filho idoso formam parte do quadro mais amplo em que, inspirado em Cazuza, o futuro repete o passado. “Eu vejo um museu de grandes novidades. O tempo não para.”

Ainda nos domínios britânicos, a nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, diz estar pronta para iniciar uma guerra nuclear, se necessário. Conservadora de fé, ela não deve hesitar em tomar medidas fortes contra a Rússia e a Índia. E deseja incluir os chineses na lista de “ameaças oficiais” à segurança nacional britânica. É mais pólvora para aliados das guerras.

Em resumo: a humanidade segue com seus avanços lentos no processo civilizatório, com a confirmação de que pouco muda, de fato, nas relações políticas globais. O cenário em formação é de retrocessos. Não só a manutenção neoliberalismo como teoria econômica predominante, como também com o avanço do conservadorismo radicalizado. E a perspectiva de guerras promovidas pelo império norte-americano. 

Apontada como uma nova Margareth Thatcher, a dama de ferro do período entre 1975 e 1990, Liz Truss tende a insistir em uma agenda “ousada”. No caso, o rolo compressor conservador, com cortes fiscais maciços “desde o primeiro dia”. Portanto, redução de impostos para os ricos. 

Opositora de políticas de bem-estar social, a líder conservadora também é hostil aos sindicatos de trabalhadores. O que inclui limitações ao direito à greve. Em questões ambientais, ela se posiciona à favor da eliminação de limites para o setor privado, com propostas de permissão para perfuração de poços de petróleo no Mar do Norte. 

Impactos: o que esperar

O cenário global promete mais tensão, agora com a adesão de Liz Truss, nova personagem disposta a colocar lenha no fogo dos conflitos globais. O alinhamento com os Estados Unidos e com os interesses da indústria bélica fortalece a expectativa, entre analistas, de uma reação contra a aliança entre a Rússia e a China. 

O mundo unipolar está prestes a acabar. Mas os Estados Unidos não aceitarão a tendência de criação de um mundo multipolar, mesmo que os outros países não tenham pretensões imperiais. O governo norte-americana vai utilizar estratégias para impor sanções, embargos e bloqueios à China.

Mas o cenário tende a se complicar, especialmente com a crise energética e o aumento de preços, esperados para o inverno na Europa neste final de ano. 


O que preocupa as populações dos planeta

A inflação é a preocupação global número um das populações do planeta pelo quinto mês consecutivo. O dado faz parte da edição de agosto do estudo “What Worries the World” (O que preocupa o mundo), elaborado pelo instituto de pesquisa Ipsos. 

Aumento de preços (39%), pobreza e desigualdade social (31%), desemprego (27%),  violência (26%) e corrupção política e financeira (25%) são as variáveis que causam tensões entre as populações. Outro dado importante: para 65% dos entrevistados, acreditam que as decisões tomadas em seus países caminham em direções erradas.  

Sinais de futuro: curtíssimo prazo

Mercado comemora aumento do desemprego nos Estados Unidos

Os dados do mercado de trabalho podem reduzir o ímpeto do Banco Central dos EUA em aumentar as taxas de juros para conter a inflação


Como antecipar o futuro: o papel da imprensa

A cobertura da morte de Elizabeth II e da posse de Charles como rei do Reino Unido é uma oportunidade de aprendizado sobre o papel da imprensa na formação ideológica das sociedades e na percepção sobre o futuro. Aliás, Liz Truss foi beneficiada pelo evento da monarquia, ao tirar a atenção da imprensa para as suas propostas por alguns bons dias. 

As mídias tradicionais focaram imediatamente o tom de espetáculo, mais um capítulo do mundo encantado das monarquias e das celebridades. Serão raras as matérias e análises sobre tendências capazes de envolver as populações relacionadas com a Inglaterra. Inclusive, a vida do novo rei Charles III pode ser menos tranquila do que a da mãe. Por exemplo, ele deve ser cobrado pelo fato de que a rainha Elizabeth II silenciou sobre a escravidão e a ação dos seus súditos colonizadores. 


Economia: mergulho fundo e volta pela metade

Otimistas, como todos os membros de governo tradicionalmente são obrigados a ser, sempre, os economistas do grupo do ministro da Economia, Paulo Guedes, divulgam a expectativa de queda contínua do desemprego até o final do ano. Acreditam em um longo ciclo de investimentos. Para o ministro, a economia está em situação melhor que a de países desenvolvidos, com sinais de recessão. No otimismo oficial, apoiado pela análise ortodoxa do sistema financeiro e pelos analistas da mídia, o Brasil está melhor que outros países latino-americanos tendentes a desmanchar.

Assim como a equipe de Bolsonaro, o mercado comemora dois meses seguidos de deflação, puxada pela redução de alíquotas de ICMS de combustíveis e energia elétrica. Também celebram a taxa de investimento de 14,7% no segundo semestre deste ano. 

