Ministro Paulo Guedes mostra desconhecimento — além do preconceito — ao criticar o Fies e políticas de investimento social que possibilitam ao filho do porteiro ter acesso ao ensino universitário
Jader Viana
Jornalista e economista
Já é quase um consenso que o investimento em educação aumenta as chances de crescimento econômico de um país. Digo quase porque algumas pessoas ainda não se deram conta de que o aumento da produtividade é um ponto fundamental para o desenvolvimento da economia e que sem educação dificilmente há aumento de produtividade. Na semana passada, ninguém menos que o ministro da economia, Paulo Guedes, ao criticar o Fies, programa de financiamento estudantil, disse que o programa foi um desastre e que permitiu que até filho de porteiro entrasse na universidade.
Esta não foi a primeira vez que o “Posto Ipiranga” de Bolsonaro fez comentários segregacionistas. No ano passado, ao criticar a política cambial do governo anterior, ele disse que “empregada doméstica estava indo para a Disney. Uma festa danada”. Neste caso recente, porém, o comentário deixa transparecer um preconceito que pode afetar dramaticamente as políticas econômicas adotadas por quem deve perseguir o crescimento da economia brasileira.
A produtividade média do brasileiro é quatro vezes menor do que a de um trabalhador norte-americano. Nós gastamos 1h para produzir o que eles produzem em 15 minutos. Essa relação é parecida se compararmos com diversos outros países como Noruega, Alemanha, Coreia do Sul etc. E o que é pior: A eficiência de nosso trabalho está estagnada há anos, enquanto avança nesses países.
Ora, se o nosso ministro da economia acredita que filho de pobre não precisar ingressar na faculdade é porque não acredita que o investimento pesado em educação pode transformar o país. Parece desconhecer o clássico exemplo da Coréia do Sul, país que depois de adotar um programa universal em educação, experimentou um vertiginoso crescimento econômico a partir da década de 60.
Para que nossa economia cresça é preciso que nosso ministro, que estudou na universidade de Chicago com bolsa do CNPq, elimine seus preconceitos e comece a desenvolver políticas de crescimento da produção e não com foco nos lucros do sistema financeiro, como tem feito até hoje.