Valter Casarin
Estima-se que mais de 2 bilhões de pessoas sofrem de “fome oculta”. A estatística ressalta a privação de micronutrientes necessária ao crescimento e à boa saúde. O problema se torna mais crítico em crianças pequenas, nas quais a deficiência de micronutrientes causa desnutrição, que pode resultar em dano cognitivo permanente.
Crianças desnutridas terão saúde precária e menor produtividade. A desnutrição é uma grande preocupação, pois compromete as oportunidades e o futuro das pessoas, bem como a perspectiva de alcançar um desenvolvimento sustentável para todos. Se medidas eficazes não forem tomadas rapidamente, mais da metade da população mundial sofrerá de pelo menos uma forma de desnutrição até 2030.
Em 2016, as pessoas subnutridas giravam em torno de 815 milhões ou 11% da população mundial. A deficiência mais comum de micronutrientes é a de ferro. Mais de 30% da população mundial é de anêmicos, uma condição sintomática de deficiência de ferro. Em 2017, a anemia contribuiu para 20% das mortes maternas, segundo relatório da Organização Mundial de Saúde.
Outra deficiência preocupante é a de vitamina A, que é a causa mais comum da cegueira. A cegueira é evitável e avalia-se que 250 milhões de crianças são deficientes em vitamina A, indicando que a cada ano cerca de 250 mil a 500 mil crianças ficam cegas por causa dessa carência. A carência de vitamina A promove, também, o aumento da gravidade de doenças infecciosas e a mortalidade.
A deficiência de zinco é outra preocupação, ocasionando mais de 116 mil mortes de crianças a cada ano, e cerca de 17% da população mundial está em risco de ingestão insuficiente de zinco (HarvestPlus, 2017).
Melhorar o nível de segurança alimentar é o desafio atual. É nesse cenário que a biofortificação surge como uma boa solução. Trata-se do processo de cultivo de plantas com o objetivo de aumentar o conteúdo nutricional ou a densidade de nutrientes nos alimentos.
Em tempos de crise econômica, as pessoas mais carentes tendem a reduzir a compra de alimentos mais caros, como carne, frutas e vegetais. Isso faz com que aumente a procura por alimentos básicos como trigo, arroz, milho, feijão e mandioca, que representam bons meios para os programas de biofortificação.
Por outro lado, os consumidores devem estar cientes de possíveis efeitos negativos de alimentos biofortificados para manter o controle. O excesso de micronutrientes pode aumentar os riscos de obesidade, por exemplo.
A biofortificação convencional introduz características genéticas desejadas por meio de cruzamento de diferentes variedades de plantas. Por exemplo, batata-doce com polpa cor de laranja, resultante de um cruzamento entre uma variedade rica em vitamina A e variedades locais. Outro modo de promover a biofortificação é por meio de práticas agronômicas tais como a adubação direta do solo, o tratamento de sementes ou a pulverização foliar de plantações com nutrientes. Para aumentar a concentração nutricional dos alimentos, o uso de fertilizantes é uma forma eficiente de fornecer os nutrientes necessários, principalmente se estes são carentes nos solos onde as culturas são produzidas.
O melhoramento genético das culturas é um trabalho árduo. Os cientistas escolhem muitas características diferentes, incluindo alto rendimento, resistência a pragas, tolerância à seca, tamanho de grãos e sabor.
Biofortificação é uma intervenção a médio prazo contra deficiências de micronutrientes. Eles podem ter impactos positivos se, e somente se, forem implementados junto com iniciativas de redução da pobreza e outras estratégias – intervenção agrícola, sanitária, educacional e social, que apregoam o consumo em quantidade e diversidade de alimentos nutritivos. A chave para uma boa nutrição está em uma dieta saudável, equilibrada, exigindo acesso a uma variedade de alimentos e a implementação do direito à alimentação.
A biofortificação é um processo relativamente novo que usa técnicas convencionais de seleção e biotecnologia para reduzir os elementos antinutricionais ou aumentar a densidade de micronutrientes nos alimentos básicos. Esta inovação é uma oportunidade para fazer frente ao grave problema da fome oculta.
Presente no Brasil, desde 2016, a Nutrientes Para Vida (NPV) é uma iniciativa que possui visão, missão e valores análogos aos da coirmã americana, a Nutrients For Life. O objetivo é esclarecer e informar à sociedade sobre os benefícios dos fertilizantes (ou adubos) na produção dos alimentos, bem como sobre sua utilização adequada.
Sobre a iniciativa Nutrientes para a Vida
A Nutrientes Para Vida (NPV) possui visão, missão e valores análogos à coirmã americana: Nutrients For Life. Seu objetivo é esclarecer e informar a sociedade sobre os benefícios dos fertilizantes (ou adubos) na produção dos alimentos, bem como sobre sua utilização adequada.
Atua somente com informações embasadas cientificamente, de modo a explicar claramente o papel essencial dos diversos tipos de fertilizantes na segurança alimentar e nutricional, além de seu efeito multiplicador na produtividade de culturas.
“Todo ser vivo necessita de nutrientes para o seu desenvolvimento. Eles são incorporados ao seu metabolismo para manter o ciclo vital. Portanto, as plantas também precisam de nutrientes e é justamente nos fertilizantes que eles se encontram”, afirma Heitor Cantarella, coordenador técnico da NPV.
- Engenheiro agrônomo e diretor científico da iniciativa Nutrientes para a Vida (NPV)