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Seis meses de governo: hora de analisar a que vieram

A dedução que se faz dos indicadores de mercado é de uma tremenda estagnação com viés de crescimento zero, ou negativo.
A dedução que se faz dos indicadores de mercado é de uma tremenda estagnação com viés de crescimento zero, ou negativo.

Paulo Roberto Bretas
Economista

Após quase seis meses de governo, mesmo representando apenas uma amostra de 12,5% do seu tempo total de quatro anos do mandato, não se pode esperar boas coisas para o futuro do Brasil, mesmo com Deus acima de todos. O país desejado pelos brasileiros, inclusive por nós, economistas, é um país com desenvolvimento econômico; com distribuição de renda e consumo ao alcance das pessoas; cuidados adequados com as crianças, adolescentes e idosos; justiça social e tributária; além de uma democracia forte e respeitada. Este país, desafortunadamente, está longe de acontecer nos próximos anos.

A pouca certeza que se têm é a de termos que conviver com um governo do improviso, alicerçado em ideologias fundamentalistas cristãs, situado à direita no espectro político, envolto num conservadorismo radical, quase medieval, que muitas vezes expressa sua ignorância e estupidez como quem advoga as falsas verdades do pensamento único. Seus pilares são suportados por ampla gama de militares da reserva – alguns já arrependidos ao verificar a “queimação” do nome da instituição, evangélicos radicais e alguns seguidores do Professor Olavo de Carvalho, que ocupam alguns dos mais importantes cargos da República. Mesmo com esta base de apoio derivada do processo eleitoral, o presidente não constrói nenhuma estabilidade administrativa, na medida em que ministros e dirigentes de estatais seguem sendo trocados todos os meses, pelos mais inusitados e imaginários motivos.

Verdades científicas vêm sendo negadas continuadamente pelos novos expoentes da República. Muitos dos participantes agem e se expressam sem compromisso com a verdade, ou mesmo com respeito às divergências inerentes à busca da verdade. Atuam com desprezo às instituições democráticas e com impaciência em relação às diferenças. Fica claro um desejo íntimo autoritário de poder governar por decretos, em continuar em guerra eleitoral com os opositores e com os demais poderes da República.

As conexões com ideologias que advogam combater a violência com mais violência, traduzidas pelo incondicional apoio à liberação de armas, transfere as políticas de segurança da esfera pública para a esfera privada – a lógica é que cada qual se proteja com suas armas, como puder. Bandido bom é bandido morto, desde que a direita armada eleja esses bandidos.

Algumas das conquistas civilizatórias da humanidade no campo da igualdade de gêneros, da justiça do trabalho, da participação social, da garantia dos direitos sociais e do respeito ao meio ambiente estão sendo revistas para pior. Minorias são tratadas a ferro e fogo, indígenas e quilombolas que o digam.

No âmbito da política ambiental Bolsonaro prometeu abrir a Floresta Amazônica para a mineração, acabar com a demarcação de terras indígenas e enfraquecer as agências de proteção ambientais, além de desqualificar as discussões sobre o aquecimento global. O presidente do Brasil que sempre foi reconhecido como uma liderança mundiais, pela importância do país, hoje fica isolado nos encontros internacionais muito pelo seu descaso com o meio ambiente.

A política externa, capitaneada pelo Ministro Ernesto Araújo é alvo de críticas internacionais pelo alinhamento absoluto aos Estados Unidos e a Israel, colocando em risco anos de construção de uma diplomacia mais neutra e ameaçando a balança comercial do Brasil, dependente de vendas para Países Árabes, Europa e China. Não são poucos os diplomatas que vêm a público manifestar vergonha em relação ao que está acontecendo no campo das relações internacionais.

No campo da economia, até o momento não se conseguiu fazer com que tenhamos mais crescimento, com mais empregos. A cada nova divulgação das projeções do PIB de 2019 a taxa vem mais reduzida. A dedução que se faz dos indicadores de mercado é de uma tremenda estagnação com viés de crescimento zero, ou negativo.

A inflação segue bastante comportada, na faixa dos 4,0%, e o Banco Central insiste em não reduzir a taxa básica de juros, se esquecendo que sua missão deveria ir além do controle da inflação ajudando na recuperação da economia. Se os juros seguirem altos, o Governo seguirá rolando a dívida pública a custos elevados, os empresários não terão crédito barato e os consumidores fugirão das compras parceladas.

A economia brasileira segue com baixos índices de competitividade e uma mão de obra de baixa qualificação. O desenvolvimento do país depende da incorporação de novas tecnologias aos negócios. Para tanto é preciso haver crédito e incentivos. O crescimento econômico depende de investimentos, que tragam mais empregos e aumentem a produtividade. O crescimento tão almejado por toda a sociedade depende da ampliação do consumo e de uma maior confiança de empresários e trabalhadores. Precisa antes esgotar a capacidade ociosa da economia para que o empresário volte a investir.

Os investimentos públicos e privados seguem extremamente baixos em relação ao PIB. O consumo das famílias continua bastante tímido. O crédito na ponta segue dificultado por juros elevados, alimentados pelo combustível da especulação. Os impostos seguem altos para padrões internacionais, o crescimento da relação dívida/PIB vai chegando aos 80%. Os desentendimentos com o Congresso Nacional e as mais altas cortes do país têm sido constantes.

Para um governo adepto da livre iniciativa e do pouco intervencionismo do Estado, este tem sido muito pouco afeito para abrir mais a economia brasileira à concorrência. Um, governo que faz pouco para desburocratizar suas relações com a sociedade, faz muito pouco para simplificar impostos e taxas, reduzindo suas alíquotas. Afinal, que espécie de liberalismo é este? Qual é o plano de voo do Governo nos ajustes microeconômicos?

Que ninguém venha dizer que a Reforma da Previdência resolverá os problemas do país, Nem mesmo reduzirá os gastos públicos, no curto prazo. A Previdência Social precisa mesmo é retomar seu lugar no cenário brasileiro de combate aos históricos desníveis de renda do país. O atual governo só consegue enxergá-la pela ótica das despesas. Se aprovada uma reforma, já se pode definir quem pagará boa parte da conta: o povo pobre e humilde, ganhador de até um salário-mínimo. São 67 milhões de brasileiros, que sobrevivem com um salário-mínimo por mês. Destes, algo em torno de 23 milhões são aposentados e 44 milhões estão em atividade.

A confiança dos chamados agentes econômicos, que já esteve alta no início do ano, vem caindo a cada mês. A sociedade vai se cansando de um governo que segue se equilibrando em meio a tentativas e erros. Talvez mais erros do que tentativas.

Enquanto o governo naufraga, as desigualdades sociais se ampliam no país, com nível de desemprego elevado, trabalho informal substituindo o formal e a renda média dos brasileiros em queda. Mais e mais pessoas vão dando adeus à classe média. O Brasil vai voltando ao mapa da fome, enquanto a renda se concentra nas mãos de uma elite rentista e retrógrada. Num cenário como este qual o futuro para a maioria dos brasileiros? Que futuro tem este governo?

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