Letícia Piccolotto *
É o momento de priorizarmos de forma estratégica a pauta da educação no Brasil. Investimentos na área e em infraestrutura podem ser fator de transformação no país. A evasão escolar está entre os maiores desafios da educação. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), do IBGE, quase quatro em cada dez jovens de 19 anos não concluíram o ensino médio. Desses, 62% estão fora da escola e 55% pararam de estudar ainda no ensino médio. Segundo um levantamento da Galeria de Estudos e Avaliação de Iniciativas Públicas – a GESTA –, a evasão tem 14 diferentes motivos, entre eles estão: acesso limitado à escola, gravidez e violência.
Mas algumas iniciativas têm comprovado que a tecnologia é uma aliada no processo de transformação da realidade. Por exemplo, a plataforma Mobieduca.me, que vem promovendo uma revolução no estado do Piauí. A startup desenvolveu uma ferramenta de monitoramento que, entre outras tarefas, comunica aos pais se os filhos estão ausentes na escola. O contato é feito por meio de mensagens via telefone celular. Os resultados são animadores: houve uma redução drástica tanto na evasão escolar quanto no número de faltas.
Em 2015, cerca de 40 mil alunos saiam das escolas antes do término do curso. No último censo, o número foi de 11 mil. Hoje a média de frequência dos alunos da rede piauiense é de 98%. Com a tecnologia, os pais conseguem até saber quando os filhos chegaram às escolas.
O rendimento dos alunos também é monitorado pela plataforma e a mudança é impressionante. Em 2013, o município de Teresina ocupava a 13ª colocação entre as capitais no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Em 2017, foi a primeira capital em resultados do Ideb.
Foi preciso convencer o poder público, os professores e a comunidade sobre a importância do uso da plataforma e torná-la simples e de fácil compreensão. O processo de implementação é gradativo e depende do orçamento do Estado.
O caso em análise prova que o governo precisa incorporar metodologias de user experience para a construção das políticas públicas e serviços digitais. Hoje um dos maiores riscos para a implementação de uma agenda digital no Brasil é a e-burocracia: a substituição da burocracia convencional pela digital.
O nível de expectativa da população e da experiência digital vai continuar aumentando. Isto porque, hoje, além das compras pela internet, pedidos de comida e transporte feitos por aplicativo, a sociedade também quer um governo transparente, efetivo e de fácil acesso pelo celular. Esta tendência não será revertida.
- Letícia Piccolotto é mestre em Ciências Sociais, especialista em Gestão Pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, plataforma brasileira que conecta startups e governos para estimular a inovação no setor público.