Carlos Teixeira
Radar do Futuro
No final dos anos 1990, o analista de sistemas Roberto Teixeira lançou em Belo Horizonte um site de supermercado eletrônico de uma empresa de Sete Lagoas, no interior de Minas Gerais. Foi algo extremamente inovador para a época. O consumidor utilizava um CD para acessar as informações, trafegava por dentro da loja de dois andares, reprodução da loja física. O potencial comprador passeava por estantes fazendo escolhas de produtos. A simulação incluía a passagem por uma escada rolante para ter acesso ao segundo pavimento. Confira aqui como funcionava.
Eram tempos de início de internet. Muito lenta, para quem lembra daqueles tempos pré-históricos. E a ideia não foi para frente. Por diferentes motivos. Aspecto relevante foi a precocidade da iniciativa, claro. Mas também porque as redes de hiper e de supermercados jamais tiveram interesse em apoiar de verdade esse negócio de comércio eletrônico.
Afinal, lojas do segmento não vendem só produtos. Comercializam, em especial, espaço. São empresas focadas em estratégias. Como aquelas em que o sujeito vai a uma loja para comprar fralda descartável e sai de lá com cerveja e uma carne para um churrasco. Daí, é fácil entender que o que chamam hoje de supermercado virtual não passa de serviço de tele-entrega, em que o consumidor faz pedidos pela internet, preenchendo formulários. Uma chatice, com preço mais alto do que na loja física.
Maturidade tecnológica
Vinte anos depois, as condições ideais para o desenvolvimento do supermercado virtual estão colocadas à disposição. Próximos de ter internet em velocidade 5G, com computadores algumas centenas de vezes mais velozes e capacidade de armazenamento expandido exponencialmente, chegou o momento em que a tecnologia está pronta. E os supermercados começam a enxergar que os consumidores estão reivindicando mudanças de verdade.
As grandes corporações do setor de supermercados sucumbem definitivamente à força das tecnologias e às novas demandas dos consumidores, que priorizam a comodidade e a integração de canais digitais e físicos de vendas acima de tudo. Falando sério, o que chamam de supermercado virtual é, hoje, pouco mais que um serviço de tele-entrega em que você, consumidor, paga mais caro para fazer pedidos pela internet.
O cenário vai mudar nos próximos anos, de verdade. A meta de digitalização das vendas tem, como jogador de peso e impulsionador de mudanças, agora, o Grupo Carrefour Brasil. Em comunicado à imprensa, a multinacional de capital francês anunciou a criação, no início de fevereiro, do eBusiness Brasil (CeBB). Uma unidade cujo objetivo é posicionar a marca como líder no segmento de comércio eletrônico de alimentos. A viabilização passa por parcerias com startups para acelerar as iniciativas de transformação digital da empresa.
Antes, no ano passado, diferentes iniciativas revelaram a disposição do tal posicionamento forte no mercado, com foco no segmento de alimentação. Um dos sinais da disposição de ir à luta no mercado brasileiro foi a aquisição total da e-Mídia, empresa do segmento de tecnologias de alimentos, focada em conteúdo digital, controlador dos sites Cyber Cook, Vila Mulher e Mais Equilíbrio, portais com cerca de 4 milhões de visitantes por mês.
Foco em liderança
O mercado entendeu a iniciativa como mais um desdobramento da atual estratégia do grupo. Ele pretende liderar o movimento de transformação digital e transição alimentar para estimular hábitos de alimentação mais saudáveis por meio de serviços de integração de pontos de vendas físicos e digitais, os omnicanais.
A partir desta operação, a companhia irá desenvolver diversos serviços, sobretudo com foco em alimentação, saudabilidade e bem-estar. O Cyber Cook, uma das mais relevantes comunidades de culinária e gastronomia da internet brasileira. A mídia será um pilar importante da estratégia do Grupo Carrefour Brasil.
O portal reúne mais de 100 mil receitas, sendo mais de 90 mil delas compartilhadas pelos próprios usuários, que compõem uma engajada audiência para o compartilhamento de experiências. A plataforma vai acelerar a inserção dos formatos do Grupo Carrefour Brasil nos meios digitais como um laboratório de soluções e inovações, promovendo maior eficiência a partir da gestão de dados e do uso de inteligência artificial.
Executivos da unidade brasileira do Carrefour consideram que a operação representa mais um passo relevante da estratégia corporativa, que contempla o investimento em inovação para oferecer serviços omnicanais que facilitem a vida dos clientes”. A aquisição do e-Mídia amplia a relevância e a integração da oferta online e física, sobretudo para venda de alimentos, completa.
Serviços e conteúdos
Em outubro, a companhia lançou o movimento Act For Food, novo posicionamento que direciona uma série de ações para ampliar o acesso do consumidor a produtos saudáveis e de qualidade. A nova unidade de negócio estará submetida à operação de comércio eletrônico do Grupo Carrefour. Apesar da relevância atual, o Cyber Cook ainda é um negócio com grande potencial de crescimento e oportunidades para criação de serviços e conteúdos.
No final de 2018, a rede anunciou planos de instalação de tecnologias “scan and go” em pelo menos em quatro lojas no Brasil. A tecnologia, que ganhou notoriedade com a instalação da Amazon Go, possibilita ao consumidor entrar e sair de uma loja sem precisar passar por um caixa. A ideia do grupo varejista é começar a viabilizar pagamentos via QR Code lidos pelo aplicativo da marca, dispensando assim a necessidade de caixas. O pagamento é feito diretamente pelo aplicativo.
Em resumo