Fora do universo das fontes tradicionais da mídia e das redes sociais, o cenário traçado inclui expectativas e indicadores de desempenho insuficientes para gerar expectativas positivas. Na verdade, o Brasil é um mergulhador que desceu 100 metros no mar e subiu 50 de volta. Para quem apoia a política econômica do governo, essa profundidade é suficiente para voltar a respirar. 

Apesar da recuperação dos investimentos, os dados estão há nove anos abaixo do recorde de 21,5%, verificado em 2013. A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) estima que o país precisa de investimentos públicos e privados anuais de R$374 bilhões em uma década. Bem acima dos R$148 bilhões investidos em 2021. 

No Brasil, hoje, apenas quatro em cada dez famílias conseguem manter acesso regular a alimentos, diz o estudo sobre insegurança alimentar realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). O número total de pessoas que não têm o que comer em casa subiu de 19,1 milhões, no final de 2020, para 33 milhões, em abril de 2022, com a pandemia e o abandono de políticas sociais e o aumento da desigualdade social no país, conforme a pesquisa. 

A precariedade no mercado de trabalho e a corrosão do poder de compra, provocada pela inflação, negam as projeções positivas apresentadas pelo presidente Jair Bolsonaro em sua campanha para a presidência. Especialmente para a população de baixa renda, a velocidade do aumento dos preços dos alimentos segue um entrave para a melhoria das condições de vida. 


O Brasil, que havia saído do Mapa da Fome em 2014, tem hoje 33 milhões de pessoas sem nada para comer e outras 105 milhões com algum tipo de insegurança alimentar, sem dinheiro para comprar comida suficiente.


Suspense na reta final da campanha para a presidência 

Líder das pesquisas eleitorais segundo o instituto Datafolha, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conta com um cenário de vantagem parecido com o registrado há praticamente um ano. O que vem justificando um certo otimismo quanto à possibilidade de vitória. Se não for no primeiro turno, há fortes chances de ser no segundo. 

A eleição contrasta com eleições anteriores, marcadas por episódios inesperados. Em 2018, as pesquisas foram abaladas nas semanas que antecederam o primeiro turno. Houve a decisão da Justiça Eleitoral de barrar a candidatura de Lula, o atentado a faca contra Bolsonaro, a morte do ex-governador Eduardo Campos e a ascensão e queda meteóricas de Marina Silva.

O baixo número de indecisos na reta final, de 3%, permite pouca margem de manobra para candidatos em desvantagem. Após o resultado das mais recentes pesquisas de intenção de voto, a campanha à Presidência do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, resolveu investir na possibilidade de vitória ainda no primeiro turno.

O PT investe na ampliação da ideia de voto útil, com a tentativa de conquistar, em especial, eleitores progressistas de Ciro Gomes, do PDT, e Simone Tebet, do MDB. Também com o foco da atração dos eleitores dos rivais,a estratégia de Bolsonaro para levar a disputa ao segundo turno reforça o discurso de rejeição a Lula. A ideia é reforçar o sentimento antipetista, principalmente naqueles que em 2018 votaram no atual presidente e que agora estão apoiando outros candidatos.

Herança: o que pode acontecer

Independente dos resultados, as eleições deste ano tendem a garantir um cenário de instabilidade social. Os sinais são evidentes em mortes recentes de apoiadores do ex-presidente Lula e outros atos de violência, inclusive contra jornalistas. São demonstrações de ódio. Não é coincidência o fato de que o medo de expressar publicamente convicções políticas é um dos principais resultados da pesquisa Violência e Democracia: panorama brasileiro pré-eleições de 2022, realizada pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com apoio do Fundo Canadá para Iniciativas Locais (FCIL). 

O estudo leva em conta entrevistas feitas pelo Datafolha com 2,1 mil pessoas de mais de 16 anos, entre os dias 3 e 13 de agosto. Segundo a pesquisa, divulgada pela revista Piauí,  67,5% dos entrevistados têm medo de serem agredidos fisicamente em razão de suas escolhas políticas ou partidárias. Outro dado que chama a atenção é o fato de que 3,2% disseram ter sofrido algum tipo de ameaça no último mês por causa de suas preferências políticas. 

Extrapolando esse percentual para a população brasileira de mais de 16 anos, isso equivale a 5,3 milhões de pessoas que teriam sido ameaçadas por motivação política, destaca Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do FBSP. Apesar de o país viver um período em que as mortes violentas vêm em queda, a sensação de insegurança vem em  escalada crescente. Na pesquisa anterior (em 2017), o índice de medo de violência política ficou em 0,68 – em uma escala que vai de 0 a 1. No levantamento atual, o indicador chegou a 0,76. 

Indicadores

Política e religião andam juntos para 56% dos eleitores, segundo uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha. O estudo também conclui que para o brasileiro os valores familiares são mais importantes do que propostas para a economia do País.

A renovação no Congresso Nacional tende, de cerca 40%. Um dos motivos, de acordo com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é que o número de deputados federais que estão em exercício do mandato e tentarão reeleição é o maior da história.

Em resumo

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