Por que a demissão de gerentes e diretores de empresas acelerou?

Cortes em grandes quantidades de empregos de profissionais de áreas de direção e gerência são uma tendência que une fortemente os Estados Unidos e o Brasil 



Em um ano e meio, a partir de janeiro do ano passado, 143 mil diretores e gerentes de organizações de interesse público e de empresas sentiram os efeitos de transformações do mercado formal de trabalho no Brasil. Segundo dados do Novo Caged, estatística do Ministério do Trabalho sobre o comportamento do mercado formal, em 2024, as 233,6 mil admissões e 285 mil demissões da alta hierarquia e em posições de gestão de empresas, deixaram um saldo de 51 mil posições eliminadas. 

Apenas no caso da categoria de gerentes, os números do primeiro semestre deste ano revelam uma retração de 48,5 mil vagas. No segmento de áreas de apoio, o 25 mil postos de trabalho foram impactados negativamente, com pior desempenho para gerentes administrativos, financeiros e de riscos e gerentes de marketing, comercialização e vendas. A categoria de gerentes de produção e operações teve retração de 23 mil posições de trabalho, com destaque negativo para os segmentos de operações comerciais e de reparação e de turismo, alojamento e alimentação. 

As explicações para o desempenho negativo do mercado de trabalho para dirigentes de empresas, no Brasil e no exterior, podem ser encontradas em uma nova tendência dos ambientes de trabalho, que está se tornando a última “moda”: o afinamento das camadas intermediárias de gerência, também conhecido como “unbossing”. 

A mais recente proposta de reestruturação administrativa é adotada pelas principais empresas dos EUA, incluindo Bayer, Salesforce, Citigroup e Meta, segundo a revista de negócios Forbes. Os cargos de gerência intermediária representaram quase um terço das demissões em 2023 nos Estados Unidos, de acordo com dados da Live Data Technologies. A “moda” já está incorporada no mercado brasileiro.

Corte de salários

Na prática, a Forbes reconhece que contratações e transferências de funções têm, como uma das motivações, diferenças de salário. Nos Estados Unidos, o salário anual total estimado para gerentes experientes é de US$ 128 mil a US$ 240 mil, enquanto o salário médio de um gerente intermediário é de US$ 94 mil a US$ 175mil.

“Uma diminuição nos cargos de gestão bem remunerados provavelmente preocupa todos os funcionários de colarinho branco, que buscam salários mais altos, mas pode ser catastrófica para as mulheres”, assinala a revista. Uma redução repentina nos cargos mais bem remunerados disponíveis para as mulheres pode tornar ainda mais difícil para as mulheres aumentarem seus ganhos. 

A matéria chega a carregar alguns tons de rosa para os resultados da tendência, comportamento esperado, aliás, na atuação da mídia corporativa de negócios. “Para as empresas, é uma oportunidade de impulsionar a inovação e reduzir custos”. Para os trabalhadores, pode remover obstáculos que impedem seu trabalho, dando-lhes maior poder de decisão e flexibilidade”. Porém, a Forbes reconhece que o processo não é isento de desvantagens – cortar muitos cargos importantes de liderança pode deixar uma empresa desorganizada e os funcionários frustrados e sobrecarregados.

Tendência: achatamento de estrutura

De acordo com a McKinsey, achatar a estrutura de uma organização pode minimizar o microgerenciamento e permitir uma colaboração mais próxima entre os funcionários e a liderança sênior. A empresa de consultoria aponta que é mais benéfico ter menos funções gerenciais focadas em monitorar e assinar tarefas e mais funções que executam a visão da liderança sênior. 

A desestruturação – removendo o que a McKinsey chama de “hierarquias antiquadas” – está se tornando mais popular entre as empresas que priorizam a inovação porque capacita os funcionários com mais experiência não em gestão, mas no trabalho em si e permite uma tomada de decisão mais rápida, maior flexibilidade e pensamento inovador. 

A megacorporação tecnológica Meta foi uma das maiores contribuintes para as demissões da gerência intermediária. No início do ano passado, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, afirmou em uma sessão interna de perguntas e respostas que não queria “gerentes gerenciando gerentes, gerentes administrativos, gerentes administrativos, gerenciando as pessoas que estão fazendo o trabalho”. 

Logo depois, Zuckerberg anunciou o “ano de eficiência” da empresa em um memorando aos funcionários, que delineou um plano de reestruturação baseado na “remoção de várias camadas de gerenciamento”. A empresa cortou 10.000 empregos. Indicadores contestam a tese da Meta. A McKinsey descobriu que quase metade dos gerentes de nível médio dedica menos de um quarto de seu tempo de trabalho à gestão de pessoas. 

Tendências: o que mais pode estar acontecendo

  • Reestruturação: A alta taxa de desligamentos pode indicar que as empresas estão passando por processos de reestruturação, buscando otimizar seus custos e operações.
  • Automação: A redução no número de gerentes, especialmente em áreas como produção e operações, pode estar relacionada à crescente automatização de processos e à adoção de novas tecnologias.
  • Transição econômica: O capitalismo ocidental, liderado pelos Estados Unidos, passa por uma crise, que leva à concentração de renda e serve de justificativa para a adoção de novos modelos de negócios capazes de compensar a queda na demanda.
  • Mudança de Foco: A variação no saldo entre os diferentes segmentos pode indicar que as empresas estão mudando seu foco de atuação, investindo em áreas com maior potencial de crescimento e reduzindo o pessoal em outras.