Jornalismo: Quem tem medo da IA?

Como jornais e jornalistas estão lidando com os avanços e as ‘ameaças’ da Inteligência Artificial



Heraldo Leite

A Inteligência Artificial está chegando/ Está chegando a Inteligência Artificial”. Parodiando a música ‘Os Alquimistas’, de Jorge Benjor, os jornalistas brasileiros enfrentam um dilema crescente entre produtividade e saúde mental. A pesquisa, publicada pelo site “Aos Fatos”, destaca que muitos profissionais sentem a pressão de serem mais produtivos devido ao uso intensivo de tecnologias digitais, o que pode levar a níveis elevados de ansiedade e estresse.

Ao mesmo tempo em que temem perder o emprego para “um robô”

Medo do novo e desafios

Os dados indicam que:

  • Aumento da Ansiedade: A constante necessidade de se adaptar a novas ferramentas e plataformas tem gerado preocupação entre os jornalistas, que sentem que sua produtividade está diretamente ligada ao domínio dessas tecnologias.

Para os mais velhos fica a sensação que quando se aprende e começa a dominar novas ferramentas, surgem outras. O que exige aprendizado constante.

  • Impacto na Saúde Mental: A pressão para produzir conteúdo rapidamente e a competição por atenção nas redes sociais têm contribuído para o aumento do burnout na profissão.

Resultado: na briga por likes e pela lacração, matérias são mal apuradas. E os mais famosos saem na frente – muitas vezes não importando a qualidade.

Estatísticas

Entre 5 de fevereiro e 30 de abril de 2023, uma pesquisa consultou 230 jornalistas brasileiros para entender o uso de tecnologias no dia a dia.

As ferramentas tecnológicas foram classificadas em três grupos: populares (como aplicativos de mensagens), específicas (monitoramento de sites) e especializadas (machine learning e programação).

As redações brasileiras fazem uso quase universal das ferramentas simples — 92% dos jornalistas utilizam aplicativos de mensagens. No entanto, o uso de tecnologias mais avançadas, como machine learning, está presente em apenas 7% dos profissionais, enquanto 13% utilizam linguagens de programação.

Apesar de a IA ser vista como uma ferramenta capaz de otimizar processos, seu uso ainda está limitado no Brasil, com poucas redações explorando a tecnologia além do básico. A expectativa dos profissionais é que a adoção de IA cresça nos próximos anos, mas há uma clara necessidade de capacitação para que o uso dessa tecnologia se torne mais acessível

A grande questão não só para os profissionais, mas para a sociedade que preza o bom jornalismo é sobre esta capacitação. Os grandes conglomerados de comunicação (ou chamada mídia hereditária) está disposta a investir? Como e até quando? E o meio acadêmico? Como tem pensado nesta questão? São perguntas que necessitam de respostas urgentes. Quem se atreve?


Acesse aqui o material de Aos Fatos





Futuro do jornalismo: Big Techs revisam relacionamento com produtores de notícias

As Big Techs, mega corporações de tecnologia, impactam o futuro do jornalismo com abandono dos negócios de notícias



Facebook, Instagram, Twitter e Google repensam as suas prioridades. Iniciativas internas de reestruturação mostram um possível rompimento das plataformas com o mercado jornalístico. Ou seja, os maiores grupos produtores de notícias começam a ser percebidos como pouco relevantes para o negócio das empresas de tecnologia. O futuro do jornalismo tende a ter nova virada.

Em outras palavras, assinala uma reportagem do New York Times (NYT), se antes não estava claro, agora está: as principais plataformas online estão rompendo com o mercado de comunicação tradicional. “Mesmo no relacionamento há muito conturbado entre editores e plataformas tecnológicas, a última ruptura se destaca – e as consequências para a indústria de notícias são graves”, assinala a publicação, uma das principais dos Estados Unidos.

Executivos das maiores empresas de tecnologia, como Adam Mosseri, do Instagram, afirmaram, de forma objetiva, que hospedar notícias nos seus sites pode muitas vezes ser mais problemático do que benéfico. Afinal, a experiência dos últimos anos mostra como os debates são, cada vez mais, polarizados. Outros, como Elon Musk, proprietário da X, expressaram desdém pela grande imprensa.

Na realidade, os problemas não moram só de um lado da rua. De fato, desde os anos 2000, mídias sociais, como Facebook e Twitter, foram incorporadas como “uma tábua de salvação” para o tráfego – e, por extensão, para a publicidade – da mídia tradicional. Durante a ascensão da Internet de consumo, há cerca de 20 anos, empresas como a Google, o Facebook e o Twitter abraçaram o jornalismo e artigos de empresas de comunicação social tradicionais apareceram nas suas plataformas.

A fórmula integradora para geração de tráfego está desaparecendo. Segundo o NYT, os principais sites de notícias dos Estados Unidos obtiveram cerca de 11,5% de seu tráfego da web, no país, proveniente de redes sociais em setembro de 2020, de acordo com a Similarweb, uma empresa de dados e análise. Em setembro deste ano, caiu para 6,5%.

Esvaziamento

O tráfego das grandes empresas de tecnologia não voltará a ser o que era antes. O desalento impacta Campbell Brown, principal executiva de notícias do Facebook, que está deixando a empresa. O NYT relata que Twitter, agora denominado como X, removeu as manchetes da plataforma dias depois. O chefe do aplicativo Threads do Instagram, concorrente do X, reiterou que sua rede social não amplificaria notícias.

Até mesmo o Google – o parceiro mais forte das organizações de notícias nos últimos 10 anos – tornou-se menos confiável, tornando as corporações mais cautelosas quanto à sua dependência do gigante das buscas. A empresa demitiu funcionários de notícias em duas recentes reorganizações de equipe. E alguns editores dizem que o tráfego do Google diminuiu gradualmente.

“A perturbação num modelo de negócios já difícil é real”, disse Adrienne LaFrance, editora executiva do The Atlantic, numa entrevista. LaFrance observou que, embora o tráfego social sempre tenha passado por períodos de expansão e queda, a queda nos últimos 12 a 18 meses foi mais severa do que a maioria dos editores esperava. “Esta é uma web pós-social”, acrescentou ela.

Futuro do jornalismo

Mais uma vez, as organizações jornalísticas tendem a ser atropeladas pela enorme dificuldade de entender o cenário onde atuam. Enquanto mobilizam os seus lobistas junto aos legisladores, a realidade tende a mudar. Acabou a fase em que até mesmo Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, tentava manter boas relações com a mídia. “Toda plataforma de internet tem a responsabilidade de tentar ajudar a financiar e formar parcerias para apoiar notícias”, dizia o bilionário, segundo o NYT.

O declínio acentuado no tráfego de referência das plataformas de redes sociais nos últimos dois anos atingiu todos os editores de notícias, incluindo o próprio The New York Times, responsável pela reportagem. No Wall Street Journal, o declínio foi iniciado há cerca de 18 meses. “Estamos à mercê de algoritmos sociais e gigantes da tecnologia durante grande parte de nossa distribuição”, disse Emma Tucker, editora-chefe do Journal.

Mas até o Google está instável. Jornalistas apontam quedas no tráfego de referência do Google nas últimas semanas. Embora o Google continue sendo, de longe, a fonte de tráfego de referência mais importante para os editores, essas pessoas estão preocupadas que o declínio seja um sinal do que está por vir. “É volátil”, disse Melbourneweaver. “O Google existe para as necessidades do Google, e não para as nossas.”

O Google demitiu parte de sua equipe de parceria de notícias em setembro. Recentemente, dispensou até 45 funcionários de sua equipe do Google News, segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Alphabet. “Fizemos algumas mudanças internas para simplificar nossa organização”, disse Jenn Crider, porta-voz do Google, em comunicado.

O Google tem investido em IA durante todo o ano, lançando um chatbot de IA chamado Bard em março e oferecendo a alguns usuários em maio uma versão de seu mecanismo de busca que pode gerar explicações, poesia e prosa acima dos resultados tradicionais da web.

As organizações noticiosas expressaram preocupação de que estes sistemas de IA, que podem responder às perguntas dos utilizadores sem que estes cliquem num link, possam um dia corroer o tráfego nos seus sites.




Google aplica inteligência artificial no jornalismo

Novidade que amplia serviços de inteligência artificial no jornalismo foi apresentada a grandes grupos de mídia dos EUA



Carlos Plácido Teixeira
Jornalista | Radar do Futuro

Denominada internamente pelo nome de Genesis, a Google divulgou o desenvolvimento de uma ferramenta que usa inteligência artificial (IA) para produzir notícias. A empresa de tecnologia iniciou demonstrações para empresas jornalísticas dos Estados Unidos. O roteiro inclui grupos como The New York Times, o The Washington Post e o proprietário do The Wall Street Journal, News Corp.

O sistema “inteligente” pode receber, por exemplo, detalhes de eventos atuais e gerar conteúdo de notícias. Os executivos tendem a destacar que o objetivo é de fornecer um “assistente pessoal para jornalistas”. Pelo menos na tese dos desenvolvedores da big tech, apenas algumas tarefas serão automatizadas para liberar tempo para outras.

Razões para preocupar?

Em depoimentos publicados pela imprensa norte-americana, executivos da mídia, convidados a conhecer as ferramentas, a descreveram como “inquietante”. O Jenn Crider, porta-voz da Google ameniza os possíveis impactos. Segundo ele, “o Genesis seria uma ferramenta desenvolvida de maneira responsável, que poderia ajudar a direcionar a indústria para longe das armadilhas da IA gerativa”.

“Em parceria com editoras de notícias, especialmente editoras menores, estamos nos estágios mais iniciais de explorar ideias para potencialmente fornecer ferramentas de IA para ajudar seus jornalistas em seu trabalho”, afirmou Jenn Crider, um comunicado à imprensa. A mensagem diz que as ferramentas não são destinadas, e não podem, substituir o papel essencial que os jornalistas têm em reportar, criar e verificar seus artigos”, acrescentou ela. Em vez disso, eles poderiam sugerir alternativas para títulos e outros estilos de escrita.

Vantagens e desvantagens

Ao avaliar pontos positivos e negativos da inovação, Jeff Jarvis, diretor do Tow-Knight Center for Entrepreneurial Journalism, na Craig Newmark Graduate School of Journalism da City University of New York, salientou que a utilização inadequada da IA em tópicos que requerem nuances e compreensão cultural pode prejudicar a credibilidade não apenas da ferramenta, mas das organizações de notícias que a utilizam.” Entrevistado pelo The New York Time, o especialista em mídia assinala que, se essa tecnologia puder fornecer informações factuais de forma confiável, os jornalistas devem usar a ferramenta”

As organizações de notícias ao redor do mundo avaliam o uso de ferramentas de inteligência artificial em suas redações. Muitas, incluindo The Times, NPR e Insider, notificaram os funcionários de que pretendem explorar usos potenciais da IA para ver como ela pode ser aplicada de forma responsável ao campo de alta pressão das notícias, onde segundos contam e a precisão é primordial.

Mas a nova ferramenta do Google certamente também provocará ansiedade entre jornalistas. Algumas organizações de notícias, incluindo a Associated Press, já usam IA para gerar histórias sobre assuntos como balanços corporativos, mas eles ainda são uma pequena fração dos artigos do serviço em comparação com aqueles gerados por jornalistas.

