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O trabalho em 2025: WEForum aponta cenário de precarização veloz

duas mulheres e um homem trabalhando em frente a vários computadores
A pandemia criou as condições para a adoção acelerada e feroz das tecnologias, que vão causar grande impactos nos empregos nos próximos anos

Segundo o Fórum Econômico Mundial, a pandemia mostrou que as empresas estão prontas para acelerar a digitalização de processos de trabalho

Carlos Plácido Teixeira
Jornalista I Radar do Futuro

A destruição de empregos está prestes a afetar, com ferocidade nunca vista antes, os trabalhadores mais vulneráveis, especialmente, mas não só, os de baixa qualificação. O alerta sobre a aceleração das mudanças no mercado de trabalho faz parte das conclusões da “Pesquisa Sobre o Futuro do Emprego de 2020”, elaborada pelo Fórum Econômico Mundial (WEForum). A consulta a lideranças empresariais de 15 setores e 26 países sobre as perspectivas do mercado de trabalho e sobre os impactos da pandemia em relação às decisões de investimento revela a crescente gravidade do cenário dos próximos anos, até 2025.

O estudo conclui que as transformações do sistema produtivo vão obrigar os governos a criar iniciativas urgentes de suporte à população que tende a perder seus empregos. São alternativas de apoio e reciclagem para que os trabalhadores voltem a ter oportunidades de acesso a recursos de subsistência. As iniciativas serão essenciais porque a pandemia mostrou que as empresas estão prontas — e decididas — para acelerar a digitalização de processos de gestão e de produção e de expansão, inclusive do controle remoto do trabalho, assim como a automação de tarefas dentro das organizações.

O vírus deu velocidade para a adoção de mudanças que seriam implantadas paulatinamente nos próximos anos. Os avanços tecnológicos, que pareciam estar na infância em edições anteriores dos relatórios, amadureceram e foram impulsionados pela recessão gerada pela Covid-19. O tom de gravidade sobre a situação tende a confirmar as projeções mais pessimistas de especialistas sobre o mercado de trabalho. Como o sociólogo do trabalho Ricardo Antunes, professor titular no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.

Reconhecido internacionalmente como um dos principais estudiosos do tema, ele avalia que há um processo em curso de degradação das condições de trabalho, dos direitos sociais, das organizações sindicais, enfim, da vida dos trabalhadores e da sociedade por completo. “Aquilo que era ainda embrião ou tendência, que o olho agudo dos estudiosos conseguia captar nos seus primeiros movimentos e alguns leitores poderiam tratar como simples conjecturas e previsões para um futuro distante, foi não apenas se confirmando, mas também revelando facetas ainda mais assustadoras e degradantes”, afirma em suas entrevistas.

O sociólogo Ricardo Antunes acredita que, se as tendências do pré-crise forem seguidas, é possível esperar um mundo do trabalho altamente permeado pela tecnologia da informação e da comunicação, mas com altos índices de informalidade, pejotização e terceirização. Crítico do senso comum que prega a saída pela uberização ou empreendedorismo, ele acredita que o efeito nos próximos anos sobre as atividades dos trabalhadores será o aumento da relações precárias dos atuais 40% de informalização para algo como 50% e 60%.

As atividades do mercado serão divididas em dois grupos. Um com profissionais altamente qualificados, que manterão seus direitos e a renda. E uma massa grande de pessoas sem qualquer proteção, dependentes dos humores do mercado para conseguir alguma remuneração que garanta a sobrevivência. Para Ricardo Antunes, a tendência em evidência, globalmente, inclusive em países asiáticos, é de uma diminuição muito grande das oportunidades de trabalho, com cortes de empregos e utilização de mecanismos de precarização.

Tendências

Entender até que ponto a automação e a demanda do trabalho humano afetarão os números atuais de empregos não representa, para o Fórum Econômico Mundial, a questão mais relevante para as empresas, governos e indivíduos. Mais que o monitoramento de indicadores, será necessário avaliar as condições em que o mercado de trabalho global pode ser apoiado para um novo equilíbrio na divisão de trabalho entre trabalhadores humanos, robôs e algoritmos”. Há o reconhecimento de que os problemas são crescentes e, conforme os números do desemprego aumentam, cada vez há maior urgência em expandir a proteção social, incluindo apoio para reciclagem tanto dos que estão empregados em atividades em risco quanto para os desempregados.

Na ausência de esforços de antecipação ou atenuação da crise, a desigualdade provavelmente será exacerbada. Os empregos ocupados por trabalhadores com salários mais baixos, mulheres e trabalhadores mais jovens foram afetados de forma mais profunda na primeira fase da contração econômica. Comparando o impacto da Crise Financeira Global de 2008 em indivíduos com níveis de educação mais baixos com os efeitos da crise do Covid-19, o impacto hoje é muito mais significativo e tem maior probabilidade de aprofundar as desigualdades existentes.

