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O que a indústria 4.0 espera do futuro no Brasil

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O Brasil pode perder o bonde do desenvolvimento de uma indústria moderna nos próximos anos

Carlos Teixeira
Jornalista

O Brasil pode perder o bonde do desenvolvimento de uma indústria moderna nos próximos anos. O país precisaria de um investimento fixo de algo como 30% ao ano para recuperar as perdas passadas. Mas a realidade é que o índice hoje está em cerca de 15%, depois de alcançar uma média de 20% e cair a 18% no início da crise atual.

Pensar no modelo da indústria 4.0, preconizado no mundo desenvolvido é uma ilusão. Mesmo que sejam recolhidos alguns exemplos de iniciativas brasileiras envolvendo setores como o de vestuário e automobilístico, as perspectivas são pouco promissoras. O fato é que as condições e as prioridades políticas e econômicas não são favoráveis.

A indústria 4.0 pressupõe a comunicação entre as tecnologias. Uma máquina falando com a outra, tomando decisões a partir do cruzamento de informações. Combina inovações em análise de big data, inteligência artificial, impressão 3D e utilização de novos materiais. Tudo combinado com automação e robótica avançada. Essa combinação vai possibilitar a implantação de estratégias de produção personalizada, um dos grandes ícones do marketing do futuro.

“As iniciativas estão dispersas”, avalia João Alfredo Delgado, diretor-executivo de Tecnologia da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq). O executivo reconhece que os problemas da indústria não são necessariamente de acesso às tecnologias e ao conhecimento. Por dois motivos, pelo menos.

Primeiro, porque a engenharia brasileira e a ciência da computação detêm conhecimentos suficientes para desenvolver projetos. Além disso, a indústria 4.0 é um conceito ainda recente. As iniciativas em desenvolvimento no planeta estão ainda em fase inicial. “Há um processo de experimentação”, sintetiza o diretor da Abimaq.

“Temos condições, mas não temos investimentos”, resssalta João Alfredo Delgado. A entidade promove iniciativas de integração de setores para avaliar oportunidades. Marcas como Renner e Grendene têm projetos que aproveitam o potencial das tecnologias nos sistemas de produção. Mas são iniciativas isoladas.

Muitas delas sequer garantem uma entrada no novo modelo de negócios proposto para o futuro. Uma das dificuldades da transição é superar a “cultura empresarial” ancorada no padrão de controles físicos da produção, por meio de papéis, mapas e formulários, e adotar o sistema digital.

Grandes e médias indústrias instaladas no Brasil avançam em direção ao novo modelo de produção industrial. Mas a modernização ainda é um objetivo distante. Em entrevistas, João Alfredo Delgado tem reiterado que o requisito mais importante é tornar a indústria 4.0 uma questão de Estado. Não é uma questão de ideologia. Afinal, os governos da Alemanha e dos Estados Unidos demonstram a disposição de favorecer os seus países nessas questões.

Para o executivo, “o governo tem de assumir a liderança, é o presidente da República quem deve estar à frente do programa, como mostram os exemplos dos países avançados.” Envolvido em denúncias de corrupção, recordista de impopularidade e sob ataque crescente dos prejudicados pela eliminação de direitos sociais, o governo brasileiro a curto prazo é peça fora do jogo. Dependendo do desfecho da crise atual, pode ser uma consequência definitiva.

“É necessário desmistificar algumas questões envolvendo o nosso atraso na adoção das tecnologias”, recomenda. Há as iniciativas lideradas por órgãos como a própria Abimaq e algumas áreas de governo. Mas também há o reconhecimento de que investimentos públicos não vão entrar na lista das prioridades, no momento em que a política econômica pratica ao extremo propostas de redução da participação do setor público na economia.

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