* Por Miguel Fernandes
Você teve uma ideia, entendeu o público-alvo, pensou e validou o modelo de negócios. Recrutou excelentes profissionais de tecnologia e design para seu time. E agora? Qual próximo passo?
Vou te contar uma história. Trata-se da jornada do invento, ou melhor, da ideia que queria se tornar um invento. Para cada parte dessa história, ilustrarei os diferentes papéis desempenhados pela equipe de tecnologia.
A ideia
Era uma vez uma ideia. Ocupava seus dias filosofando sobre a própria existência. Vivia perdida, sem saber o que era, de onde veio, pra onde iria. Sem identidade definida, sofria agoniada sem saber que caminho seguir e no que acreditar. Questionava-se se era uma plataforma, um app, um blog, um e-commerce, uma rede social, ou tudo isso junto. A pressão era grande, com muito mais pessoas céticas do que acreditando na ideia. Ela perde foco e tem vontade de desistir.
É isso o que acontece na primeira etapa de uma ideia. Este é o momento que a equipe faz dinâmicas de brainstorm, muitos rascunhos, diagramas no flipboard, pesquisas e esboços.
Viagem transformadora
Assim como Jesus Cristo foi ao deserto, Luke Skywalker ao espaço e Harry Potter à Hogwarts, a ideia faz uma grande viagem para se autoconhecer. A ida a um lugar misterioso gera muitas incertezas e hesitações, mas marca o início da grande jornada. E vem o primeiro desafio: como uma pequena ideia vai organizar o roteiro de uma grande viagem imprevisível?
No momento da invenção, esta é a etapa em que definimos quais são as prioridades para as próximas semanas. Ao invés de discutir tudo que vem depois, focamos em entregar essas prioridades. Criamos uma documentação mínima e sem burocracia. Protótipos, protótipos e protótipos!
Tomando forma
Ao se deparar com novas ideias e refletir sobre si mesma, a ideia começa a sentir necessidade de se expressar. Ela procura imagens para se representar, identidades e referências para fundamentar sua própria existência.
Azul, verde, roxo, times new roman, arial, grande, pequeno, fotografias, animações, desenhos. A ideia tem muitas opções. Pra ela é quase impossível conseguir escolher no meio de tantas possibilidades.
Aqui nós promovemos os rascunhos da primeira etapa. Surgem os wireframes (plantas baixas das soluções), layouts, cores, marca, símbolos gráficos. O protagonista dessa etapa é o designer, mas sempre em colaboração com o resto do time.
Visão de Mundo
Ao mesmo tempo que começa a se expressar artisticamente, a ideia constrói dentro de si as representações mentais que vão orientar sua existência. Ela começa a aprender o que é certo e errado, o que pode e o que não pode, o que deve e o que não deve fazer e como vai interagir com outras ideias.
Nessa hora, a ideia começa a ter um cérebro. Começam as modelagens, surgem os diagrama de classes, objetos, banco de dados, servidores e API. O herói dessa etapa é o programador de backend.
O Regresso
Depois de uma longa viagem e muita reflexão existencial, a ideia começa a ganhar corpo e traçar o caminho de volta. Expressões artísticas se conectam com os modelos intelectuais. A ideia amadureceu, está virando gente grande, nunca mais será a mesma depois do regresso. Traz na bagagem tudo aquilo que foi aprendendo no caminho.
As aflições de antes agora se transformam em códigos, imagens e interações. A ideia se sente viva de verdade pela primeira vez. Essa é a hora da mágica. É quando o programador front pega a arte desenhada pelos designers e conecta com o banco de dados escrito pelo backend. A ideia se transforma em páginas interativas. Nasce!
Novas crises
Mesmo quando o invento tem uma forma, sua jornada ainda está em progresso. O produto está constantemente em construção e isso significa mais impacto, ideias, crises existências frequentes e novas histórias como essa.
Empreender é uma crise existencial constante, seguida por uma busca apaixonada por respostas que, quando aparecem, levam a novas perguntas que desencadeiam novas crises existenciais.
Essa é a jornada épica das ideias que querem se tornar inventos. Inspire-se e escreva a sua própria narrativa heróica!
- Miguel Fernandes é co-fundador e diretor de produtos da Witseed. É Engenheiro de Computação pela UFRJ e especialista em Sociologia pela PUC-Rio.
Em resumo