André Duek *
A criatividade brasileira nunca foi tão bem-vinda no mercado norte-americano. Seja no sucesso de um aplicativo de entrega de coxinhas e outros salgadinhos em Nova York ou na participação verde e amarela em uma fintech de cartões corporativos para startups, criada no Vale do Silício e avaliada em bilhões, a inovação aliada com tecnologia e a mente inventiva de quem nasce no Brasil vêm sendo bem aproveitadas.
É ultrapassada a mentalidade de que os outros países só enxergam os imigrantes como um estorvo. Quem leva bons incentivos e coloca a mão na massa encontra um mercado menos burocrático e com maiores possibilidades de retorno. Não é difícil entender a empolgação de quem já começou a se aventurar com seus negócios nos EUA.
O estado das brasileiríssimas Miami, Fort Lauderdale e Orlando é um dos destinos ávidos por se tornar mais participativo no mercado de inovações. Um relatório recente da Florida Chamber of Commerce (FLCC) concluiu que o estado precisa melhorar sua atratividade para capturar mais investimento direto vindo de outros países (FDI, na sigla em inglês), especialmente ligados a “inovações e tecnologias disruptivas”.
O empreendedor vindo do Brasil tem motivos para ser visto com bons olhos nesse processo. Empresas com donos nascidos no maior país da América do Sul, segundo o dado mais recente da FLCC, empregam 5,8 mil pessoas na Flórida, sendo a nação latina que mais contrata trabalhadores por lá, à frente de empreendimentos de outras nacionalidades, como Espanha, México e Austrália.
Com um mercado de negócios instável no Brasil, muitos empresários têm buscado se tornar o próximo exemplo de sucesso nos EUA, que vive sua menor taxa de desocupação em 50 anos – 3,5% – e apresenta uma economia aquecida e disposta a receber profissionais e empreendedores qualificados com boas ideias.
Pode parecer clichê, mas para quem quer abrir um negócio nos EUA ou em outro lugar precisa pensar fora da caixinha e avaliar outras possibilidades além de, por exemplo, restaurantes, tipo de empreendimento mais comum pelos brasileiros que migram profissionalmente para a Terra do Tio Sam. Ninguém vai chegar muito longe fazendo mais do mesmo.
Ao levar os negócios para o exterior, é importante ter o diferencial que possibilite a exploração de um público ávido por novidades. Eu percebi isso quando montei a primeira empresa de sócios brasileiros dos EUA no ramo de locação de motorhomes e investi em uma boutique imobiliária na Flórida. Quanto mais qualificado for o negócio, maior a taxa de sucesso.
Empresas tupiniquins também testam suas possibilidades de sucesso na concorrida Bolsa de Valores americana. Desde 2018, dez companhias nacionais, a maioria ligada ao ramo tecnológico, como as redes de pagamentos PagSeguro e Stone e a empresa de sistemas de educação Arco, abriram seu capital nos EUA. Esses movimentos fizeram com que, nos últimos 3 anos, as companhias nacionais levantassem o valor histórico de US$ 5,3 bilhões em solo americano, conforme dados do Citi Brasil.
E ainda existe um contexto maior que engloba esse momento. Dados do Mapa Bilateral de Investimentos Brasil / USA 2019, mostram que o estoque de IED (Investimento Estrangeiro Direto) brasileiro nos Estados Unidos cresceu 356% entre 2008, quando era de US$ 9,3 bilhões, para US$ 42,8 bilhões em 2017. O Brasil foi o segundo país que mais gerou empregos, atrás apenas do México. Empresas brasileiras, em 2015, também detinham US$ 102,2 bilhões em ativos nos Estados Unidos, o dobro de 2009.
Se existe uma lição que as incertezas do ambiente de negócios brasileiros deixa, é a da necessidade de percorrer caminhos distintos em momentos de instabilidade. Explorar mercados estrangeiros pode ser o tiro certo.
- André Duek é empresário com experiência na gestão de grandes empresas no Brasil como as marcas de moda Forum e Triton. Atua nos EUA.