O futuro da publicidade digital não será moldado apenas por algoritmos, mas por equipes criativas capazes de explorar essas ferramentas com inteligência e sensibilidade
Jean Campos
Creative Director e Founder da MUVA House*
No frenético universo do marketing digital, onde cada segundo de atenção do consumidor vale ouro, as marcas apostam cada vez mais em estratégias emocionais para se destacar. Entre elas, os mascotes corporativos seguem como recurso poderoso: segundo a Nielsen, podem elevar o reconhecimento de marca em até 30% e o recall em 41%.
Não à toa, ícones como a “Lu” do Magazine Luiza ou o “CB” das Casas Bahia se tornaram mais do que símbolos, são personagens que personificam valores, criam conexões e movimentam mercados. Neste cenário, a Inteligência Artificial generativa surge como uma promessa tentadora: criar personagens de maneira rápida, customizada e em escala. Mas será que essa promessa está sendo bem compreendida?
O avanço da IA generativa, especialmente na criação visual com recursos como CGI e fluxos de trabalho automatizados, pode dar a falsa sensação de que o processo criativo foi totalmente dominado por máquinas. Essa crença leva muitas marcas a subestimarem o investimento necessário em curadoria, refinamento técnico e, principalmente, direção criativa.
A produção de conteúdos com IA requer envolvimento artístico intenso e experiência no setor para construir datasets sintéticos capazes de gerar entregas de alto nível. É o caso de modelos de IA customizados para marcas, como personagens, produtos, alimentos e até veículos automotivos.
Um exemplo recente é o uso de IA treinada com centenas de imagens de alta qualidade para ensinar o modelo sobre os detalhes visuais de uma linha de veículos pesados, alcançando uma acurácia acima de 90%. Ainda assim, mesmo com modelos robustos, a interferência humana segue indispensável: a IA não compreende o tom de voz da marca, a emoção de um personagem nem o impacto cultural desejado, ela apenas replica padrões.
Acreditar que é possível obter um mascote pronto para qualquer campanha com algumas imagens de referência é ilusório, e arriscado para marcas que buscam diferenciação real.
O caminho não está em abandonar a tecnologia, mas em colocá-la em seu devido lugar: como ferramenta, não como criadora. A IA pode sim acelerar processos, reduzir custos e ampliar possibilidades visuais. Mas sem um direcionamento estratégico e artístico claro, os resultados são genéricos, desconectados e facilmente esquecíveis.
O futuro da publicidade digital não será moldado apenas por algoritmos, mas por equipes criativas capazes de explorar essas ferramentas com inteligência e sensibilidade. A solução está em entender a IA generativa como aliada de uma narrativa bem construída, e não como substituta da imaginação humana. Afinal, são as ideias que emocionam, conectam e permanecem.
* Jean Campos é Creative Director e Founder, especialista em inovação e tecnologias criativas, com mais de 20 anos de experiência no mercado. Ao longo de sua carreira, tem se destacado no desenvolvimento de soluções inovadoras para grandes marcas, utilizando tecnologias como IA generativa, gêmeos digitais, realidade aumentada (AR), realidade virtual (VR) e engines em tempo real. Jean foi Head de Criação e Inovação no Rock in Rio, onde contribuiu com a transformação digital do evento, e hoje é uma referência na integração de tecnologia de ponta e storytelling personalizado, com foco no mercado B2B. Com uma visão inovadora, ele tem ajudado a moldar o futuro das experiências digitais.