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O que vem por aí: março de 2023 a necessidade de ser o velho político mineiro

CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro

No terceiro mês do terceiro de mandato como presidente do Brasil, Lula tende a continuar parecendo com os políticos mineiros de antigamente, quando era possível encontrar pensadores entre os integrantes do parlamento. Os dois primeiros meses de 2023 mostraram a necessidade assumir o papel de articulador com grande habilidade, porém discreto, desconfiado, atribuindo grande valor às conversas ao pé do ouvido. Não pode ser previsível. Precisa sinalizar que vai para um lado, mesmo que os olhos se voltem para as outras bandas da estrada. Prudente, o “Lula ao estilo mineiro” deve falar bem menos do que no passado.

A desconfiança é uma virtude a ser exercitada pelo presidente e por quem acreditou nas boas intenções das elites do País nos carnavais da década de 2000. Como assinala o economista Eduardo Costa Pinto, o governo vai viver um processo de tensões permanentes. Bolsonaristas insandecidos, militares, mercado financeiro, empresários e a imprensa são lobos à espreita.

As alianças para viabilizar a governabilidade não garantem nada. E ainda criam problemas adicionais, com ministros que podem gerar mais problemas do que soluções. O site Congresso em Foco ressalta que os três ministros da cota do União Brasil viraram uma usina de problemas para o governo, em decorrência do histórico de condenação, ligação com milícia e outras irregularidades. Por outro lado, a bancada continua majoritariamente oposicionista.

Brasília (DF), 02-03/2023 – Presidente Luiz Inácio Lula da Silva lança o novo programa Bolsa Família. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O presidente sabe que muitas minas explosivas estão em seu caminho. Em fevereiro, foi necessário bater contra a tese da “independência do Banco Central e mostrar como o presidente do BC, Roberto Campos Neto, atua como fiel aliado de Bolsonaro. Com lado, sem qualquer independência. Agora, na transição de fevereiro para março, o governo abortou uma iniciativa do Centrão na Petrobrás, destinada a neutralizar os planos do governo na estatal. O grupo de parlamentares de negócios rejeitou os nomes sugeridos pelo PT para ocupar o Conselho de Administração da Petrobras e acabou fazendo a indicação de seus aliados para ocupar o colegiado.

Tendência

A sociedade começa a saber que não existe uma única corrente de pensamento sobre a economia

O embate do presidente Lula com Roberto Campos, do Banco Central, revelou que a economia tem mais teorias e práticas do que o mercado financeiro e seus seguidores, com a imprensa à frente, fazem parecer. De marxistas a seguidores de escolas austríacas, passando por keneysianos, existem dezenas de tons de vermelho ao cinza de pensamento.

Contexto: acontecimentos em destaque

o que vem por aí
carnaval foto bruno figueiredo - prefeitura de BH

O Carnaval, em fevereiro, celebrou o fim da pandemia e do autoritarismo. É como se o ritual tivesse a capacidade de mandar embora o autoritarismo e a política de exclusivismos e invadir a festa com um Brasil que surge exaltando a República.

Contra o ódio: governo cria grupo de estudos

O governo instituiu um grupo de estudo sobre o discurso do ódio no Brasil. A iniciativa inclui os objetivos de elaboração de estratégias de combate ao discurso — e prática — do ódio e ao extremismo. E propor polítícias públicas em direitos humanos.

Desafio gigantesco

O assassinato de sete pessoas, incluindo uma pré-adolescente de 12 anos, em Sinop, no interior do Mato Grosso, dá uma dimensão do desafio a ser enfrentado pelo grupo de estudos ao combate ao ódio, liderado pela ex-deputada gaúcha Manoela D’Ávila. Os dois assassinos, portadores de armas legalizadas, são, tipicamente, seguidores do culto propagado durante o governo de Jair Bolsonaro.

Zeitgeist – sinais dos tempos – Ao mesmo tempo em que iniciativas individuais e de grupos de pessoas buscam ajuda para as vítimas da catástrofe, há quem tente lucrar. O preço cobrado pela água potável por comerciantes provocou revolta. As autoridades reclamam do comportamento de turistas que, sem qualquer tipo de empatia, insistem em viajar para as cidades atingidas, como se tudo estivesse normal.

Mais sobre sinais dos tempos – Ao cobrir a tragédia no litoral norte de São Paulo, uma repórter e um cinegrafista foram agredidos em um condomínio de luxo.


Eventos climáticos extremos

Um “evento absolutamente extremo e histórico”, no fim de semana de carnaval, deixou mais de 50 mortos e centenas de desalojados e desabrigados nas cidades de São Sebastião, Caraguatatuba, Ubatuba, Ilhabela e Bertioga, no litoral norte de São Paulo. Houve uma combinação de fatores relacionados à chuva, ao vento e ao mar, que provocaram inundações e deslizamentos de terra.

Como enfrentar a crise? – O volume de chuva acende um alerta para pesquisadores: como estudar e se preparar para o aumento dos eventos climáticos extremos e cenários cada vez mais imprevisíveis?

Geopolítica: a guerra

O dia 24 de fevereiro marcou o primeiro aniversário da mobilização do exército russo em direção à Ucrânia. A guerra já provocou a morte de mais de 8 mil civis e de 13,2 feridos, segundo dados da Organização das Nações Unidas. E não parece ter uma solução próxima.

A Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, na quinta-feira (23), uma resolução de pede a retirada das tropas russas da Ucrânia.

Surpresa – Para os analistas políticos, a posição do Brasil, à favor da resolução, foi uma surpresa. Para os representantes brasileiros na ONU, o contexto importa já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu sinal verde do Kremlin para seguir com a intenção de liderar esforços para acabar com a guerra.

Por falar em guerras – A guerra entre a Rússia e a Ucrânia, apoiada diretamente apoiada pelos Estados Unidos, começou em 2014, quando um golpe derrubou o governo ucraniano da época. O conflito é o resultado da estratégia aplicada pelos governos norte-americanos com o objetivo de desestabilizar as democracias que tentam mostrar autonomia.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, assumiu que o conflito na Ucrânia não teve início com a “invasão russa”, mas foi desatado com a instalação do regime de Kiev – infestado de neonazistas – através de um golpe de Estado sob intervenção da CIA no ano de 2014. Ele desmente a narrativa do regime de Kiev e de Washington de que se trata de uma guerra “não provocada” iniciada pela invasão russa em 24de fevereiro do ano passado.

Movimento dos atores

Imprensa: neste momento, em diversos países europeus, setores populares se mobilizam contra a guerra na Ucrânia e em defesa da paz, sem cobertura de mídia ocidental. Um dos objetivos é denunciar os interesses econômicos e políticos envolvidos, sob a influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), comandada pelos Estados Unidos e indústria de armas, que nunca ganhou tanto dinheiro.

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