A IA pode mudar isso, permitindo aos usuários gerar artigos em uma escala mais ampla que, se não forem editados e verificados com cuidado, poderiam espalhar desinformação e afetar como as notícias são percebidas. Enquanto o Google tem se movido a um ritmo vertiginoso para desenvolver e implantar IA gerativa, a tecnologia também apresentou alguns desafios para o gigante da publicidade.

Embora o Google tradicionalmente tenha desempenhado o papel de curador de informações e enviado usuários para os sites, ferramentas como seu chatbot, Bard, apresentam afirmações factuais que às vezes são incorretas e não enviam tráfego para fontes confiáveis, como veículos jornalísticos.

O avanço da IA nas redações

Empresas jornalísticas globais que estão usando a inteligência artificial (IA) para a produção de notícias. Algumas das mais conhecidas incluem:

  • The New York Times
  • The Washington Post
  • The Wall Street Journal
  • BBC News
  • Reuters
  • Bloomberg
  • The Guardian
  • The Associated Press
  • Le Monde
  • El País

Essas empresas estão usando a IA para uma variedade de tarefas, incluindo:

  • Encontrar e analisar informações
  • Gerar resumos de notícias
  • Criar infográficos e outros conteúdos visuais
  • Identificar e verificar informações falsas
  • Personalizar o conteúdo para o público
  • Reduzir custos
ilustração sobre redações jornalísticas do futuro. Imagem gerada por IA
ilustração sobre redações jornalísticas do futuro. Imagem gerada por IA

A IA tem o potencial de revolucionar o jornalismo, tornando-o mais rápido, preciso e informativo. No entanto, é importante que os jornalistas sejam conscientes dos desafios que a IA apresenta para que possam usar essa tecnologia de forma ética e responsável.




Alfabetização midiática: mais que importante, é urgente

Sem estratégias de alfabetização mediática e regulamentação das mídias, o cenário de radicalismo da direita tende a se agravar



Carlos Plácido Teixeira
Jornalista | Radar do Futuro

O Brasil precisa “urgentemente de um efetivo letramento midiático”, ou alfabetização midiática, para que o povo possa entender como se dá a construção e eventuais manipulações nas narrativas propagadas pelos meios de comunicação. A necessidade de desvendar segredos ocultos nos conteúdos das notícias é defendida há anos pela jornalista e doutora em Estudos Linguísticos, Eliara Santana, autora do livro “Jornal Nacional – um ator crítico em em cena”.

Agora, com a consolidaçao do poder das redes sociais, resistentes a qualquer regulamentação de suas atividades, a iniciativa ganha o status de urgência, mais que importante. Em entrevistas publicadas na internet, Eliara assinala que o letramento midiático é uma experiência há muitos anos em andamento na Europa e nos Estados Unidos. “São instrumentos para compreensão de como se faz o discurso da mídia.”

A ideia, segundo ela, não é demonizar a imprensa ou colocar a credibilidade do jornalismo em xeque. Mas expor que pode haver algo nas entrelinhas que não está sendo visto a olho nu. No caso brasileiro, a jornalista e pesquisadora assinala que o Brasil, país hiperconectado, enfrenta pelo três graves problemas em termos do acesso à informação de qualidade: a grande concentração dos meios de comunicação, o fenômeno das fakenews e os grupos religiosos neopentecostais, que se apropriam cada vez mais dos meios de comunicação tradicionais.

Preocupações com o futuro

A mídia comercial tende a incluir o tema da alfabetização midiática, ou letramento em jornalismo, em sua pauta. Exemplo de uma possível mudança de comportamento, o portal de “O Globo” publicou um artigo, assinado pelo jornalista Luiz Claudio Latgé , sobre a necessidade urgente de promover cursos e treinamentos específicos para comunicadores e leitores. “O avanço das mídias sociais e o ambiente de desinformação em que vivemos, no entanto, dão nova dimensão à questão”, defende o jornalista.

É o reconhecimento explícito de que os dois lados da rede onde produtores e consumidores de informações se encontram precisam compreender os componentes subliminares envolvidos em cada conteúdo difundido na internet. Ironicamente, os próprios grupos de comunicação têm sido, há bem mais tempo, um exemplo dos efeitos negativos do “analfabetismo de leitura de mídia”. Como as Organizações Globo. O novo discurso tem o interesse em reverter parte do prejuízo que ela mesma causou, ao apostar na formação de leitores sem senso crítico durante as últimas décadas.

A desregulamentação do mercado de trabalho, sonhada pelos conglomerados de mídia e que resultou no fim da exigência do diploma para o exercício da atividade de jornalista, também resultou em um “tiro no pé” para as empresas jornalísticas. O ambiente desandou. Luiz Claudio Latgé assinala que “o avanço das mídias sociais e o ambiente de desinformação em que vivemos, dão nova dimensão à questão”.

<img src="https://radardofuturo.com.br/wp-content/uploads/2023/05/smartphone-g7b61d1edd_1280-1024x691.jpg" alt="Imagem de <a href="https://pixabay.com/pt/users/edar-609103/?utm_source=link-attribution&utm_medium=referral&utm_campaign=image&utm_content=571961">Edar</a> por <a href="https://pixabay.com/pt//?utm_source=link-attribution&utm_medium=referral&utm_campaign=image&utm_content=571961">Pixabay

O que é a alfabetização midiática

Processos de capacitação de consumidores de mídias, de impressas a digitais, para torná-los capazes de discernir informações confiáveis de informações falsas ou enganosas, analisar os diferentes pontos de vista e intenções por trás das mensagens veiculadas.

Assuntos relacionados

  • alfabetização em jornalismo
  • educação midiática
  • letramentos midiático

Iniciativas de alfabetização

“Não há nenhuma área de atividade hoje que não seja tocada pelas plataformas de mídia, que despejam toneladas de informações, num fluxo incessante que nos mantém conectados todo o tempo”, assinala o jornalista. No ambiente onde todos podem ser produtores e receptores de informações, Latgé reconhece que, “nos últimos anos, podemos dizer que “sentimos na pele” a proliferação de fake news e desinformação.

O radar do setor de comunicação reage aos riscos do cenário adverso, marcado por ataques às instituições, do jornalismo à democracia. A preocupação com os efeitos da ausência de senso crítico diante da proliferação de desinformações já tem reflexos em discussões na ONU, na União Europeia, nos projetos de regulamentação dos meios digitais e em propostas de cursos e inclusão da construção de atitude crítica, ética e responsável em currículos escolares.

“A recomendação dos organismos internacionais no combate à desinformação passa pela valorização do jornalismo” afirma o autor do artigo publicado no site de O Globo. “Da credibilidade da fonte, do contraditório, da checagem das notícias. Há outras medidas nos campos jurídico e econômico, como responsabilizar criminalmente produtores e financiadores da desinformação.”

Papel da mobilização social

Movimentos sociais, incluindo sindicatos e organizações de defesa do jornalismo e dos trabalhadores, precisam se agir, urgentemente, como promotores de iniciativas de alfabetização em jornalismo. Inclusive com o objetivo de diferenciação entre as posturas de empregados e empregadores, já que o senso crítico definido pelas empresas jornalísticas comerciais é, necessariamente, diferente das definições propostas para os setores populares.

Para a imprensa tradicional, a alfabetização midiática tem como alvo principal o ataque às fakenews e à participação das big techs na concorrência por receitas publicitárias. Então, para os donos da mídia, importa questionar a origem das notícias, as fontes entrevistadas, a responsabilidade dos autores e a veracidade dos dados. E fomentar um espírito crítico e o comportamento ético dos produtores de informações.

Na prática, a proposta dos detentores de poder tem limites, tanto em termos de senso crítico quanto na ética fomentada. Como assinala a pesquisadora Eliara Santana, “há relações de poder ocultas no discurso de informação. E tanto fontes quanto as perspectivas divulgadas pela midia corporativa estão sempre alinhados aos detentores do poder. E apenas um lado ganha visibilidade na mídia”. A alfabetização midiática deve levar isso em conta.




Como sobreviver aos impactos da inteligência artificial no jornalismo

Nem deslumbrado, nem ludita. Os impactos da inteligência artificial no jornalismo cobram ações antecipatórias

Irmão do viés cognitivo, o pensamento binário me atormenta ao pensar nos impactos presentes e futuros da inteligência artificial no jornalismo e das atividades humanas. Temo tanto o deslumbramento sem crítica quanto o medo paralisante. Ou seja, tenho mêdo de ver os jornalistas, assim como outros profissionais, travados nos extremos, entre acreditar em uma perspectiva libertadora da tecnologia ou na posição de neoluditas, prontos para quebrar todas as máquinas, contestar as tecnologias e sonhar com a volta dos jornais em papel.

Segundo o neurocientista Miguel Nicolelis, não devemos temer a possibilidade de sistemas de IA, como o ChatGPT superar a inteligência humana. Precisamos nos preocupar, sim, com a possibilidade da inteligência humana sofrer um processo de decadência, ficando menor do que a inteligência das máquinas. Dois estudos recentes, feitos pela Brown University e pela Columbia University, concluem que o desenvolvimento cognitivo está em declínio pela primeira vez na história.

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Photo by Brett Sayles on Pexels.com

Jornalistas, assim como profissionais de todas as áreas, precisam colocar a reflexão sobre o futuro como meta prioritária.

O andar da carruagem civilizacional mostra dados preocupantes. É o que revela, por exemplo, uma pesquisa recente do instituto Ipsos. Segundo o estudo, quase 50% da população brasileira acredita que o País pode “correr o risco de virar um país comunista”.

O que fazer?

Ou a gente, jornalistas, se apropria das tecnologias ou continuamos a pagar caro. Sem investir em reflexão, o jornalista tende a repetir erros do passado, quando áreas sem vínculos com a produção de textos começaram a definir o certo e o errado na formatação de conteúdos para a internet. Lá atrás, deixamos que os gurus da tecnologia, os designers, marketeiros e até mesmo os sobrinhos dos nossos amigos definissem, por exemplo, conceitos e critérios definidores de textos de qualidade. 

O ensino do jornalismo e os jornalistas devem investir no conhecimento sobre as mudanças sociais, econômicas, políticas, culturais etc, além das tecnológicas, que estão ocorrendo no cenário global. Omissão, rejeição, alienação terão efeitos muito ruins para os profissionais.  

Os debates sobre os impactos da inteligência artificial devem levar em conta a necessidade de tornar os profissionais das ciências sociais e humanas em atores de destaque nas definições das regras e da ética envolvidas na produção de inovações baseadas em tecnologias.

Prioridade: antecipar oportunidades

As demissões de profissionais nas Organizações Globo registram o fim de uma era. O jornalismo tem a mudança mais profunda de sua história, com a incorporação de novos modelos de produção de notícias. Na área da comunicação, o velho está morrendo e há uma chance do novo nascer.

Somos testemunhas, hoje, da oportunidade de criação e implantação de modelos inovadores de jornalismo, realmente destinados a informar a população, comprometido com a sociedade. Sem vínculos com os interesses das elites econômicas, financeiras, políticas e sociais é necessário olhar para as tecnologias e imaginar formas de aplicações no cotidiano.