Demanda em alta

  1. Analistas e cientistas de dados
  2. Especialistas em inteligência artificial e aprendizado de máquina
  3. Especialistas em big data
  4. Especialistas em marketing digital e estrategistas
  5. Especialistas em automação de processos
  6. Profissionais de desenvolvimento de negócios
  7. Especialistas em transformação digital
  8. Analistas de segurança da informação
  9. Desenvolvedores de softwares e aplicativos
  10. Especialistas em internet das coisas

Demanda em queda

  1. Digitadores
  2. Secretárias administrativas e executivas
  3. Auxiliares de escritório, contabilidade e administração
  4. Contadores e auditores
  5. Trabalhadores de linhas de montagem e fábrica
  6. Serviços de negócios e gestores administrativos
  7. Informação ao cliente e atendentes aos clientes
  8. Gerentes gerais e operacionais
  9. Reparadores de máquinas e mecânicos
  10. Controladores de estoques

Segundo a pesquisa do WEFotum, os empregadores esperam que, até 2025, funções cada vez mais redundantes diminuirão de 15,4% do total da força de trabalho para 9%, com queda de 6,4%. As profissões emergentes crescerão de 7,8% para 13,5% de participação, com crescimento de 5,7%, do total de funcionários da base de respondentes da empresa. Com base nestes números, os responsáveis pela pesquisa fazem um cálculo com certa dose de otimismo. Eles estimam que, até 2025, 85 milhões de empregos podem ser impactados por uma mudança na divisão do trabalho entre humanos e máquinas, enquanto 97 milhões podem ganhar novas funções que são mais adaptadas para a nova divisão de trabalho entre humanos, máquinas e algoritmos.

Na prática, isso significa o corte de milhões de empregos de secretárias, operadores de máquinas, auxiliares de escritórios, contadores e auditores. Compensado pelo treinamento deste mesmo pessoal para assumir funções como desenvolvedores de softwares, especialistas em internet das coisas, em automação e segurança da informação. Quarenta e três por cento das empresas pesquisadas indicam que vão reduzir sua força de trabalho devido à integração de tecnologia, 41% planejam expandir o uso de contratados para tarefas especializadas e 34% planejam expandir sua força de trabalho devido à integração de tecnologia. 

Em 2025, o tempo gasto em tarefas atuais no trabalho por humanos e máquinas será igual. Uma parcela significativa das empresas também espera fazer mudanças nos locais, em suas cadeias de valor e no tamanho de sua força de trabalho devido a fatores além da tecnologia nos próximos cinco anos. De acordo com o estudo, “na próxima década, uma parcela não desprezível dos empregos recém-criados será de ocupações totalmente novas ou de ocupações existentes passando por transformações significativas em termos de conteúdo e requisitos de habilidades”. As funções com demanda crescente incluem analistas de dados e cientistas, especialistas em IA e aprendizado de máquina, engenheiros de robótica, desenvolvedores de software e aplicativos e especialistas em transformação digital.

Em algumas dessas profissões emergentes serão mais fáceis de entrar do que outras. Isso inclui dados e inteligência artificial, desenvolvimento de produto e computação em nuvem, onde as transições “não requerem uma combinação completa de habilidades entre a origem e a ocupação de destino”, de acordo com o relatório. Mas alguns grupos de empregos de amanhã permanecem mais “fechados” e tendem a recrutar pessoal com um conjunto de habilidades muito específico.

Adaptações

O futuro do trabalho também já chegou para a grande maioria da força de trabalho de colarinho branco online. Oitenta e quatro por cento dos empregadores estão preparados para digitalizar rapidamente os processos de trabalho, incluindo uma expansão significativa do trabalho remoto – com potencial para mover 44% de sua força de trabalho para operar remotamente. Para lidar com as preocupações sobre produtividade e bem-estar, cerca de um terço de todos os empregadores espera também tomar medidas para criar um senso de comunidade, conexão e pertencimento entre os funcionários por meio de ferramentas digitais e para enfrentar os desafios de bem-estar colocados pela mudança para trabalho remoto.

Na corrida pela requalificação, a aprendizagem e a formação online aumentam, mas parecem diferentes para quem trabalha e para quem está desempregado. Houve um aumento de quatro vezes no número de indivíduos que procuram oportunidades de aprendizagem online por sua própria iniciativa. Em contrapartida, os empregadores ampliaram em cinco vezes a oferta das oportunidades de formação. E um aumento de nove vezes nas matrículas para alunos que acessam programas governamentais de atualização.

Os empregados estão dando maior ênfase aos cursos de desenvolvimento pessoal, que tiveram um crescimento de 88% entre essa população. Aqueles que estão desempregados deram maior ênfase ao aprendizado de habilidades digitais, como análise de dados, ciência da computação e tecnologia da informação.

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