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"Exige-se repensar, sem uma visão radical de economias autárquicas, o desenvolvimento da manufatura, de maneira moderna, com políticas industriais eficazes". Foto: Pixabay
“Exige-se repensar, sem uma visão radical de economias autárquicas, o desenvolvimento da manufatura, de maneira moderna, com políticas industriais eficazes”. Foto: Pixabay

Fernando Valente Pimentel *

A pandemia de Covid-19, além dos gravíssimos danos à saúde, ameaça à vida e estagnação econômica, fez o mundo despertar para uma questão complexa da globalização: a excessiva dependência de um país para a oferta de uma série de insumos e produtos essenciais. O tema, que já vinha sendo discutido de modo crescente na agenda da sustentabilidade e das possibilidades que estão se abrindo com o advento da Indústria 4.0, ganha dimensões muito mais claras nesta guerra da humanidade contra o terrível micro-organismo.

O deslocamento de numerosas cadeias produtivas para a Ásia, com destaque para a China, fenômeno que vem se aprofundando nos últimos 30 anos, escancara agora a vulnerabilidade das nações do Ocidente, dentre elas o Brasil. Várias já discutem e começam a se organizar para retomar a fabricação local em áreas estratégicas, de saúde, defesa, inteligência e tecnologia, na esteira da percepção de que perderam ou tiveram muito reduzida a capacidade de produzir internamente.

Tal consciência, que não precisaria de um episódio tão grave para despertar, mostra o exagero ocorrido no processo de transferência industrial à Ásia. Assim, exige-se repensar, sem uma visão radical de economias autárquicas, o desenvolvimento da manufatura, de maneira moderna, com políticas industriais eficazes, que proporcionem segurança e uma base estrutural para o bem-estar de cada povo.

A indústria têxtil e de confecção brasileira está demonstrando a importância dessa reorientação das cadeias globais de suprimentos. Em dois meses, teve a capacidade de converter e adaptar suas plantas para fabricar rapidamente máscaras, jalecos, aventais e outros equipamentos de proteção individual, essenciais para atender e proporcionar mais segurança aos profissionais da saúde e à população na guerra contra o novo coronavírus. Ou seja, algo muito importante para não ficarmos à mercê da produção externa, que foi até sequestrada por governos no esforço para cuidar de suas populações.

Uma pandemia como a que enfrentamos é dolorosa demais e acarreta muitas perdas. O Brasil não pode sair dela sem agregar conhecimento, aprendizado e sabedoria no tocante aos equívocos referentes à desindustrialização. Torna-se evidente que precisamos de uma política industrial vigorosa, fundamentada em inovação, sustentabilidade e no desenvolvimento tecnológico inerente à Manufatura Avançada, que eleve a indústria de transformação a uma participação de pelo menos 20% no PIB nacional, ante os 11% atuais, num horizonte de 20 anos.

Ficou muito clara neste momento, embora muitos viessem há tempos dando de ombros para a indústria, a importância de termos este setor forte e estruturado. Não se trata de subsídios ou protecionismo, mas sim de trabalharmos na redução do “custo Brasil”, que gera ônus adicionais de 1,5 trilhão de reais por ano à nossa produção em relação à média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), conforme estudo do Boston Consulting Group e Movimento Brasil Competitivo (MBC), do qual participaram a Abit e outras 12 entidades.

Em curto prazo, não podemos perder de vista a paralisia mundial presente e o risco de uma invasão de produtos importados a preço de liquidação, devido às condições peculiares do mercado global, de muita oferta e baixa demanda. Precisamos de muito foco nessa questão, para que a necessária reindustrialização não seja ainda mais dificultada pela conjuntura atípica que vivemos neste momento.

A indústria têxtil e de confecção brasileira, uma das cinco maiores do mundo, que emprega diretamente 1,5 milhão de pessoas, a despeito das dificuldades, mantém-se estruturada e organizada, provando isso com sua capacidade de ação e reação ante a pandemia. Está preparada para a nova tendência de reposicionamento da produção global, que poderá ocorrer.

Para isso, como toda a manufatura, precisa de condições adequadas a um novo salto de investimentos, combinado com inovação, design, criatividade, sustentabilidade e geração intensiva de empregos, vocações peculiares ao setor e sua cadeia de valor, desde a produção de fibras naturais e sintéticas, fios, tecidos, confecções, linhas e aviamentos, até a distribuição e consumo. São fatores decisivos para recuperarmos o enorme contingente de postos de trabalho já perdidos e os que ainda poderão ser fechados.

Tem jeito sim. Só depende de nós!


  • Fernando Valente Pimentel é presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

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