Como usar

A antecipação de oportunidades significa a capacidade de olhar para a inteligência artificial, assim como para as outras tecnologias, e imaginar aplicações inovadoras. Por exemplo: como a evolução da tradução instantânea para qualquer idioma altera as minhas relações com as fontes de informações? Que tal buscar exemplos africanos no momento ao produzir uma reportagem sobre a realidade do Vale do Jequitinhonha?

Outro exemplo: como a realidade virtual tende a impactar a forma de apresentação dos conteúdos jornalísticos? Como a inteligência artificial vai ajudar a realizar o controle das apresentações de informações? As respostas dependem da percepção de que ambientes virtuais, com suas novas maneiras de consumir informações, forçam os modelos de negócios de notícias e informação a se transformarem.

A alteração radical da maneira como os consumidores descobrem novos conteúdos, com sistemas de IA como o ChatGPT, redefine estratégias e fluxos de trabalho de repórteres, editores e ilustradores. Eles precisam ter, pelo menos, algum conhecimento sobre a existência de recursos tecnológicos. Mais importante do que dominar as técnicas é expandir a consciência sobre o papel humano da criação de alternativas de uso e sobrevivência.


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5 maneiras como a IA impacta o futuro do jornalista




Futuro do jornalismo: o impacto das redes 5G

A banda larga 5G, por onde trafegam dados e informações, como nunca vimos antes, é, para o futuro do jornalismo, bem mais que uma internet mais veloz

A produção de matérias em terceira dimensão vai crescer Photo by My name is Yanick on Unsplash



Vocês, amiga ou amigo jornalista, finalmente respiram aliviados. Acham que terão uma zona de conforto para usufruir. Foram mais de 25 anos de tempestades, desde o momento em que a internet foi introduzida em nossas vidas. Primeiro, como curiosidade. Mais tarde, como ameaça. A luta pela sobrevivência como jornalista digital, sem emprego e sem diploma, envolveu investimentos em uma dezena de certificados. Produtor de conteúdos, gestor de tráfego e de mídias sociais, copywriting e especialista em SEO e marketing digital. Além daquele velho diploma de Flash, o software de produção de vídeos que nem existe mais. Agora, parece que todos os segredos da rede mundial de comunicação digital parecem dominados. Só que não (sqn).

Depois de tudo, porém, não dá para relaxar. Há mais uma pedra a ser empurrada para o alto da montanha, onde a necessidade de obter conhecimentos inéditos vai desafiar os profissionais da comunicação. O lançamento, no final de julho, da quinta geração da internet, a 5G, cria um capítulo de surpresas da história iniciada no século passado, com a informatização. Será uma continuidade das desventuras em série, caso não se busque uma antecipação dos prováveis impactos criados pela revolução digital na sociedade.

Por que importa?

Jornalistas e publicitários terão de aprender que a novidade introduzida pelas redes 5G é bem mais do que a banda larga por onde trafegam dados e informações, como nunca vimos antes. O salto para a altíssima velocidade integra um tripé de potência tecnológica. É a base de sustentação da infraestrutura, que inclui, além da velocidade do tráfego de dados, o poder de processamento e a capacidade de armazenamento de informações em computadores espalhados pelos cantos do mundo.

Em outros termos, na primeira geração da internet andávamos de carroça, movida a cavalo, dependendo do cérebro do carroceiro para percorrer o caminho, registrado na memória. Depois de passar pelas gerações do fusca, do avião bimotor e dos grandes jatos de passageiros, inauguramos a fase em que a sociedade é movida por um avião supersônico, veloz, com inteligência artificial e dados suficientes para voar de forma autônoma. O salto da evolução das tecnologias foi mais longe do que nunca.

Considere o seguinte: há algum tempo, jornalistas produzem matérias sobre os carros sem motoristas. Os testes realizados já exploram o conhecimento disponível nas “nuvens” sobre as cidades. Ruas, relevos, semáforos. Agora, imagine a capacidade de processamento de dados e informações. Na prática, há computadores suficientes para tomar decisões com as informações disponíveis nas ruas. As redes 5G eram o elemento de infraestrutura que faltava para os veículos ganharem as ruas.

Em resumo, fechado o tripé da infraestrutura, projetos que estavam nas “pranchetas” das empresas e profissionais de TI ganham as condições ideais para acelerar. Aplicações de inteligência artificial tendem a ter saltos exponenciais, resultando no desenvolvimento de produtos de internet das coisas, cidades e residências inteligentes. No jornalismo, sistemas de produção de textos, de organização de imagens, acesso automático a bases de dados e monitoramento de acontecimentos externos com o uso de sensores.

O que muda, de fato

“Antes da banda larga 5G, fotos e vídeos eram a norma, limitados a um instantâneo no tempo ou uma perspectiva”, atesta Christian Guirnalda, Diretor dos Laboratórios 5G e Centros de Inovação da Verizon. “A enorme taxa de transferência e capacidade de resposta do 5G permite que formatos como fotogrametria capturem perfeitamente todo o contexto visual no campo, dando ao espectador a incrível capacidade de entrar e explorar a cena, como se estivesse lá.”

Você, jornalista, com uma câmera, acompanha um evento em tempo real, instantaneamente. Os conteúdos vão ser transmitidos à medida que são captados para possibilitar a imersão no ambiente dos acontecimentos. Sem aquelas interrupções ou defasagem de tempo — denominadas de latência. Ao acompanhar uma reportagem ao vivo, cada internauta escolhe a direção para onde vai olhar. O maior desafio para repórteres e editores envolve a necessidade de aprender novas formas de apresentação de notícias factuais e analíticas.

É certo que o desenvolvimento da internet facilitou a distribuição da informação. O aumento da velocidade da transmissão de grande quantidade de dados e de vídeos favorecerá muito mais o lazer, incluindo produtores de jogos, do que os jornalistas.


Quais os benefícios

A potência tecnológica disponível agora acelera o acesso a conteúdos informativos e de entretenimento. Para você, repórter, envolvido em matérias do cotidiano, a oferta de velocidade de acesso vai mudar a forma como o mundo se conecta e é apresentado aos públicos. Na constatação mais óbvia, as redes 5G favorecem a transmissão automática de fotos de alta qualidade, vídeos e áudio. Mas também imagens em terceira dimensão, 3D, com uso de realidade virtual e aumentada.

O diretor de Estratégia de Tecnologia da Globo, Raymundo Barros, avalia, em entrevistas disponíveis na internet, que a tecnologia 5G vai permitir uma maior conexão do jornalismo com a comunidade. O jornalismo local tende a ser dirigido. O padrão abre alternativas de segmentação. Por exemplo, um jornalismo mais focado em blocos de telejornal específicos para cada uma das cidades de alguma região. Como tendência relacionada com as inovações, os televisores nas casas dos consumidores podem crescer indistintamente. A TV 3.0 reforça a qualidade de imagem, da imersão e da distribuição espacial do áudio.

Vantagens da tecnologia 5G

Maior velocidade de download: A rede 5G terá capacidade de aumentar as velocidades de download em até 20 vezes (de 200 Mbps (4G) para 10 Gbps (5G)) e diminuir a latência, o tempo de resposta entre dispositivos. Essas velocidades maximizarão a experiência de navegação facilitando processos que, embora possíveis hoje, ainda apresentam dificuldades.

Hiperconectividade: A rede 5G promete a possibilidade de ter um ambiente hiperinterconectado para chegar ao ponto de ter as “cidades inteligentes”, com o apoio da internet das coisas, que vão “ajudar” a levantar as notícias e, mesmo, enviar dados para repórteres ou para as redações.

Otimização de processos: Todas as etapas do processo de produção de informações serão aceleradas. Da identificação da pauta ao acesso de dados e a geração da notícia.

Câmeras com múltiplas conexões aumentam a capacidade de transmissão, com qualidade de imagem perfeita, ao vivo.


Perguntas e respostas

Como será a cobertura de eventos públicos

Vale lembrar, primeiro, que imagens serão cada vez mais valorizadas, mesmo para veículos com origem no jornalismo impresso. Repórteres e produtores em campo podem usar drones e câmeras para capturar um local de interesse, como o ponto onde um furacão atingiu a terra. Ou os movimentos de uma manifestação ou outro evento. A transferência de imagens podem ser aproveitadas pela redação, onde editores gráficos, desenvolvedores e designers podem transformar o conteúdo em formatos 3D interativos que permitem que os leitores percorram a notícia a partir de novos pontos de vista.

Nas redações, há riscos de perda de emprego para jornalistas?

Em termos. O conceito de jornalista polivalente tende a ser aprofundado, o que pode impactar especialmente os cinegrafistas, já que o seu papel pode ser desempenhado pelo repórter. Editores seguem sendo relevantes, pois estarão na retaguarda para definir estratégias de difusão de notícias. Posições intermediárias podem ser impactadas, pois o uso de ferramentas de inteligência artificial automatiza processos de edição e veiculação dos conteúdos.

Há espaço para o jornalista no mercado?

Sim. Há uma tendência de aprofundamento da informalidade do trabalho. Mas empresas jornalísticas anda precisam deslocar pessoas para lugares específicos para realizar cobertura. Logicamente, haverá a tentação de automatizar ao máximo os processos. E há novos mercados em desenvolvimento, que vão requerer a antecipação dos profissionais de imprensa para evitar que sejam atropelados.





Futuro do jornalismo: por que a busca por voz impacta o consumo de notícias?

Google estimula e acelera as interações por voz entre dispositivos e humanos. Como o futuro do jornalismo será impactado?

ilustração simulação de cidade conectada sobre visão panorâmica de nova iorque - imagem: Pixabay
ilustração simulação de cidade conectada sobre visão panorâmica de nova iorque – imagem: Pixabay



Suas definições de busca foram atualizadas. Descubra no Google.

A mais nova campanha da megacorporação tecnológica dos Estados Unidos merece atenção especial. Inclusive, ou principalmente, de jornalistas, profissionais de marketing e comunicação em geral. E de consumidores de notícias. As propagandas, veiculadas em meios tradicionais, abertos e fechados, e nas mídias digitais, com apoio de atores famosos e influenciadores, abrem um novo capítulo da revolução digital. Em resumo, os sistemas de assistência virtual, baseados em inteligência artificial e internet das coisas, ganharam um novo impulso. Exponencial.

A proprietária do principal sistema de buscas na internet está dizendo que pesquisas de conteúdos não precisam ser mais alguma coisa que você realiza com a ponta dos dedos. Você não terá mais inveja de seus filhos ou netos quando eles digitam em um teclado físico, no computador, ou virtual, em um smartphone. Em algum momento, todos vão aderir ao novo padrão de interação com recursos onipresentes, inteligentes e invisíveis. A voz é o meio.

cheerful woman recording voice message on smartphone in street
Photo by Andrea Piacquadio on Pexels.com

Em outras palavras, a tecnologia vai substituir a digitação em teclados por interação por áudio

Ou, para quem quiser entender mais um pouco sobre o que não está explícito, a big tech Google comunica que o sistema de reconhecimento de voz e de imagens está pronto para tornar mouse e teclados obsoletos.

A tecnologia pode provocar mais uns passos em direção às mudanças na forma como os nossos públicos consomem informações na internet. Por trás de tudo, com a inteligência artificial aplicada à internet das coisas e recursos de linguagem natural, vamos “conversar” com os nossos objetos.

Você acorda de manhã e pergunta para o seu abajur (ou algo assim): quais foram as principais notícias da noite, enquanto eu dormia?

