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Por que Davos começa a debater a renda básica?

A resposta passa pelo tema do emprego

Carlos Teixeira
Consultor sobre temas do futuro

Por conveniências opacas para a sociedade, líderes políticos e econômicos mundiais avançam o olhar para as propostas de adoção da renda básica universal, como saída para alguns dos problemas futuros do planeta. Na reunião anual do Fórum Econômico Mundial, realizada em janeiro, em Davos, na Suíça, a alternativa de distribuição de recursos para segmentos da população, como a experiência da Bolsa Família brasileira, para garantir a sobrevivência em tempos de escassez de oportunidades de trabalho, foi introduzida na pauta de discussões.

Foi uma novidade na agenda de encontro anual. Não por uma súbita onda de bondade, como a benemerência que mobiliza o quase trilhonário Bill Gates, da Microsoft. Direta ou indiretamente, há o reconhecimento de que a revolução digital propagará exponencialmente efeitos negativos no curto prazo. Mais exatamente, a introdução do tema revela movimentos preventivos por conta das projeções de aumento de investimentos em automação, entre outros avanços tecnológicos. O cenário é de ausência de soluções da crise do sistema de produção global e de aumento do desemprego.

 Aceleração do desemprego

A revolução digital está em todos os lugares, promovendo mudanças em uma velocidade jamais registrada em milênios de existência do sistema produtivo. “A revolução digital mudou completamente o mundo do trabalho”, atestou, em uma palestra, Sergey Brin, co-fundador do Google. Há uma questão de sobrevivência da humanidade.

O efeito prático das transformações da teoria e da prática do trabalho será não só a eliminação do emprego, como projeta Eric Brynjolfsson, do MIT, para quem 47% dos postos de trabalho deixarão de existir em 20 anos. Também será determinante para discussões sobre alternativas ao conceito do trabalho. Algo que já vinha sendo proposto, no final dos anos 1990, pelo filósofo italiano Domenico de Masi, defensor de teses sobre o ócio criativo.

 Chega a hora, enfim e sempre tardiamente, de encarar o fim do modelo de trabalho, da forma como reconhecemos desde a revolução industrial há 200 anos. Não será um processo simples — e por isso mesmo já se deveria avaliar anteriormente. “O trabalho representa mais do que a possibilidade de ganhar a vida: é também uma fonte de significados”, assinalou, em uma das reuniões do evento, o filósofo Michael Sandel.

Grandes empregadores nacionais tendem a deixar de existir, dando espaço para mega empresas globais de serviços. Pessoas serão substituídas por máquinas e sistemas automatizados. Os vínculos serão cada vez mais tênues. Informais, com trabalho em casa. Em atividades temporárias. E exclusivamente  para quem conseguir alguma atividade remunerada.,.

O emaranhado de forças coloca duas questões centrais. Uma, social e psicológica, sobre a capacidade de adaptação de pessoas a novas rotinas de trabalho, propriamente. Outra, sobre como será o comportamento das pessoas em tempos de ócio. Os otimistas verão sinais de oportunidades, enaltecendo a capacidade de adaptação do ser humano a novas condições do ambiente. Para o có-fundador do Google, Sergey Brin, a automação pode ser encarada como força libertadora. “Se os fardos cotidianos são eliminados através das tecnologias, talvez isso nos deixe livres para pensar mais profundamente sobre o que fazemos”, avalia.  

 

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