O assunto não é de interesse exclusivo dos trabalhadores. Para os empresários, mais que uma obrigação é uma questão essencial para o futuro, segundo Júlia Ramalho, CEO da Estação do Saber
Os empresários serão altamente beneficiados pela entrada em vigor da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), determinada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A avaliação é de Júlia Ramalho, CEO, responsável por programas de treinamento e pelos psicólogos e parceiros da empresa, da Estação do Saber, para quem a medida é essencial nos tempos atuais de incertezas e mudanças nas relações de trabalho. “Ao olhar e cuidar da saúde mental nas organizações, as empresas também se tornarão mais produtivas, reduzindo o “presenteísmo”, uma tendência em que o trabalhador está fisicamente presente, mas mentalmente ausente do trabalho”.
A regulamentação reúne um conjunto de obrigações e responsabilidades que devem ser adotadas pelas empresas e os trabalhadores no Brasil, que passam a vigorar a partir do dia 25 de maio. Os transtornos de saúde mental são responsáveis por 38% de todas as licenças no INSS, de acordo com dados da pesquisa Panorama da Saúde Mental nas Organizações Brasileiras, realizada em 2023. no cenário de mudanças dos mercados e sociais, a expansão de problemas é inevitável. Os afastamentos no Brasil tiveram aumento, entre 2014 e 2024, de 68%, chegando a 472.328 afastamentos em 2024.
O tamanho do problema, que impacta cada vez mais os ganhos para empresas, além dos trabalhadores, é a justificativa para a necessidade de falar de saúde mental nos ambientes corporativos. Os benefícios estão vinculados à compreensão de que há, global e nacionalmente, uma grave crise de saúde mental. Com a previsão de que até 2030 a depressão será a principal doença no mundo, é necessário constatar que o problema tende a crescer continuamente.
Desafios crescentes
Líder do “ranking” de ansiedade e depressão na América Latina, o Brasil registrou, em 2015, aproximadamente 170.830 trabalhadores afastados. O número saltou para 289 mil em 2020, representando um aumento de mais de 50% em cinco anos . Em 2024, os afastamentos ultrapassaram 440 mil, mais que o dobro do registrado em 2014. Outro dado preocupante revela que 32% dos brasileiros integrados ao mercado de trabalho convivem com crises depressivas — burnout.
“Nove em cada dez colaboradores mudariam de emprego em função da saúde mental”, afirma Júlia Ramalho. Para a CEO da Estação do Saber, o dado demonstra a alta prioridade que os trabalhadores dão ao seu bem-estar mental. Há o reconhecimento de que problemas de saúde mental não afetam apenas a produtividade, mas também podem desencadear comportamentos violentos no ambiente corporativo.
Agressões no trabalho acontecem com frequência cada vez maior, como resultado da ausência de políticas de monitoramento. Em fevereiro, um funcionário foi flagrado agredindo um colega de trabalho em Balneário Camboriú. O incidente, registrado em vídeo, gerou preocupação e levantou discussões, entre os demais funcionários, sobre segurança no ambiente profissional.
O estresse extremo, aliado a condições de trabalho precárias e falta de apoio psicológico, contribui para um ambiente laboral insalubre. Um exemplo preocupante é o das forças policiais no Brasil, onde o suicídio se tornou a principal causa de morte não natural entre os agentes, superando óbitos em operações. Entre 2018 e 2023, mais de mil policiais cometeram suicídio, evidenciando a gravidade da crise de saúde mental nesse setor .
Júlia Ramalho reitera que, diante desse cenário, a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) oferece um instrumento crucial para o gerenciamento de riscos ocupacionais, incluindo os psicossociais. Atualizada pela Portaria MTE 1.419, a NR-1 estabelece diretrizes para que as empresas identifiquem, avaliem e controlem riscos relacionados à saúde mental no trabalho.
As organizações têm até 25 de maio deste ano para implementar o Programa de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), que abrange desde agentes físicos e químicos até fatores ergonômicos e psicossociais. Essa iniciativa busca prevenir assédios, violências e promover um ambiente laboral mais saudável
Solução inicial
“Um bom diagnóstico do risco psicossocial é essencial”, diz Júlia Ramalho, enfatizando a necessidade de investir em qualidade do processo acima de tudo. Critérios devem ser seguidos de forma rigorosa. Segundo ela, muitas empresas estão invadindo a privacidade de funcionários pedindo respostas para inventários de saúde mental, guardando o resultado da pesquisa.
Segundo Júlia, “não é assim que se deve entender o problema. A situação da saúde mental do trabalhador é de forum íntimo e deve ser gerenciada pelo próprio funcionário. Por outro lado, é preciso que a empresa possa, de forma anônima, conhecer os riscos existentes sobre seu ambiente e o volume de pessoas em risco.
A norma regulamentadora prevê o conceito de de co-responsabilidade: o funcionário tem responsabilidade de cuidar de sua saúde e a empresa, de garantir um ambiente mais saudável para todos.
A Estação do Saber
Em 2024, a Estação do Saber desenvolveu ISMC — Inventário de Saúde Mental Corporativa, um instrumento que preserva a privacidade do funcionário e ajuda na conscientização dos riscos de adoecimento mental.
Ao mesmo tempo, ajuda a empresa a ouvir como está seu ambiente de trabalho: são criados indicadores sobre agravantes da saúde mental ou promotores a saúde mental do trabalhador. Nesse sentido, é possivel, também, agir de forma assertiva no desenvolvimento das soluções que impactam a saúde mental corporativa.
Em resumo
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