A mídia está começando a usar assistentes de voz para distribuir notícias sobre mercado financeiro, resultados esportivos, boletins meteorológicos, entre outros assuntos mais populares. E a tendência é de aumento, com diversificação de conteúdos. Buscas e respostas simulam conversas para entregar as informações baseadas em voz. Especialistas da tecnologia apostam na novidade, como a mais promissora no mundo da inteligência artificial, na relação com os seres humanos, porque são capazes de absorver o comportamento do usuário e se personalizarem, além de agilizar tarefas e otimizar o tempo das pessoas.

O que favorece o acesso por voz

O início da implantação de redes de internet com altíssima velocidade, as 5G, no Brasil, deve acelerar os novos projetos tecnológicos, como a utilização de sistemas de inteligência artificial e da Internet das Coisas. O ambiente de produção envolve a combinação de variáveis tecnológicas, de inovação e sociais que criam um quadro favorável para o mercado. A infraestrutura é a ideal, desde a capacidade de transmissão de dados, até o poder de processamento e de armazenamento.

A potência tecnológica encontra diversidade de equipamentos de acesso. Além dos tradicionais celulares, tablets, relógios e TVs inteligentes, desenvolvedores integram geladeiras, roupas, espelhos e carros, além de outros dispositivos, classificados na categoria de produtos vestíveis – ou wearables. Finalmente, o mercado conta com consumidores dispostos a utilizar os recursos no dia a dia.


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Confira: como a mídia aplica sistemas de voz:

  • Record TV investe em conteúdo por voz com Alexa, da Amazon
  • Saiba como ouvir as notícias do g1 na Alexa e no Google
  • Extra e O Globo lançam robô que tira dúvidas sobre coronavírus com função de comando de voz
  • CanalTech agora tem notícias na Alexa


Evolução das interfaces

Até meados da década de 1990, o torcedor acompanhava os resultados do seu time no campeonato Brasileiro por rádios, TVs e de algum jornal. As interfaces eram limitadas, inclusive na forma como você interagia com elas. Por exemplo, para ver os gols da rodada era necessário esperar os últimos minutos do Fantástico, o velho programa dominical da rede Globo.

Se um jornalista precisava de uma informação sobre fatos do passado, recorria às hemerotecas — setor das bibliotecas das empresas jornalísticas onde se encontram coleções de jornais, revistas, periódicos e obras em série. Ou então contava com jornalistas mais experientes. Nas redações era frequente a presença de profissionais com tempo de experiência e conhecimento sobre os fatos mais marcantes da história. Era, também, a referência, no domínio sobre a gramática, para quem enfrentava dúvidas.

Pesquisa aponta que 11% dos lares no país terão um assistente de voz até 2025

Folha de S. Paulo

Com o tempo, após a revolução digital das duas últimas décadas, o responsável pelas pautas foi atropelado pela informatização das redações e pelo avanço dos sistemas de busca, graças ao acesso à internet. O jornalista que nasceu e cresceu desde a década de 1990, com o desenvolvimento da informática e da internet, tem um repertório de alternativas de pesquisas e de levantamento de informações infinitamente maior do que os seus antecessores.

O mouse e o teclado, físico, dos computadores, ou virtual, dos smartphones, ainda serão os companheiros dos profissionais de imprensa e da comunicação para acessar e interagir com as telas de seus equipamentos de trabalho, de pesquisas e de leitura. Mas as inovações em interfaces baseadas em inteligência artificial vão criar novos desafios de adaptação ao uso de assistentes virtuais, como ferramenta de busca e meio de comunicação com os seus públicos.


Impactos no jornalismo

A forma como as notícias são consumidas tende a ser alterada, com base no diálogo entre o ser humano e a máquina. Ainda hoje, se procuro informações sobre a Copa do Mundo, escrevo uma pergunta no Google e obtenho links de respostas. No futuro, aprenderei a ser mais específico ao formular uma pesquisa. Algo como: qual o resultado do jogo do Brasil contra a Alemanha? E a resposta será detalhada pela voz da internet. A inteligência artificial terá aprendido a sintetizar as informações de acordo com o freguês, para que ele não precise ler o conteúdo.

Os investimentos da plataforma em áudio estão abrindo as mídias para qualquer pessoa com um smartphone e uma história para contar. Como aconteceu em outros momentos da web, a tendência provavelmente criará um conjunto de problemas familiares para profissionais da imprensa. Mais conteúdo significa mais competição por atenção e pode ser mais difícil para o conteúdo profissional se destacar. 

Por outro lado, também pode estimular a escuta global, possibilitando mais oportunidades de consumo e conexão. Para plataformas, haverá novos desafios de moderação de conteúdo em um meio ainda mais difícil de monitorar do que o texto escrito. Há quem aposte em aumento das oportunidades de engajamento e de geração de receitas — monetização — com a produção e venda de conteúdos para patrocinadores.

O áudio e vídeo são a nova mídia

Voz e vídeo tendem a consolidar no papel de porta de interação do usuário com as mídias. Os assistentes de voz estão ficando mais inteligentes e funcionais a cada semana. 
Os comandos por voz, no futuro vão estar em qualquer coisa, não só no celular. No carro, na televisão, no eletrodoméstico.
As vendas dos aparelhos ativados por voz, como a Alexa, já estão crescendo com maior velocidade do que os smartphones.
O uso atual dos assistentes ainda está bastante restrito a coisas como ouvir música, podcasts, saber a previsão do tempo e automação de casa
Mesmo que o consumo de notícias seja por enquanto limitado nesses dispositivos, há uma tendência crescente de que o consumo de conteúdo terá que ser adaptado à mobilidade. 



Abraço de afogados: como a queda da credibilidade da mídia afeta o futuro do jornalista

Velhas corporações de comunicação preservam práticas suicidas. No futuro do jornalista, há uma grande oportunidade para a produção de informações de qualidade

futuro do jornalista depende da capacidade de criar estratégias desvinculadas das empresas tradicionais
Photo by Bank Phrom on Unsplash



Carlos Plácido Teixeira
Jornalista I Radar do Futuro

Sem quebrar os modelos de produção de notícias e análises de acontecimentos, os jornalistas continuarão a pagar caro pela crise da imagem do jornalismo e das empresas de comunicação. Todos estamos sendo afetados negativamente pela falta de compromissos das corporaçõescom a informação minimamente isenta. O exemplo mais recente envolve o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Entre um lado e outro, o ideal era ser contra a guerra. Na impossibilidade, deveríamos demonstrar os interesses em jogo.

“Nós, jornalistas, precisamos fazer uma dolorosa autocrítica”, diz professor de jornalismo online e pesquisador em comunicação comunitária, Carlos Castilho. Ele avalia que o profissional de imprensa terá o seu papel contaminado. “Acabamos participantes da construção de uma narrativa sobre a guerra na Ucrânia que está nos levando a uma crise mundial, cujo desfecho é uma gigantesca incógnita, onde apenas uma coisa é certa: o número de perdedores poderá ser muitíssimo maior do que o de ganhadores.” 

Não é necessário ir à Eurásia para compreender os riscos envolvidos na prática cotidiana do profissional, especialmente o brasileiro, exposto à fúria dos apoiadores de extrema direita do presidente Jair Bolsonaro. Monitoramente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) sobre os ataques sofridos por jornalistas e meios de comunicação do país revela que, entre janeiro e abril de 2022 identificou 151 casos de agressão física e verbal ou outras formas de cercear o trabalho jornalístico. Houve um aumento de 26,9% em relação ao mesmo período de 2021.

Em 2022, o tipo de agressão mais comum continua sendo o discurso estigmatizante – assim como foi em 2019, 2020 e 2021 –, presente em 66,9% dos alertas identificados até abril. Foi registrado um aumento de 12 casos dessa forma de violência verbal em comparação com o mesmo período do ano passado. A categoria de “agressões e ataques”, que envolve violência física, atentados e ameaças explícitas, também aumentou, apresentando um salto de 80%.

Violência: jornalistas como alvo

Segundo o relatório “Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil”, lançado no início do ano pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o País registrou recordes de violência contra os trabalhadores em 2021. Foram 430 episódios, de agressões verbais e ataques virtuais até atos de violência contra a organização dos trabalhadores. A lista inclui ameaças, assassinato, impedimento ao exercício profissional.

Um dos itens em destaque envolve a descredibilização da imprensa, com 131 fatos relatados. Em 2020, professores da Escola de Comunicação e Artes da USP alertavam que o aumento dos ataques acumulados já nos dois anos anteriores, demonstrava a articulação de um discurso organizado com o objetivo de desligitimar a atuação jornalística.

“Cenas de agressão a jornalistas se tornam comuns hoje no Brasil e no mundo”, denunciam, em entrevista em que analisam um evento do início de novembro daquele ano, em Santa Catarina. Jornalistas da NSC TV, afiliada da Rede Globo, cobriam o descumprimento da lei que proibia aglomerações nas praias do Estado e foram agredidos e impedidos de prosseguir com a reportagem. Em registros recentes, no dia 16 de maio, em Ouro Fino, interior de Minas, um vereador agrediu um jornalista a pedradas. Em março, no Centro da capital paulista, repórteres da TV Globo foram agredidos durante reportagem sobre a Feira da Madrugada do Brás.

A maior vítima da crise da imprensa será sempre o jornalista e o jornalismo. As corporações de comunicação, mesmo com perda de credibilidade nos últimos anos, não parecem se importar com a agressividade dos públicos. Profissional experiente e dos raros com autonomia para criticar a postura dos veículos, inclusive da Folha de S. Paulo, onde trabalha, Jânio de Freitas, demonstra a angústia em ver a queda da qualidade da cobertura da imprensa. “Os jornais têm caído bastante. Não são necessários do ponto de vista informativo, da informação cotidiana, da vida do leitor”, afirmou em entrevista para o site Poder360.


Jornalismo: aposta na mesmisse

Dois acontecimentos, com duas décadas de distância, demonstram como a mídia continua atuando a favor de apostadores. Não há espaço para autocrítica.

A bolha da internet em 2000

“Jornalistas acreditam mesmo em todas essas coisas que vocês publicam? Com uma mistura de ironia e maldade, um empresário da área de tecnologia solta a pergunta durante uma conversa informal entre nós, fonte e repórter, sobre as perspectivas e negócios do mercado de informática. O momento era de plena efervescência da grande bolha da internet, na transição entre séculos. 

Os procedimentos e a forma como a imprensa lidava com quase todas as novidades sobre mercado de  tecnologia da informação era a mesma de qualquer torcedor fanático. Ou engajado na busca de favores. Na época, fui testemunha de um fato constrangedor, ao participar de um almoço de lançamento de produtos com executivos da Microsoft. 

O editor de tecnologia de um jornal mineiro, integrante da família do conglomerado, cobrou, diante de todos os presentes, reprocidade da multinacional para a divulgação das novidades. “Afinal”, disse, “damos muito espaço para as notícias e não recebemos anúncios”.

Deslumbramento e falta de senso crítico predominaram — e ainda predominam, na verdade — no noticiário sobre o poder da computação e sobre o impacto da internet na vida das pessoas e das empresas. Quem vive hoje sob a força dos smartphones não tem ideia das limitações dos usuários de computadores no início do século. Talvez não consiga entender a luta do acesso discado — e caro  para a maioria. 

