A proliferação de alertas e a quantidade de fenômenos extraordinários, como a crise climática gerada pelo calor no Norte global, não mobilizam as lideranças globais a agilizar decisões.
CARLOS PLÁCIDO TEIXEIRA
Jornalista Responsável | Radar do Futuro
Imagine só. Você mergulha no mar para fugir do calor e descobre que o mar não está nem para humanos, nem para peixes e nem para corais. É o que anda acontecendo da região de Florida Keys, nos Estados Unidos. A temperatura das águas subiu a níveis parecidos com as de banheiras de hidromassagem. O oceano mais quente, calor extremo na Europa e fenômenos extremos em outras regiões, inclusive no Brasil, são indicadores de uma aceleração dos problemas relacionados com o clima.
O pessimismo sobre as perspectivas do clima está em alta, assim como os termômetros. Um novo estudo publicado nesta terça-feira (25) na revista Nature descobriu que a Corrente Meridional do Atlântico (AMOC) pode entrar em colapso em meados deste século, ou até mesmo em 2025. O sistema vital de correntes oceânicas desequilibrado tende a gerar eventos catastróficos para o clima global. Todos os habitantes do planeta serão afetados, caso as projeções sejam confirmadas.
Entre os efeitos negativos apontados pela pesquisa publicada pela revista Nature estão invernos muito mais extremos, aumento do nível do mar, afetando partes da Europa e dos Estados Unidos, e uma mudança nas características do clima nas regiões tropicais.
“É realmente assustador”, disse Peter Ditlevsen, professor de física climática da Universidade de Copenhague e um dos autores do relatório, em matéria publicada pelo site da CNNBrasil. Peter de Menocal, presidente da Woods Hole Oceanographic Institution, reconhece a gravidade do cenário traçado pelo relatório. Segundo ele, o novo estudo “fornece uma nova análise que se concentra em quando o ponto de inflexão do AMOC ocorrerá”, disse de Menocal, e a previsão do estudo de que o colapso ocorrerá por volta de 2050 “é muito em breve, dado o impacto globalmente perturbador de tal evento”.
Aquecimento recorde do mar
Na Flórida, a onda de calor sem precedentes atingiu o litoral da região. Cientistas e meteorologistas testemunham o aquecimento impensável das águas. As temperaturas alcançam, há dias, um intervalo entre 35ºC e 38,3ºC. Assustador? Sim, mas importa saber que, nos Estados Unidos, 50 milhões de pessoas, 17% da população, estão sob alerta de carlor.
“Normalmente, os meteorologistas presumiriam que o medidor estava quebrado e indicando dados errados, mas pelo menos três locais na região registraram 36ºC 8 ou mais, então isso acrescenta credibilidade. E isso ocorre em meio a semanas de temperaturas recordes da água na Baía da Flórida e nas Keys”, explica o meteorologista da Flórida Jeff Berardelli, em matéria publicada pelo site MetSul.
“Essas ondas de calor extremo não podem ser explicadas sem a mudança climática” assinala um estudo publicado pelo World Weather Attribution (WWA). Um dos fatos que mais surpreende os cientistas é o aquecimento extraordinário que as águas superficiais do Atlântico Norte vêm registrando desde o início do ano. Espera-se também que o evento El Niño iniciado em maio passado no Oceano Pacífico contribua para o aumento da temperatura em escala planetária, cuja intensidade continuará aumentando nos próximos meses.
G20 não fecha acordo conjunto
A proliferação de alertas e a quantidade de fenômenos extraordinários, como o calor no Norte global, não mobilizam as lideranças globais a agilizar decisões. A reunião dos ministros do Clima e Meio Ambiente das maiores economias do mundo encerrada em Chennai, na Índia, neste dia 28 de julho, terminou sem um acordo ou declaração conjunta. Os apelos de figuras importantes para que as nações mostrem uma frente unida sobre as mudanças climáticas não surtiu efeitos.
Os ministros do Grupo dos 20 – que emitem cerca de 80% dos gases que aquecem o planeta – não chegaram a um acordo em quatro dos 68 pontos de discussão. Um documento publicado pelo grupo mostra que os países não concordaram em atingir o pico de emissões até 2025, passando para a energia limpa e um imposto sobre o carbono como forma de reduzir as emissões.
As decisões dos ministros serão agora repassadas aos líderes dos países antes de uma cúpula em Nova Délhi em setembro deste ano. Será a última chance do grupo emitir uma declaração conjunta sobre o clima em 2023.
Em resumo