“Hoje sou motorista de Uber”, conta o engenheiro e publicitário Renato Zahler, de 35 anos, enquanto faz uma corrida para ganhar pouco mais de seis reais. Bom, pelo menos é uma corrida para sobreviver em tempos de pandemia, reconhece, com algum constrangimento. Os usuários da plataforma são raros. Afinal, receberam autorização para trabalhar em casa. Então, qualquer oportunidade de levar um passageiro pode ser um bom negócio. Há o risco de pegar o vírus, ficar sem trabalhar. Não ter como pagar o aluguel do carro. “Mas fazer o que? Tenho de levar dinheiro para casa. Agradeço à sorte por ter levado um “pé na bunda” tempos atrás. Não fosse isso, talvez tivesse esposa e filhos com quem me preocupar”, diz.
Pouco menos de dez anos antes, Renato acreditou que a vida poderia melhorar. Imaginou e concretizou uma mudança de profissão. No início de 2011, Renato Zahler decide que a paciência com a publicidade se esgotou. A atividade parece sem futuro para quem, como ele, deseja uma vida com um mínimo de conforto, pelo menos. A relação com o cotidiano de agências, com a pressão de tempo e por criatividade, exigências cada vez maiores e salários baixos não tem mais sentido. As empresas de comunicação sentem a influência crescente da mídia digital. E publicitários sofrem as consequências.
Pensou em fazer um curso de marketing. “Mas o sonho de sucesso com um trabalho criativo morreu”, argumenta. Era o momento de buscar alternativas. Quem sabe, tentar a engenharia civil, atividade que, então, já no primeiro ano do governo de Dilma Rousseff atravessa forte expansão, decorrente da combinação de acontecimentos altamente positivos. Aos olhos do mundo, o Brasil parece viver uma fase dos sonhos, de fortalecimento das suas forças. Em 2010, o produto interno bruto teve crescimento de 7,5%, marcando a superação da crise global de dois anos antes.
A imprensa falava no surgimento de uma nova classe média, os emergentes, que se beneficiavam de aumentos do salário mínimo e de novas demandas por serviços. O mercado interno mostrava resultados surpreendentes. O País colhia, em particular, os lucros das descobertas de petróleo na região do pré-sal. E o setor de construção vivia o seu melhor momento em décadas, com projetos que abrangiam da construção de moradias populares, do programa “Minha Casa, Minha Vida”, à retomada da indústria naval, com obras de novos estaleiros.
Com ajuda do programa de financiamento estudantil do governo federal, Renato Zahler passou e fez o curso de engenharia à noite. Superou as matérias de cálculo, álgebra linear. Se dedicou, mantendo um pé ainda na propaganda, fazendo frilas, e estudando à noite. Foram cinco anos de dedicação. E de aflição quando, a partir de 2013 o quadro começou a ficar meio estranho. Primeiro, os protestos contra a Copa. As acusações de corrupção. A lava-jato envolvendo a Petrobrás e empreiteiras. A engenharia civil entrou em crise.