É quase surreal pensar que as pessoas aguardavam a meia-noite para poder ficar mais tempo na rede. Que havia limites no tamanho de mensagens e de carregamento das imagens. E nem imagina os riscos e dificuldades para baixar músicas ou a paciência necessária para baixar uma foto.

Em síntese, a imprensa teve um papel central na formação da “bolha das pontocom”, entre os anos 1994 e 2000. Um período marcado pela forte elevação dos preços das ações de empresas de tecnologia de comunicação e informação. Jornais e revistas, rádios e TVs, eram as responsáveis pela criação dos mitos das “empresas bilionárias, nascidas em garagens”, graças aos gênios nerds e empreendedores. E pela repetição do slogan da época: “quem não estiver na internet, estará morto”.

Multinacionais de TI e investidores anunciavam investimentos milionários em ideias inovadoras. Adolescentes de 16 anos se apresentavam nas exposições de informática como gerentes de marketing. Com seus terninhos, se sentiam empoderados. Diziam ser abordados por grandes investidores a todo momento. Um futuro novo milionário ganhava páginas de matérias nos veículos especializados em economia e negócios a nova economia difunde a crença na riqueza rápida.

O dia 10 de março de 2000 marca o “estouro da bolha”. E o momento em que o jornalismo econômico, alheio às suas responsabilidades como formador de opinião, inicia a etapa de especulações sobre as razões da crise que levou a fortes quedas das bolsas de valores, pedidos de falência e fechamento de empresas. 

Bolha 2: futuro é bitcoin

Focada em seus negócios de venda de notícias no formato de propaganda, a imprensa tradicional repete as estratégias de cobertura de grandes acontecimentos. Agora mesmo, há uma nova oportunidade no mercado tecnológico. As criptomoedas são a mina de ouro dos investidores. Falta transparência sobre o que é o mercado e seus impactos. Nas redes sociais, vendedores, no papel de influenciadores, mostram ganhos milionários com a compra das moedas digitais. 

Ao mesmo tempo a maior parte da cobertura jornalística se entrega de corpo e alma ao processo de “evangelização”, o convencimento dos consumidores sobre  as promessas de Fortuna para quem compra os ativos digitais. Faça uma pesquisa agora no Google Notícias com a palavra-chave bitcoin e será possível ver como o jornalismo naturaliza a cobertura dos negócios. Há excesso de confiança, por parte da mídia, nas intenções de criadores, investidores e “evangelizadores” do novo sistema. 


Mudanças de atitudes

As grandes mudanças da cobertura jornalística não virão das empresas tradicionais de mídia. Nem é possível imaginar a possibilidade de uma autocrítica. No papel de aparelho ideológico de estado, as empresas de comunicação não tendem a abrir mão de seus métodos de construção de histórias. Mesmo o jornalista que se imagina como parte do sistema, responsável pela reprodução do discurso dominante e protegido pelos patrões, poderá ser engolido pela futura queda de credilidade do jornalismo tradicional.

Não há autocrítica da imprensa porque os seus executivos seguem acreditando em seus métodos de negociação comercial e a influência econômica e política. O jornalismo está inserido na Revolução Industrial. E sonha com passos para o passado, como na ausência de críticas ao processos de desindustrialização e expansão da dependência da produção do agronegócios. O leitor ainda vai entender, em mais algum tempo, que existe uma crise do capitalismo global, que os Estados Unidos vão produzir conflitos para impedir a expansão da China e que o desemprego será tão crescente quanto a concentração de renda.

Os jornais se beneficiam da superficialidade. Afinal, mesmo com perda de credibilidade, no Brasil, 54% das pessoas ainda confiam na imprensa, de acordo com o Instituto Reuters de Estudos de Jornalismo da Universidade de Oxford. O aumento da confiança registrado em 2021 teve a influência positiva da cobertura da pandemia.

O cenário de aumento das vulnerabilidades e descrédito da velha mídia impacta o futuro do jornalismo e dos jornalistas. Entre as ameaças, o embarque na onda de descrédito da profissão, influenciada cada vez mais por influenciadores, descompromissados com a missão de informar. Mas há um lado positivo. As dificuldades da mídia tradicional vão abrir oportunidades. No horizonte, há uma grande oportunidade para a produção de um jornalismo verdadeiro. Só é necessário superar os desafios adiante de nós.




Rock Content: marketing de conteúdos dá as cartas no futuro do jornalista

Com o trabalho de freelancers, empresas de marketing de conteúdos se consolidam como principais usuários dos profissionais de comunicação

Photo by Daniel Chekalov on Unsplash



Em abril, a empresa mineira Rock Content ganhou destaque no site da Forbes, uma das principais publicações de negócios e finanças dos Estados Unidos. A especialista em marketing de conteúdos adquiriu a norte-americana WriterAccess, prestadora de serviços de redação. O negócio faz parte de uma estratégia destinada a consolidar a presença da marca brasileira no segmento de marketing de conteúdos e expandir sua oferta para departamentos de marketing nas Américas.

A aquisição marca mais um passo na ampliação da presença da startup no mercado norte-americano, processo que começou com a compra de outra concorrente, a ScribbleLive, em 2019. Fundada em 2010 em Boston, Massachusetts, a WriterAccess desenvolveu um mercado de trabalhadores que fornece serviços de conteúdo para quase 2 mil empresas, incluindo Bank of America, DHL e Pitney Bowes, e tem mais de 500 agências parceiras. A plataforma da empresa usa algoritmos e inteligência artificial para combinar o estilo de escrita demandado pelos clientes para freelancers específicos.

Uber dos conteúdos

Segundo o site da Rock Content, 500 funcionários diretos são responsáveis pelo atendimento a 2 mil clientes. Criada em 2013 inicialmente para oferecer conteúdos para sites e blogs, ela virou uma empresa global, com inclusão de serviços como cursos e planejamento e softwares, além dos produtos tradicionais. “Hoje, somos uma empresa global, líder em marketing de conteúdo, com escritórios em quatro países e seis localidades pelo mundo”, anuncia a página institucional.

Um dado merece atenção especial: a Rock Content é o centro de uma rede de 80 mil trabalhadores, definidos como “especialistas criativos em nossa rede de talentos”. Ou seja, correndo por fora do circuito tradicional do mercado de comunicação e sem se vincular à área, a nova multinacional do marketing de conteúdos é uma das maiores geradoras de trabalho para profissionais de jornalismo, publicidade e marketing. E para outras pessoas, mesmo sem alguma formação especial, que passam por treinamentos e ganham diplomas como produtores de informações.

O modelo das agências de marketing de conteúdos representa a expansão e fortalecimento da tendência de “uberização da produção de conteúdos” como padrão de um mercado construído em torno da informalidade das relações de serviços profissionais. A Rock Content administra uma grande comunidade de trabalhadores.

No cenário de baixa oferta de alternativas e de crise, milhares de pessoas entregam seus tempos e os textos sem vínculos empregatícios — como freelancers, os frilas, em uma linguagem mais amigável. Recebem cerca de R$ 25 por um texto de 500 palavras — aliás, um modo anacrônico de determinação de valores. Um texto de 4 mil palavras pode até gerar um ganho superior a R$ 200. Mas são raros.

Os valores são significativamente inferiores aos propostos para uma lauda pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. A entidade sugere que jornalistas cobrem R$ 310 por cerca de 1.400 caracteres, correspondentes a cerca de 250 palavras. Portanto, caso fosse aplicada a tabela mínima dos profissionais de imprensa um profissional receberia mais de 600 reais pelo trabalho que vale R$ 25 na Rock Content. Vale dizer que valor pago é melhor do que o praticado por outros contratantes. Alguns concorrentes na intermediação entre produtores e empresas oferecem até sete reais pela produção de um texto.


É pior que um ‘Uber do jornalismo'”, diz a jornalista E.O., para quem o sistema de contratação da Rock Content tem um impacto negativo sobre o mercado jornalístico. “

Receber 25 reais por um texto de 500 palavras é uma violência contra tudo que aprendi até aqui, contra todo o conhecimento adquirido. Um desrespeito”, afirma a jornalista. Para ela, quem tem facilidade para copiar e colar, usando a receita de bolo deles, mas dando uma maquiada, tem uma “produção boa” e consegue ser um freela ativo, que sempre recebe tarefas.

Eu cheguei a procurar para aprender técnicas de SEO, pois o mercado pede muito hoje e porque houve um tempo em que eu estava desempregada e não podia escolher. Mas aquilo é tudo, menos jornalismo.


Cenário de expansão

Vale reconhecer que as empresas e especialistas de marketing de conteúdos desempenham atividades totalmente regulares. Elas souberam ocupar um espaço que, nos primórdios da internet, foi desconsiderado por jornalistas, publicitários e assessorias de comunicação e de imprensa. No início do século, com a introdução das novas mídias digitais, era evidente que as empresas investiriam em páginas próprias. Especialistas em negócios com visão de futuro previam que qualquer instituição passaria a adotar o perfil de empresas de comunicação, com a gestão de publicações e interação com seus públicos prioritários.

Os primeiros investidores nas inovações digitais, com formação em tecnologia e design, em especial, foram pioneiros ao embarcar na onda e criar novos modelos de negócios para blogs e outras publicações organizacionais. As agências de marketing de conteúdos são uma derivação do processo, que combina a roupagem de velhos nomes e produtos, como o próprio marketing, e a redefinição de regras sobre o desenvolvimento de métodos de solução de problemas para os compradores de seus serviços.

Assim, hoje há novos paradigmas de produção de textos, por exemplo, em que as regras de SEO, ou otimização de sistemas de busca, na tradução do inglês, dão todas as cartas do que seja um conteúdo de qualidade. Mais exatamente, texto bom é aquele que consegue o primeiro lugar na busca do Google.

Nos próximos anos, as agências de marketing digital tendem a ampliar a presença no mercado e a demanda por mão de obra dos produtores de conteúdos, se beneficiando da informalização das relações trabalhistas. As agências de comunicação e de imprensa tradicionais serão mais impactadas, pois as concorrentes têm maior domínio sobre os modelos de negócios que envolvem tecnologias e inovações estratégicas. Para jornalistas, publicitários e os novos especialistas, há a previsão de aumento da oferta de trabalho. Com relações cada vez mais informais e competição mais acirrada.

Tendências

Consultorias de negócios apostam, hoje, na continuidade do ritmo de crescimento do sistema baseado na informalidade entre agências e produtores. Na verdade, grande parte dos segmentos do setor produtivo tende a ampliar a adoção da demanda pelos autônomos. “Nos Estados Unidos, freelancer está em alta”, garante um estudo da consultoria Upwork. O número de trabalhadores em tempo integral cresceu de 28% em 2019 para 36% em 2020. E embora a pandemia possa ter acelerado as mudanças das formas de contratação, não está mostrando sinais de desaceleração. Os “autônomos” serão metade da força de trabalho total dos EUA até 2027, segundo o estudo.

A onda freelancer conta com o apoio do discurso dominante entre consultores e mídias de negócios. Para os formadores de opinião, as plataformas são o futuro do trabalho, pois atuam como facilitadores rápidos para a geração de empregos, combinando perfeitamente candidatos e provedores de emprego. 




