Diego Andrade Bini *
Em outubro deste ano, realizou-se em São Paulo o Veículo Elétrico Latino-Americano, um salão que recebeu apenas 6 mil visitantes. De certa forma, o evento acaba sendo um retrato fiel do desempenho dos carros elétricos no Brasil e também no resto do mundo. Em setembro, no recente Salão de Frankfurt, todas as montadoras europeias apresentaram planos para novos lançamentos de carros elétricos, mas também avisaram: “Nós fizemos a nossa parte”.
Em comunicado conjunto, as montadoras revelaram que consideram que fizeram a sua parte para a popularização dos carros elétricos, desenvolvendo diversos modelos e investindo em pesquisa. Agora, de acordo com elas, seria a vez dos governos nacionais e dos consumidores contribuírem para o sucesso da tecnologia.
Pelo menos em parte, há razão para compreender o comunicado das montadoras. Em relação ao percentual de vendas no geral, os carros elétricos correspondem a cerca de 3% do mercado apenas. Isso é um número muito baixo para o total de dinheiro investido nos recursos.
A situação deve permanecer assim. De acordo com a previsão de especialistas, o volume de venda dos elétricos deverá manter o ritmo e chegar até meados da próxima década, quando finalmente ultrapassará a barreira e começará a dominar o mercado.
As razões para a demora na adoção dos carros elétricos são muitas. Apesar de todas as vantagens que eles têm, como facilidade na instalação e criação de acessórios automotivos, economia no combustível e menos danos ao meio ambiente, os veículos elétricos contam com uma série de problemas para serem resolvidos.
O primeiro deles é a infraestrutura. Muita gente não percebe, mas toda a infraestrutura veicular atualmente é pensada em carros a combustão. Por exemplo, todas as bombas de gasolina só estão equipadas para isso. As distâncias dos postos de atendimento nas rodovias é pensada na autonomia dos carros a combustão e não nos elétricos.
Por isso, para que haja espaço para os elétricos no Brasil, é necessário criar uma infraestrutura que dê suporte para esses veículos. Por causa disso, muitas empresas estão trabalhando para trazer justamente esse recurso ao mercado.
Recentemente, no fim de outubro, a EDP Brasil (filial nacional da Energias de Portugal, empresa responsável pela produção energética em Portugal) firmou um acordo com várias empresas, entre elas a Porsche, Audi, Volkswagen, ABB, Siemens e Electric Mobility Brasil para investir R$ 32,9 milhões na instalação de uma rede de recarga rápida em 30 postos espalhados nas rodovias de São Paulo.
A ideia é fornecer uma rede de abastecimento que permita que os veículos elétricos possam correr do Paraná até o Espírito Santo sem dificuldades de abastecimento (isso porque já existem redes similares no Paraná, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo).
Essa é apenas uma das 30 propostas que foram aprovadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) dentro do plano Desenvolvimento de Soluções em Mobilidade Elétrica Eficiente. No total, o plano prevê o investimento de R$462,8 milhões na criação de infraestrutura para carros elétricos no Brasil. Desse montante, R$72,2 milhões serão investimentos privados de empresas do setor automobilístico ou de energia, enquanto os outros R$391,6 milhões serão do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
De acordo com a EDP, a perspectiva é que existam pelo menos 2 milhões de carros elétricos no Brasil até 2030, quando talvez sejam necessários novos postos de abastecimento para lidar com uma demanda maior.
Em 2019, de janeiro a agosto, foram emplacados 4.172 carros elétricos, um número maior do que o total de 2018 (3.970) e mais ou menos equivalente a 1 terço de todos os veículos elétricos licenciados no país desde 2012 (14,8 mil).
Além dos carros de passeio elétricos, a grande aposta das empresas atualmente são os veículos funcionais, como os ônibus e caminhões. Eles devem ser os primeiros a serem eletrificados pois contam com maior dose de investimento por trás, além de terem aceitabilidade mais fácil. Segundo especialistas, é bem mais complicado fazer com que os elétricos penetrem a massa urbana comercial.
Isso acontece não só pela falta de infraestrutura, mas pela acessibilidade. O elétrico mais barato no Brasil é o iEV20, da JAC Motors, recém-anunciado por R$ 119.990. O preço é bem acima da média do mercado, especialmente quando pensamos que o Onix custa aproximadamente R$ 40 mil. Os números também não animam no quesito desempenho: o motor gera 68 cavalos de potência, não ultrapassa 111 km/h e leva 16 segundos para ir de 0 a 100 km/h.
Por isso, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que os carros elétricos deixem de ser uma realidade distante e passem a exercer o papel revolucionário que tantos especialistas disseram que eles teriam. Afinal, é fato de que quando as frotas forem elétricas e não a combustão, o dano ambiental será muito menor, as cidades terão ares mais puros e a economia será significativa para os motoristas.
- Analista de Conteúdo na Upsites