Jornalismo de dados: o novo modelo de produção e consumo de notícias

Novos modelos de produção de notícias, como o jornalismo de dados, tendem a fortalecer e qualificar o papel dos jornalistas

jornalismo de dados pessoas em torno de uma mesa com seus computadores
Photo by Annie Spratt on Unsplash



Carlos Plácido Teixeira
Jornalista I Radar do Futuro

Os jornalistas têm acesso a milhares de dados e informações sobre estatísticas econômicas, sociais e políticas que abrem alternativas para a produção de notícias com abordagens inéditas e mais aprofundadas, com o apoio das tecnologias. E também com uma revisão de conceitos sobre as atividades profissionais. A diversidade de indicadores, organizados em bases públicas e privadas, tende a fortalecer os processos baseados em jornalismo de dados como alternativa para a produção de notícias sobre todos os temas de interesse da sociedade.

Contexto: como era antes e para onde caminha

Quem começa a viver como jornalista na terceira década do século 21 não imagina as dificuldades enfrentadas por quem, como repórter investigativo ou especialista em cobertura de eventos diários, precisava levantar dados para fundamentar argumentos de suas matérias. Pense como seria a cobertura de uma epidemia como a Covid-19 nos anos 1990.

Repórteres e editores dependeriam integralmente de agências de notícias, de uns poucos especialistas e de assessorias de imprensa, em cada Estado e globalmente. O levantamento de informações seria extremamente lento e limitado. Ao contrário do que existe hoje, com o apoio da internet, haveria uma dificuldade absoluta de acesso a informações capazes de apresentar o quadro diário de doentes e mortes e a compreensão dos impactos da expansão da doença no Brasil e no mundo.

Outro exemplo, até os primeiros anos do século atual, o acompanhamento dos atos governamentais, dos legislativos e do judiciário dependia de um jornalista dedicado, com olhar atento ao folhear as páginas dos diários oficiais. Era um exercício de paciência e de perseverança para encontrar detalhes suspeitos nos atos oficiais. Mesmo o acesso a uma estatística de demografia do IBGE era uma missão complexa, dependente de alguém da empresa, um assessor ou um especialista. Boa vontade dos intermediários era essencial para a obtenção de informações.

Ainda nos anos 1990, ao cobrir o mercado financeiro em um jornal econômico regional, repórteres e editores tinham de se contentar com as informações entregues pelas agências de notícias. Com os dados do encerramento das bolsas de valores, cotações do dólar e do ouro e as taxas de juros, nós, jornalistas envolvidos com cobertura especializada, recorríamos a algumas poucas fontes locais para produzir textos sobre os acontecimentos que teriam alterado os humores dos investidores e para justificar as oscilações dos valores dos ativos.

Emergência do jornalismo de dados

A evolução e universalização da internet, o aumento da potência de processamento dos computadores e do poder de armazenamento criam condições para novas abordagens no processo de produção de notícias e análise de acontecimentos. A tendência é favorecida pela variedade e quantidade de instituições que organizam e deixam acessíveis os seus indicadores setoriais.

Especialmente, o modelo valoriza a capacidade de investigação dos profissionais de imprensa. O jornalismo de dados tende a ser um destaque entre alternativas dos recursos que chegam no ambiente digital. O conceito abre um campo de oportunidades amplo para quem deseja encontrar novos rumos como produtores de conteúdos úteis e de qualidade.

“Quando as informações eram escassas, a maior parte de nossos esforços era dedicada à caça e coleta. Agora que a informação é abundante, o processamento é mais importante”, relata um artigo publicado no site DataJournalism. Se no passado os repórteres de destaque eram aqueles com boas cadernetas de fontes, guardadas a sete chaves, hoje e no futuro os melhores tendem a ser aqueles capazes de recorrer às bases de dados disponíveis.

Uma pesquisa realizada pelo DataJournalism mostrou a expectativa de que os profissionais envolvidos na aplicação de estratégias baseadas em análises de dados tendem a ser melhor remunerados. O principal papel imaginado para quem atua como produtor de conteúdos é de análise de dados. Esta pode ser uma boa notícia, especialmente para quem tem formação aprofundada em áreas de ciências sociais, com competências para a identificação impactos e tendências relevantes para o consumidor de reportagens.

Impactos para os leitores

Pense em uma reportagem sobre como a questão climática. Recorrendo às informações do site da ONU, os produtores do conteúdo informativo oferecem uma visão dinâmica sobre como o aquecimento do planeta vem se acelerando desde o início do século. Inclui informações sobre estimativas de emissões de CO2, espécies em risco de extinção e indicadores de conflitos relacionados com a água. Com tabelas e gráficos dinâmicos, é possível a cada leitor interagir e identificar informações específicas sobre países ou regiões específicas.


Visão geral: jornalismo de dados

Por que importa

No cenário de crise do mercado de comunicação, aumento do desemprego no segmento, precarização do trabalho e concorrência crescente, a sobrevivência dos jornalistas no futuro passa por investimentos em conhecimentos relacionados com prospecção, seleção, análise e divulgação de informações a partir de uso das fontes de conhecimento disponíveis na rede.

Como vai trazer diferença no jornalismo?

Mais até do que apostar em criação de podcasts, canais no Tik-Tok, Instagram ou You Tube é o jornalismo de dados que vai possibilitar criar estratégias de diferenciação entre os profissionais de imprensa e outros produtores de conteúdos, sem experiência nas rotinas da produção jornalística.

O jornalismo de dados reflete o papel cada vez maior dos dados numéricos na produção e distribuição de informações na era digital. Envolve uma crescente interação entre jornalistas, como produtores de conteúdo, e diversas outras áreas como design, tecnologia e estatística.

Qual é o papel de um jornalista de dados?

Um jornalista de dados é valorizado pelas competências desenvolvidas em todas as etapas do processo de produção de informações de interesse. Isso inclui garantir que as fontes de dados usadas sejam confiáveis até a produção final. A integridade dos dados é vital no jornalismo porque os artigos serão vistos por muitos leitores.

Como os dados melhoram uma reportagem?

Os dados podem ser usados para fornecer insights mais profundos sobre o que está acontecendo ao nosso redor e como isso pode afetar a sociedade ou grupos sociais. As informações podem ajudar os jornalistas a fornecer a análise e as informações de que precisam para entender as questões importantes do dia.





O fim do jornalismo impresso foi antecipado. E está próximo

A pandemia, economia fraca, perda de receita e custos de produção de notícias em alta tendem a antecipar o fim do jornalismo impresso

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Carlos Plácido Teixeira
Jornalista I Radar do Futuro

O jornalismo tradicional vai morrer antes mesmo do que imaginavam os mais pessimistas entre especialistas dos mercados de comunicação. Não será uma morte capaz de deixar, para a humanidade, uma data de lembrança especial, para celebrações posteriores. Há uma força de mudança de ritmo. Antes da pandemia, a extinção do modelo de produção e consumo de informações herdado do século passado e praticado ainda hoje por grupos comerciais de imprensa, andava devagar. Agora, vai acontecer. De repente. Aceleradamente, levando primeiro os meios impressos.

À frente do processo de mudança do mercado de comunicação e informação, um dia, seu jornal deixa de circular na versão em papel. Como já vem ocorrendo com alguma frequência atualmente. No outro, a revista. Na TV, o seu jornal nacional fica ultrapassado, assim como a potência dos rádios desaparece. Os dois meios vão durar mais tempo. Mas vão se esgotar como produtores de conteúdos jornalísticos.

“Os últimos dois anos mudaram profundamente o panorama da mídia e da produção de notícias. Tendências que levariam 10 anos para se tornar a norma se tornaram o ‘novo normal‘ em menos de 10 meses”, sintetiza a Associação Mundial de Executivos de Jornais (Wan-Ifra, da sigla em inglês). Ao divulgar o Relatório de Inovação em Mídia, a entidade saúda os leitores com uma mensagem de “bem-vindos ao novo normal!” e o reconhecimento de que “o setor evoluiu mais rápido do que esperávamos”.

Outros relatórios sobre tendências produzidos pela Wan-Ifra, baseadas em entrevistas com dirigentes das empresas em todo o mundo, asseguram que a transformação digital das mídias impressas está bem encaminhada. Uma razão para o otimismo pode ser a confiança nos resultados dos esforços de transformação digital das organizações: quase metade diz que estão avançados ou muito avançados. Pouco mais de 12% sentem que ficaram para trás. Outro motivo forte: o crescimento das receitas continua vindo do digital, enquanto as receitas do impresso continuam a cair gradualmente.

Sinais de mudanças

Executivos são discretos em suas projeções de cenário, mas há sinais claros sobre a tendência de migração apressada para o ambiente digital. A perda de leitores nos meios impressos já é o fenômeno mais conhecido. A transformação recente do diário Super Notícias em uma publicação semanal, com circulação nas sextas-feiras, se enquadra no cenário das decisões que parecem ocorrer de repente. O jornal mineiro, de circulação regional, caiu de uma circulação média de 216 mil exemplares em 2016 para 77 mil no balanço do final de 2021.

Segundo o Instituto Verificador de Comunicação (IVC), os dez maiores jornais do País tiveram uma queda na vendas, em média, de 12,8% no ano passado, na comparação com o ano de 2020. O desempenho das revistas também foi negativo. A circulação impressa caiu 28% e a digital 21%. A redução das duas versões foi de 25%.

A média de circulação digital aponta para a presença crescente da internet. Oito dos dez maiores jornais do Brasil apresentaram crescimento. Entre os veículos, o maior crescimento de assinaturas digitais foi observado no O Globo, cuja média digital cresceu 16,1% em 2021, na comparação com o ano anterior. O Super Notícias, que ainda lidera, em média, a circulação dos jornais impressos do País, teve o pior desempenho em relação às assinaturas digitais, que caíram 59,8% em 2021.

12 veículos de comunicação fecharam as portas no Brasil em 2021

Fonte: Portal Comunique-se


Transição traumática

No início de dezembro de 2021, jornalistas do Estado de Minas promoveram uma greve geral histórica. Foi o resultado de anos de crises acumuladas nos veículos dos Diários Associados. O autointitulado, no passado, “grande jornal dos mineiros” só não parou completamente porque os estagiários foram convocados de última hora para fazer o trabalho dos futuros colegas.

A paralisação ressalta o desalento e cansaço com as inúmeras mobilizações dos trabalhadores, destinadas a cobrar os direitos atrasados e contra o descaso do tratamento da direção da empresa, que sequer cumpre acordos acertados na Justiça do Trabalho. “O FGTS não é depositado desde 2014, os salários estão atrasados e não há pagamento de férias ou 13º”, denunciam os jornalistas.

A jornalista Z (ela não quis ser identificada, aliás, mais um dado revelador do estado de espírito dos empregados) lamenta viver o momento de tristezas. O ambiente da redação é contaminado pelo desalento, resultando em divisão entre os funcionários. Há os que se sentem injustiçados, os sobrecarregados e os privilegiados. Uns poucos negacionistas recusam a encarar o beco sem saída à frente. Outro grupo sofre com o sentimento de fim da história. Ou com a angústia da incerteza.

A dúvida sobre o que fazer é um dos problemas de maior peso para Z, que começou a carreira jornalística na empresa, testemunhando cada etapa da decadência do jornal. Os problemas foram gerados por múltiplas variáveis, que incluem da emergência da internet à concorrência agressiva do duopólio das “big techs” Google e Facebook, passando diversas variáveis.

Mas a concorrência das empresas de tecnologia e novos meios digitais não são os únicos responsáveis pelos problemas da empresa. O Sindicato dos Jornalistas de Minas também aponta a existência de questões relacionadas com má administração. A perda dos cadernos de classificados de imóveis e automóveis, o fim dos cadernos de turismo e de moda, a queda da publicidade do varejo, a entrada de novos concorrentes no mercado e a redução do número de leitores, entre assinantes e vendas em bancas são apenas os sinais externos mais claros da história dos Diários Associados.

Coincidentemente, ou não, a decadência do Estado de Minas ganhou maior força a partir de 2014, quando foi encerrado o ciclo do domínio do PSDB no governo mineiro, iniciado com Aécio Neves, em 2003, e continuado com Antônio Anastasia. O mercado jornalístico mineiro também paga o ônus do apoio a políticas governamentais liberais, de viés monetarista, neoliberais, que enfraquecem as economias do Estado e do País.

Cenários: lentamente, e de repente

Só quem viveu o processo lento de falência de uma empresa é capaz de entender o sofrimento de dezenas ou centenas de jornalistas dos veículos em crise no atual momento. Para sobreviver aos tempos de crise, os trabalhadores devem encarar a tendência: os velhos navios estão afundando. Os donos das empresas jornalísticas provavelmente sabem, mesmo que vivam em negação, que não há perspectiva de continuidade das atividades baseadas em impressão e distribuição do formato em papel. E eles não terão pudor em ser os primeiros a pular dos seus barcos, com os seus patrimônios preservados.

É um modo de produção de notícias que está morrendo. “As empresas de mídia tradicionais perderam o controle sobre as cadeias de geração de valor”, diz o jornalista Caio Túlio Costa, um dos pioneiros da implantação da comunicação na internet no Brasil, na década de 1990. Em entrevistas e debates disponíveis no YouTube, ele revela o tamanho da perda acumulada pelos “barões da mídia”. Uma Rede Globo podia impor regras para os anunciantes, impedindo a concorrência. Um jornal regional tinha poder econômico e político suficiente para afirmar que “se não demos a notícia, então o fato não aconteceu”.

Neste passado, os principais grupos de comunicação dominaram 100% da estrutura e dos ganhos do processo de produção de notícias. Hoje, com a digitalização e entrada de novos jogadores no mercado, eles convivem com a perda da hegemonia. Que não é só econômica. É também política e de credibilidade. Pressionados pelas grandes corporações de tecnologia e telecomunicações, as organizações jornalísticas viram a participação no bolo da publicidade diminuir para 7% do total, relata Caio Túlio.

A queda contínua das receitas com publicidade e das vendas em bancas e para assinantes e o crescimento baixo ou mesmo negativo da economia brasileira em 2022, com perspectivas ainda frágeis para os próximos anos, são as forças centrais do cenário de aceleração do fim dos jornais e revistas (veja no quadro acima). A pandemia demonstrou que o poder de processamento, a velocidade de transmissão de dados e a capacidade de armazenamento de dados disponíveis são suficiente para acelerar a influência das tecnologias em todos os mercados, inclusive na comunicação, evidentemente.

Antes da crise sanitária, havia a expectativa de que o salto para o fim das mídias tradicionais ocorreria por volta de ou após 2025, com a maturidade das redes de quinta geração da internet (5G). A mudança do nome da empresa Facebook para Meta, como parte de uma estratégia de lançamento de um sistema Metaverso, um ambiente de comunicação e interação considerado como uma nova fase da internet, demonstra a intenção das empresas de tecnologia em dar novo salto tecnológico, que vai impactar a mídia inclusive.

A aceleração tecnológica provocada pela pandemia estimula os executivos de comunicação a também antecipar planos para conduzir suas empresas para o ambiente digital. Ou a encaminhar pedidos de falência. Atordoados, jornalistas seguem na expectativa de um milagre que compense salários atrasados e desrespeito aos direitos trabalhistas. Mas nada disso tende a acontecer. Não há força ou argumento convergentes no cenários que possam acabar com a aceleração da decadência da mídia tradicional, em especial dos veículos impressos. Desde a estrutura de distribuição de jornais e revistas, em processo de desmonte, até a percepção de que os custos se tornam inviáveis com as perdas de leitores, de receita com publicidade e crise de credibilidade.

O fim do jornalismo impresso

Este texto é parte de uma série de análises sobre “O futuro do Jornalismo”, que publicaremos semanalmente.

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    Os impactos da pandemia nas atividades dos jornalistas latino-americanos

    Nova pesquisa da agência Latam Intersect PR -americanos mostra mudança de atitude e resistência aos impactos da pandemia

    Fintechs oferecem soluções específicas para cada tipo de cliente. Foto: Pixabay.
    Foto: Pixabay.



    Um ano após a primeira pesquisa realizada pela LatAm Intersect PR com quase 300 jornalistas latino-americanos para investigar o impacto da pandemia nas redações, a agência volta a indagar o tema através de uma pesquisa atualizada, mostrando como a comunidade jornalística continua a exibir notável resiliência e adaptabilidade em quase todos os aspectos da suas vidas profissionais, ao mesmo tempo em que destacam alguns aspectos importantes para o futuro pós-pandêmico.

    Em 2020, o núcleo de pesquisa da agência de comunicações e relações públicas LatAm Intersect PR conduziu uma pesquisa entre 10 e 15 de julho por meio de um questionário por e-mail, alcançando 293 jornalistas ativos do Brasil, México, Colômbia, Peru, Chile, Argentina e Costa Rica, cujo alcance coletivo atinge mais de 170 milhões de pessoas.                               

    Para comparar e rastrear as mudanças vistas em 2020, a agência realizou uma nova pesquisa, entre 4 de outubro e 22 de novembro de 2021, que alcançou insights de 303 jornalistas ativos da mesma ampla gama de países e alcance coletivamente relevantes. A continuidade da pesquisa forneceu um quadro impressionante de como as tendências emergentes em 2020 evoluíram ao longo do ano e como jornalistas e profissionais da mídia na América Latina estão vivenciando o momento presente; e, também, o que esperar do futuro.

    A primeira notícia positiva é que a perturbação que a pandemia causou na vida profissional dos jornalistas parece estar diminuindo, e a proporção de jornalistas latino-americanos que responderam que poderiam continuar operando ‘sem interrupção’ aumentou em 10% (de 52% dos entrevistados em junho de 2020 para 62,9%. ). Porém, olhando de perto, podemos perceber que essa atitude não é compartilhada por todos. Enquanto na Argentina 78,2% dos jornalistas atuam “100% ininterruptamente”, no México, o número é de apenas 47,4%. Entretanto, de qualquer maneira, esses números ainda representam uma melhora em relação ao ano passado, quando apenas 65,3% dos jornalistas argentinos e 39,3% dos mexicanos fizeram essa afirmação.

    Expectativas

    Maria José Braga, Presidente da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas), entidade que representa os profissionais brasileiros, “apesar de todas as dificuldades, os jornalistas brasileiros continuaram cumprindo o importante papel de levar informações de interesse público para suas audiências. Isso já é essencial em tempos normais, e torna-se ainda mais relevante em tempos de crise como o que vivemos”. Além disso, muitos jornalistas parecem ter cada vez mais confiança no novo modus operandi da redação. Enquanto há um ano apenas 37% pensavam que a mídia havia adaptado com sucesso os modelos de negócios à nova realidade, a pesquisa mais recente mostra que um ano após a pandemia, 41% dos entrevistados acreditam que esses modelos seguem sustentáveis, e outros 18,4% acreditam que mudaram para o melhor.’                                                

    Ainda é grande o número de jornalistas que acredita que o modelo de jornalismo pós-pandemia não é sustentável e só sobrevive por falta de alternativas melhores (37,5%). No entanto, essa atitude é muito menos comum do que em junho de 2020, quando metade (50%) dos pesquisados a consideravam insustentável no longo prazo..               

    Mas, aparentemente, a evolução da pandemia trouxe um novo sentimento coletivo. Olhando para o futuro, os jornalistas da América Latina estão um pouco menos otimistas do que no ano passado, com 65,9% dos profissionais de mídia da região dizendo que estão ‘otimistas’ ou ‘muito otimistas’ sobre sua futura profissão, em comparação com 72% em junho de 2020. Os jornalistas brasileiros são, de longe, os mais otimistas sobre o futuro de sua profissão, com quase um quarto (22,5%) se dizendo “muito otimistas”, em comparação com apenas 5,9% dos jornalistas chilenos, os menos otimistas.                                                                     

    Braga explica essa cautela, “devido à pandemia, tem havido uma reavaliação do jornalismo, com cada vez mais pessoas em busca de informações confiáveis, mas precisamos discutir coletivamente a sustentabilidade do jornalismo, como ter recursos financeiros para a produção de mídia e, como não há jornalismo sem jornalistas, devemos buscar melhores salários para os profissionais do setor”.

    Talvez essa queda no otimismo tenha sido causada por um pequeno, mas preocupante aumento nas demissões entre as organizações de mídia latino-americanas. Enquanto em junho de 2020, quase um quinto (19%) das organizações de notícias havia demitido entre 10% e 30% de seus funcionários, esse número subiu para 22% na última pesquisa. Quase um terço (28,1%) das publicações dispensou 30% ou mais de sua equipe desde o início da pandemia.            

    Impactos                                                                      

    As agências de notícias chilenas parecem ter sofrido o maior impacto econômico, com quase um quarto dos entrevistados (23,5%) dizendo que 40% de seus pares foram demitidos desde o início da pandemia e com menos da metade (41,2%) dos pesquisados, afirmando que o nível de emprego de sua organização não foi afetado pela pandemia. 16

    A forma como os jornalistas fazem seu trabalho continua mudando drasticamente, especialmente quando se trata de usar as mídias sociais. Uma tendência notável da pesquisa do ano passado foi que 71% dos jornalistas latino-americanos aumentaram sua presença nas redes sociais, com quase metade (48%) aproveitando suas redes pessoais para postar e promover seu trabalho.                                                       Fazendo uma reflexão sobre essa constatação da pesquisa de 2020, 82,8% dos jornalistas responderam que a tendência continuou a aumentar ao longo do ano, 12% disseram que permaneceu a mesma e apenas 5,2% disseram que diminuiu. No entanto, o número de jornalistas que utilizam seus próprios recursos de mídia social para publicar e promover seu trabalho diminuiu ligeiramente, de 48% em junho de 2020 para 42,4% segundo a última pesquisa.                                                                                                                  

    No geral, o uso da mídia social continuou seu ímpeto ascendente, com 75% dos entrevistados relatando que, desde o início da pandemia, eles usam a mídia social “com mais frequência” ou “com muito mais frequência” e quase um terço (32,6%) concorda que é a sua ‘principal fonte de contato’ com porta-vozes e empresas.

    Quer se sintam seguros em seu trabalho e otimistas quanto ao futuro ou não, uma descoberta notável da pesquisa é o número de jornalistas vacinados contra a Covid-19. Mais de dois terços dos entrevistados estão totalmente vacinados e se sentem confiantes sobre sua saúde no trabalho (67,5%), e pouco menos de um terço (30,6%) estão totalmente vacinados e ainda estão preocupados em adoecer. Menos de 2% dos entrevistados não foram vacinados.    

    Os jornalistas latino-americanos foram fundamentais para estimular os governos a lançar campanhas públicas de vacinação ambiciosas e altamente bem-sucedidas. Maria José Braga, Presidente da FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas do Brasil, país com mais mortes por Covid na região, acrescenta: “Os jornalistas brasileiros têm contribuído significativamente para que a crise de saúde não seja ainda mais grave. Com seu trabalho, eles informaram a sociedade e orientaram a população, divulgando informações científicas e as medidas sanitárias necessárias para o combate à pandemia ”.

    A incerteza contínua sobre se as vacinas permitirão aos jornalistas retornarem a algo parecido com seu ambiente de trabalho pré-pandêmico, e se eles mesmo gostariam de voltar, se pudessem. Quando questionados se voltariam a reuniões e eventos presenciais para gerar conteúdo, mais da metade (55%) disse que comparecerá a “todos os tipos” de reuniões presenciais; um terço (32,7%) ainda prefere manter sua rotina atual de trabalho em casa, e 23,1% dos entrevistados concordam que trabalhar em casa é “mais prático, mais rápido e mais eficiente”. No entanto, esta pergunta também mostra que ainda há muita variação regional, com 73,1% dos jornalistas argentinos respondendo que comparecerão a “todos os tipos” de reuniões presenciais, em comparação com 36,8% no México e 40%Colombia.  

    Em conclusão, o ano passado tornou o trabalho dos jornalistas latino-americanos mais exigente e precário. Embora a maioria dos jornalistas pareça ter enfrentado as novas demandas, ainda existem alguns que consideram essas mudanças insustentáveis e outros que permanecem inseguros sobre o que o futuro reserva. As redes sociais continuam a desempenhar um papel cada vez mais dominante na forma como as notícias são obtidas e divulgadas, enquanto as vacinas começam a afetar a forma como os jornalistas veem o futuro. Muitos jornalistas parecem favorecer um retorno ao trabalho presencial, ao mesmo tempo que tentam manter o novo modelo “híbrido” que surgiu..

    Sobre LatAm Intersect PR

    LatAm Intersect PR é uma agência de relações públicas especializada em campanhas corporativas e de consumo para clientes em toda a América Latina. ‘Intersectar’ refere-se ao nosso princípio básico: em um mundo de big data e automação, a capacidade de se conectar com as pessoas em seus próprios termos, para informar e persuadir um determinado ponto de vista por meio de relacionamentos, evidências e argumentos é mais importante para as empresas do que nunca.

    Ajudamos nossos clientes a explorar suas interseções com públicos que vão desde clientes e funcionários até parceiros de negócios e investidores em toda a região, passando pela imprensa, comunicação digital e tantos outros mecanismos de comunicação.

    www.latamintersectpr.com




    Pesquisa aponta desafios enfrentados pelo jornalismo

    Segundo a Cision, que ouviu 2 mil jornalistas de 10 países, incluindo o Brasil, 63% dos entrevistados sentiram perda de confiança do público em 2019
    Segundo a Cision, que ouviu 2 mil jornalistas de 10 países, incluindo o Brasil, 63% dos entrevistados sentiram perda de confiança do público em 2019. Foto: Pixabay

    PRNewswire

    Apesar do crescente número de desafios enfrentados pelos jornalistas – de fake news e campanhas com informações erradas até redução de orçamentos de redações e mudanças nos algoritmos das mídias sociais– o Relatório de Situação de Mídia de 2019, realizado pela Cision – grupo ao qual pertence a PR Newswire -, aponta algumas descobertas otimistas.

    Dois mil jornalistas de 10 países, incluindo o Brasil, participaram da pesquisa na qual, pelo segundo ano consecutivo, os entrevistados relataram uma redução na desconfiança do público em relação à mídia; 63% dos entrevistados sentiram perda de confiança do público este ano, uma redução em comparação aos 71%, de 2018 e 91%, de 2017.

    Para a presidente da PR Newswire América Latina, Thaís Antoniolli, essa desconfiança vem, principalmente, em função da disseminação de fake news por meio de redes sociais. “As pessoas compartilham muita coisa sem checar a veracidade das informações”, comenta.

    No entanto, embora as fake news ainda sejam um problema, este ano elas não são os principais desafios do jornalismo. Questões relacionadas às mídias e recursos sociais lideraram a lista de problemas, especialmente nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.

    “Entretanto, as notícias não são tão ruins. Estamos encorajados para ver a redução continuada nas percepções de desconfiança do público em relação à mídia. Confiança é o principal tema dos resultados da pesquisa deste ano; de fato, ela parece estar atrelada ao futuro da indústria por muitos anos. Contar uma história confiável, informativa e relevante está sendo mais importante do que nunca, e os jornalistas estão utilizando os dados do público para entender melhor quais histórias criam movimento e rendimento e que os jornalistas devem buscar no ambiente da mídia hoje”, explica Kevin Akeroyd, CEO da Cision.

    O relatório deste ano foi o maior já realizado pela Cision em dez anos. Ele tem o objetivo de descobrir as principais questões que a indústria de mídia global está enfrentando em 2019, e como os profissionais de RP e comunicação podem trabalhar melhor com seus colegas jornalistas.

    Outras conclusões importantes:

    Para os jornalistas, os três principais desafios globais são redes sociais e influenciadores ultrapassando as mídias tradicionais, recursos limitados e fake news (22%, 20% e 19%, respectivamente);

    Em 2018, a Cision perguntou para os entrevistados como o relacionamento desses jornalistas com os profissionais de RP mudou ao longo dos anos, e somente 9% haviam dito que essa relação tinha se tornado mais valorosa. Este ano, o número saltou para 27%;

    Os jornalistas continuam confiando cada vez mais nos dados para tomarem decisões sobre as histórias que eles vão focar. 65% dos jornalistas em nível global sentiram que métricas detalhadas do público, como visualizações e envolvimento, mudaram os tipos de conteúdo que eles publicam. 43% dos entrevistados focam principalmente em leitores ou visualizações, 20% focam em envolvimento, e 15% focam no impacto sobre os rendimentos;

    Os profissionais de RP e comunicação são parceiros valorosos dos jornalistas, especialmente neste turbulento ambiente de mídia. Entretanto, 75% dos jornalistas afirmaram que menos de 25% das propostas que eles estão recebendo são relevantes;

    As mídias sociais são tanto mais quanto menos importantes do que nunca. Devido à natureza volátil das mídias sociais em 2018, os jornalistas possuem sentimentos cada vez mais complexos sobre a importância das mídias sociais. 38% dos jornalistas entrevistados concordaram que a atualização dos algoritmos de mídias sociais – como mudanças no Feed de Notícias do Facebook – será a tecnologia mais importante com impacto em seu trabalho em 2019, que teve um aumento no ano passado.

    Esse impacto nem sempre é positivo, já que os jornalistas estão preocupados com a confiança das mídias sociais para a publicação de conteúdo.

    Para ler todo o Relatório de Situação de Mídia da Cision de 2019, clique aqui.

    Sobre a Cision

    A Cision Ltd (NYSE: CISN) é líder global no fornecimento de softwares voltados à mídia e na prestação de serviços aos profissionais de relações públicas e comunicação de marketing. Os softwares da Cision permitem que os usuários identifiquem os principais influenciadores, veículos e distribuições de conteúdos estratégicos, e também que eles mensurem os impactos significativos. A Cision possui mais de 4 mil colaboradores em 22 países espalhados pelas Américas, EMEA e APAC. Para obter mais informações sobre seus premiados produtos e servi&cc edil;os, incluindo o Cision Communications Cloud®, visite www.cision.com e siga a Cision no Twitter @Cision.

    Sobre a PR Newswire

    A PR Newswire é pioneira mundial na indústria de distribuição de conteúdo direcionado a redes de notícias. Há três anos, a PR Newswire passou a integrar o grupo também norte-americano Cision, detentor de tecnologia e soluções de monitoramento de notícias. É a única empresa a oferecer soluções integradas para análise de mídia espontânea, baseadas em três pilares fundamentais: Monitoramento de Notícias, Distribuição de Conteúdo, e Mensuração de Resultados, trazendo a expertise global para o contexto local de mercado. Por meio de suas ferramentas, permite que os profissionais de Comunicação, Marketing e Business Intelligence ouçam as conversas a respeito de suas marcas e personas, identifiquem os principais influenciadores conectados ao seu público-alvo, criem e distribuam conteúdo estratégico, além de medirem o impacto dos resultados dessas ações em mídia espontânea. Para mais informações sobre a empresa, acesse: www.prnewswire.com.br




    Novo round da briga da imprensa com Google e Facebook

    Grupos jornalísticos dos EUA e Canadá querem ser remunerados pelo conteúdo

    Época Negócios

    Empresas de comunicação dos Estados Unidos e Canadá se uniram para tentar obter do Congresso americano uma autorização para poderem negociar, juntas, com Google e Facebook. Os dois gigantes da internet usam e distribuem o conteúdo criado pelas companhias de mídia, sem qualquer contrapartida. Assim, Google e Facebook se beneficiam do conteúdo de qualidade produzido pelas empresas jornalísticas, sem arcar com os custos elevados envolvidos nesse processo, e ainda lucram com as receitas de publicidade, que não são repassadas às corporações de mídia.

    Por isso, a News Media Alliance — organização que reúne quase 2 mil empresas de mídia de EUA e Canadá, incluindo os jornais “The New York Times”, “The Wall Street Journal” e “The Washington Post” — foi ao Congresso americano pleitear uma espécie de isenção limitada de uma lei antitruste do país. O objetivo é unir forças para ajudar a equilibrar a disputa entre os dois campos, porque, segundo o comunicado divulgado pela News Media Alliance, “as empresas de notícias são limitadas por um poder de negociação desagregado contra um duopólio de fato”.

    Notícias falsas

    A organização sustenta que esse duopólio força as empresas jornalísticas a entregarem o que produzem e a seguirem as regras de Google e Facebook sobre como a informação deve ser apresentada, e até monetizada. “Essas regras transformaram as notícias em commodities e originaram as fake news (notícias falsas), que geralmente não podem ser diferenciadas das notícias reais”.

    O texto ressalta que as leis antitruste visam a limitar os danos causados por empresas com posição de monopólio, mas que, no caso das empresas de comunicação, as leis existentes têm a consequência não intencional de evitar que essas corporações trabalhem juntas para obter melhores acordos.

    “Uma legislação que permita as empresas de comunicação a negociarem coletivamente vai tratar de questões disseminadas que hoje reduzem a saúde e a qualidade gerais da indústria de notícias”, disse David Chavern, presidente e diretor executivo da News Media Alliance, no comunicado.

    “Jornalismo de qualidade é fundamental para sustentar a democracia e é central para a sociedade. Para garantir que tal jornalismo tenha futuro, as empresas de comunicação que o fundam devem ser capazes de negociar coletivamente com as plataformas digitais que efetivamente controlam a distribuição e o acesso do público na era digital”, acrescentou.

    Proposta da UE

    Em uma tentativa de compensar um pouco a diferença de forças entre os dois lados dessa relação, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, apresentou, em setembro de 2016, propostas para reformar o mercado digital da União Europeia. Uma delas envolve a divisão de receitas entre empresas de internet e quem detém o copyright do conteúdo. O projeto ainda precisa ser discutido pelo Parlamento Europeu.